A escolha do general Carlos Alberto dos Santos Cruz para a
Secretaria de Governo do futuro presidente, Jair Bolsonaro,
consolidou a inédita marca militar da próxima administração.
Secretaria de Governo do futuro presidente, Jair Bolsonaro,
consolidou a inédita marca militar da próxima administração.
Considerando-se que um de seus antecessores foi o deputado
Geddel Vieira Lima, hoje encarcerado, a melhoria de padrão
será indiscutível. Santos Cruz junta-se aos generais da reserva
Hamilton Mourão (vice-presidente) e Augusto Heleno
(Segurança Institucional) na equipe que trabalhará no Planalto. Bolsonaro, o chefe de todos eles, é um capitão reformado que
chegou à Presidência pelo voto.
Geddel Vieira Lima, hoje encarcerado, a melhoria de padrão
será indiscutível. Santos Cruz junta-se aos generais da reserva
Hamilton Mourão (vice-presidente) e Augusto Heleno
(Segurança Institucional) na equipe que trabalhará no Planalto. Bolsonaro, o chefe de todos eles, é um capitão reformado que
chegou à Presidência pelo voto.
Essa circunstância desautoriza qualquer comparação automática
com os poderes palacianos durante a ditadura.
com os poderes palacianos durante a ditadura.
Os generais de Bolsonaro comandaram tropas das Nações Unidas
no Haiti e no Congo.
no Haiti e no Congo.
Os da ditadura comandaram mesas em representações no e
xterior. Deles, só Castello Branco e Golbery do Couto e Silva
estiveram na Segunda Guerra. (Golbery não ouviu um só tiro.)
xterior. Deles, só Castello Branco e Golbery do Couto e Silva
estiveram na Segunda Guerra. (Golbery não ouviu um só tiro.)
Forçando-se a mão, pode-se comparar a presença de Santos
Cruz na Secretaria de Governo com a ida de Golbery para a
chefia do Gabinete Civil do presidente Ernesto Geisel, em 1974.
Cruz na Secretaria de Governo com a ida de Golbery para a
chefia do Gabinete Civil do presidente Ernesto Geisel, em 1974.
Contudo, há duas diferenças. Golbery nunca foi general no
serviço ativo, pois foi para a reserva em 1962 como coronel e
ganhou a promoção automática que a lei da época lhe
assegurava. Depois de criar e dirigir o SNI, ele foi para o
Tribunal de Contas e de 1969 ao início de 1974 esteve na
iniciativa privada, presidindo a filial brasileira da Dow
Química.
serviço ativo, pois foi para a reserva em 1962 como coronel e
ganhou a promoção automática que a lei da época lhe
assegurava. Depois de criar e dirigir o SNI, ele foi para o
Tribunal de Contas e de 1969 ao início de 1974 esteve na
iniciativa privada, presidindo a filial brasileira da Dow
Química.
Os generais da ditadura viveram a anarquia e rebeliões
políticas do século passado. Costa e Silva foi preso em 1922
e Golbery, detido em 1955, redigiu todos os manifestos da
indisciplina de coronéis e generais das décadas de 50 e 60.
políticas do século passado. Costa e Silva foi preso em 1922
e Golbery, detido em 1955, redigiu todos os manifestos da
indisciplina de coronéis e generais das décadas de 50 e 60.
Médici e Geisel rebelaram-se em 30. Castello Branco, nunca.
Todos participaram da deposição de João Goulart. Desde
1950, as Forças Armadas estavam publicamente divididas
por motivos políticos. Hoje essa divisão não existe.
Todos participaram da deposição de João Goulart. Desde
1950, as Forças Armadas estavam publicamente divididas
por motivos políticos. Hoje essa divisão não existe.
Bolsonaro e seus generais vieram de outra cepa, num período
de profissionalismo e pacificação política dos quartéis. Ainda
assim, em 1978, o capitão Augusto Heleno, ex-ajudante de
ordens do general Sylvio Frota, viu-se observado, em pelo
menos um documento do SNI. Em 2008, como comandante
militar da Amazônia, ele criticou a política indigenista e foi
aconselhado a evitar o assunto.
de profissionalismo e pacificação política dos quartéis. Ainda
assim, em 1978, o capitão Augusto Heleno, ex-ajudante de
ordens do general Sylvio Frota, viu-se observado, em pelo
menos um documento do SNI. Em 2008, como comandante
militar da Amazônia, ele criticou a política indigenista e foi
aconselhado a evitar o assunto.
Há três anos, depois de um pronunciamento político, o general
Hamilton Mourão perdeu a prestigiosa chefia da tropa do Sul.
Ele mesmo reconheceu, citando o ex-comandante Enzo Peri,
que "cada um tem que saber o tamanho de sua cadeira", e
extrapolara o tamanho da sua.
Hamilton Mourão perdeu a prestigiosa chefia da tropa do Sul.
Ele mesmo reconheceu, citando o ex-comandante Enzo Peri,
que "cada um tem que saber o tamanho de sua cadeira", e
extrapolara o tamanho da sua.
Já o capitão Bolsonaro tomou uma cadeia por ter escrito um
artigo defendendo o aumento do soldo dos militares e foi
excluído do quadro da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
em 1987, por ter desenhado num croqui o que poderia ser a
colocação de uma bomba na adutora do Guandu.
artigo defendendo o aumento do soldo dos militares e foi
excluído do quadro da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
em 1987, por ter desenhado num croqui o que poderia ser a
colocação de uma bomba na adutora do Guandu.
Ele negava a autoria do desenho. Uma perícia confirmou-a e
outra, não. Mais tarde, o capitão foi absolvido pelo Superior
Tribunal Militar, por voto de minerva em favor do réu.
outra, não. Mais tarde, o capitão foi absolvido pelo Superior
Tribunal Militar, por voto de minerva em favor do réu.
A presença de militares da reserva no coração do Planalto
durante um governo eleito é jogo jogado, desde que cada
um saiba o tamanho de sua cadeira.
durante um governo eleito é jogo jogado, desde que cada
um saiba o tamanho de sua cadeira.
Um dos maiores secretários de Estado do governo americano
foi o general George Marshall. Quando ele era chefe do
Estado-Maior Conjunto, o general Douglas MacArthur
desafiou o presidente Harry Truman. Comandando a tropa
que guerreava na Coreia, tinha uma cadeira enorme. Marshall
defendeu sua demissão, para confirmar a primazia do poder
civil. A cadeira de Truman era maior.
foi o general George Marshall. Quando ele era chefe do
Estado-Maior Conjunto, o general Douglas MacArthur
desafiou o presidente Harry Truman. Comandando a tropa
que guerreava na Coreia, tinha uma cadeira enorme. Marshall
defendeu sua demissão, para confirmar a primazia do poder
civil. A cadeira de Truman era maior.
Elio Gaspari, Folha de São Paulo