terça-feira, 11 de setembro de 2018

Lula interferia nos fundos de pensão desde a década de 90, diz Palocci

Lula chega à PF em São Paulo para fazer exame de corpo de delito, no sábado, 7. 
FOTO FELIPE RAU/ESTADÃO
O ex-ministro Antônio Palocci disse em depoimento à força-tarefa da Operação Greenfield que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva interferia nos investimentos dos fundos de pensão desde a década de 1990, quando ainda atuava no meio sindical. Ao Ministério Público Federal (MPF), o ex-ministro afirmou que a partir de 2004, já no poder, o PT começou a pedir vantagem indevidas a empresas interessadas em receber aportes dos fundos de empresas públicas.
Os pedidos, diz ele, eram feitos pelos tesoureiros do partido. Delúbio Soares, Paulo Ferreira e João Vaccari exerceram a função em períodos diferentes. “O presidente Lula expedia determinações para colocar recursos em empreendimentos de interesse do governo. Que nem sempre era vantagem indevida, mas apenas para atender vantagem política”, diz trecho do depoimento de Palocci aos procuradores da força-tarefa que apura desvios nos maiores fundos de pensão do País. O depoimento não detalha a atuação de Lula nos fundos antes de chegar à Presidência.

Palocci fechou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal e vem prestando depoimentos em investigações e processos em andamento. Aos procuradores da Greenfield, o foco sobre o FIP Sondas, acionista da Sete Brasil, empresa criada à época da descoberta do pré-sal para alugar sondas para a Petrobras. Os fundos de pensão do Banco do Brasil (Previ), da Caixa (Funcef) e da Petrobras (Petros) eram os principais cotistas do FIP.
“No governo Lula, o pré-sal foi enxergado como um passaporte para o futuro, que foi um bilhete premiado no fim do governo. Que o clima era de delírio político”, explicou Palocci sobre os interesses do PT no pré-sal e na construção das sondas.
Esse cenário de “delírio político”, disse o ex-ministro, fez com que Lula tivesse um momento de atuação “raro” que resultou em um “descuido” da parte jurídica por que o então presidente começou a atuar diretamente nos pedidos de “vantagens indevidas”.
Aos procuradores, o delator narrou uma reunião realizada no “fim de 2009 ou começo de 2010”, no Palácio do Alvorada, em Brasília, em que Lula teria dito a ele e a ex-presidente Dilma Rousseff que o FIP tinha que garantir o “futuro” do PT. “Foi uma reunião muito curta e os demais presentes ficaram perplexos com a conduta do presidente Lula”.
Sobre os gestores dos fundos à época, Palocci disse que eles tinham conhecimento das irregularidades. A ex-presidente Dilma Rousseff, disse Palocci, se encontrou com os presidentes dos fundos que seriam acionistas no FIP Sondas para “forçar o investimento. Segundo Palocci, o projeto da construção das sondas tinha vários problemas, entre eles, a falta de estudo técnico, “o projeto era mirabolante, havia motivação política e necessidade de arrecadar propina”.
Zelotes e Belo Monte. Em seu depoimento, Palocci também citou que Lula tinha conhecimento e atuou em ilíticos práticas nos casos envolvendo a usina hidrelétrica de Belo Monte e na compra de caças pela Força Aérea. Por causa da citação, o MPF pediu para que o ex-ministro seja ouvido na ação penal derivada da operação Zelotes que apura possível tráfico de influência na compra dos caças.
O juiz Vallisney de Souza Oliveira anexou o depoimento do FIP Sondas no processo dos caças e autorizou o depoimento de Palocci para 20 de novembro.
A reportagem procurou a defesa do ex-presidente, que ainda não se manifestou sobre o assunto.

Fabio Serapião, O Estado de São Paulo