Um dos principais conselheiros do candidato do PSL Jair Bolsonaro responsabilizou “parte da imprensa” pelo atentado contra o presidenciável, que foi esfaqueado gravemente durante um evento de campanha na quinta (6), em Juiz de Fora.
O general da reserva Augusto Heleno, que só não foi vice de Bolsonaro porque filiou-se a um partido que recusou apoiar o deputado, divulgou um áudio a colaboradores da campanha do PSL. “O bárbaro atentado sofrido ontem por Jair Bolsonaro é o desfecho de uma campanha diária, obstinada, que parte da imprensa desencadeou contra ele”, afirma.
"Injustamente, tacharam-no de despreparado, violento, inimigo da pátria e amante da ditadura. É um vale-tudo para desconstruí-lo”, disse. Com isso, Heleno condensa o discurso que filhos do capitão reformado do Exército e outros apoiadores têm feito de forma pontual desde o atentado, ocorrido no fim da tarde da quinta.
Dando eco à retórica de eleitores bolsonaristas, Heleno disse que o homem preso pela facada, Adelio Bispo de Oliveira, “não é um desequilibrado”. “É um radical irresponsável, fiel a seus ideais marxistas. Um invulgar auxiliar de garçom que, poucas horas depois do crime, apresenta uma equipe de advogados para defendê-lo”, afirmou, insinuando uma trama mais ampla do que a teoria de um ataque solitário.
Para Heleno, “a esquerda não admite a alternância de poder” que seria representada pelo candidato do PSL. O militar, contudo, encerra sua mensagem com uma nota mais ponderada, pedindo calma aos apoiadores de Bolsonaro.
“O mais importante é que não percam o entusiasmo. Rogo que não se deixem levar, em nenhum momento, pelo desânimo e a emoção. Mantenham a calma e a ponderação. A paz e a conciliação darão ao nosso futuro presidente as condições para construir um novo Brasil”, disse.
A fala é vista pelo círculo mais próximo de colaboradores de Bolsonaro como uma baliza para as manifestações públicas daqui em diante. Heleno, que foi comandante das tropas de paz no Haiti e chefe militar da Amazônia, é uma das vozes mais respeitadas nos meios militares.
Sempre comprou brigas públicas com o PT, e foi para a reserva muito devido a elas. Ele aconselha Bolsonaro e é responsável por, com outros colaboradores, montar linhas gerais do que seria um programa de governo em caso de vitória do deputado. Seu nome é dado como certo para um eventual ministério nessa hipótese.
Por ora, sempre que tiver condições, Bolsonaro irá se manifestar por meio de redes sociais, já que seu estado de saúde virtualmente o tirou da campanha de rua no primeiro turno. Assim, seus lugares-tenentes terão de tocar a campanha no dia a dia, com o general da reserva Hamilton Mourão, seu vice, assumindo algumas das agendas públicas.
Nada disso está totalmente definido, contudo. Reuniões em São Paulo e no Rio deverão, ao longo do fim de semana, modular a tática.
Além de apresentar Bolsonaro como uma vítima de intolerância, haverá a repetição de que o atentado colocou o deputado no segundo turno. É, acima de tudo, uma forma de manter coesa a base de apoio bolsonarista durante a crise e também de tentar apresentar um fato consumado a eleitores indecisos