BUENOS AIRES - Os ex-presidentes da Argentina Néstor Kirchner e da Venezuela Hugo Chávez lucraram US$ 50 milhões com um esquema de corrupção envolvendo títulos públicos argentinos e compra e venda de dólares no mercado paralelo.
A revelação foi feita por Claudio Uberti, ex-chefe de uma autarquia que controla licitações públicas na Argentina que foi representante do ex-ministro do Planejamento, Julio De Vido, na Venezuela. Uberti fez um acordo de delação premiada com o juiz Claudio Bonadio, que investiga corrupção envolvendo os Kirchners.
Segundo revelaram os jornais Clarín e La Nación, Uberti afirmou que, entre 2005 e 2006, Kirchner pediu dinheiro a Chávez. Na época, a Venezuela vivia o auge de sua produção de petróleo e patrocinava regimes amigos na América do Sul.
A Venezuela comprou títulos emitidos pela Argentina, em janeiro de 2002, para compensar as vítimas do confisco de depósitos em dólares no chamado “corralón”. Os argentinos vendiam os títulos a preços mais baratos para os venezuelanos. Por quase dois anos, a Venezuela comprou títulos argentinos, um total de quase US$ 1,8 bilhão.
Kirchner usava o dinheiro para recompor reservas internacionais, consumidas durante crises sequenciais. Mas a negociação não era apenas camaradagem. A Venezuela repassava os papéis argentinos para bancos venezuelanos, que revendiam os títulos para investidores da Venezuela com até 25% de ganho. Outra parte dos títulos era vendida no mercado internacional por um valor maior do que o adquirido.
Os venezuelanos então vendiam, no mercado paralelo, os dólares recebidos com a liquidação dos títulos, que tinham um valor muito mais alto que o câmbio oficial. A diferença era paga em bolívares, que depois eram usados para comprar mais dólares no mercado oficial, a um valor muito abaixo do cobrado no paralelo.
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Tudo era feito com aval de kirchneristas e chavistas. Uberti disse que, em uma operação de venda de US$ 500 milhões, o lucro foi de US$ 100 milhões. A metade da operação ficou com intermediários, como bancos e corretores. Os outros 50% ficaram com Chávez e Néstor Kirchner.
Segundo Uberti, Kirchner fez questão de receber sua parte em dinheiro, que foi enviado de avião para Buenos Aires. Ele afirma que o dinheiro chegou em malas no aeroporto e foi levado até a casa de Néstor.
O Estado de São Paulo