Que o atentado a Jair Bolsonaro (PSL) terá consequências na campanha presidencial e na eleição do próximo presidente, disso não restam dúvidas. Tanto é que todos os candidatos suspenderam suas atividades um dia depois de o deputado federal tomar a facada, em Juiz de Fora, ser internado e socorrido na mesma cidade, e transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, na sexta-feira, quando se comemorou a Independência do País. Mas o que se pergunta, hoje, é: quais consequências, quem perderá votos com o episódio e quem ganhará?
Algumas hipóteses devem ser consideradas. A primeira, é que passada a comoção do ataque que vitimou Bolsonaro, os candidatos aumentem os apelos contrários à violência e à radicalização do processo político, com maior humanização da campanha. Podem, assim, fazer uma tentativa de neutralizar uma das principais bandeiras de Bolsonaro, que é a defesa do porte de armas de fogo. Bandeira essa que tem capturado o voto de uma parcela considerável da população.
É possível também que o atentado fortaleça ainda mais a ideia de uma polarização entre Bolsonaro e o PT. “Bolsonaro poderia se apresentar como o único nome que pode botar ordem no País; o candidato petista, que é o único capaz de retomar a busca do Estado do Bem Estar Social”, diz o analista político Antonio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que acompanhou a Constituinte, todas as eleições da redemocratização para cá e vive o dia a dia do Congresso e dos partidos políticos.
Deve-se então dizer que o segundo turno será entre Bolsonaro e o candidato do PT? Pode ser. Mas outras hipóteses também se abrem. Candidatos mais ao centro, como Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede), ou mesmo de centro-esquerda, a exemplo de Ciro Gomes (PDT), poderiam tirar proveito da disputa entre os dois polos. Argumentariam que a radicalização, além de não levar a lugar nenhum, a não ser a tragédias como a do atentado, pode inviabilizar o futuro do País. Isso poderia fazer com que o eleitor que ainda não se transformou no eleitor fundamentalista, para o qual só existe um candidato e sua proposta, comece a se afastar dos extremos, à procura de alguém mais moderado.
É possível ainda que o voto útil, quando o eleitor procura se identificar com aquele que pode derrotar o candidato que, na opinião dele, se posiciona numa situação oposta ao que pensa, venha a aparecer já no primeiro turno, e não no segundo, como tradicionalmente tem ocorrido, diz Queiroz. Sairá na frente aquele candidato que conseguir passar para a população a ideia de que é um conciliador, que evita os extremos, que procurará fazer um governo voltado para todos e não apenas para uns.
No caso dessa última hipótese, se ela vier a vingar, tanto Bolsonaro quanto o candidato do PT tenderiam a perder terreno e poderiam se ver ameaçados por Ciro, Marina ou Alckmin, que se mostraram competitivos. Nesse caso, uma propaganda na TV que transmita a ideia de rejeição aos opostos será fundamental. Quem conseguir passar essa mensagem poderá ver os resultados um pouco à frente.
Nesta altura, o eleitor já sabe um pouco a respeito de quem é quem na disputa presidencial. A não ser uma camada pequena, que talvez ache que é preciso eliminar fisicamente o adversário, a maioria esmagadora certamente esperará por ideias que possam representar um mundo melhor, com desenvolvimento econômico, emprego, educação, saúde e transporte de qualidade e segurança que permita ir para as ruas com tranquilidade.
O Estado de São Paulo