Um após outro, os candidatos à Presidência da República repetem que é preciso garantir o crescimento da economia e da renda. Mas não dizem como.
Nem são capazes de identificar uma das principais travas para a retomada da atividade econômica, que é o alto endividamento, não só do setor público (déficit fiscal acumulado), mas, também, do setor privado.
Quando vagam sobre o tema, pensam como se o endividamento do setor privado estivesse concentrado em bancos e cartões de crédito. E, no entanto, nesse setor a inadimplência é até reduzida. Como mostram os últimos números do Banco Central, os atrasos por mais de 90 dias no resgate de dívidas com os bancos não ultrapassam os 5% dos tomadores de crédito com recursos livres.
Os números da Serasa são mais enfáticos e mais impressionantes. Nada menos que 61,6 milhões de brasileiros (ou de CPFs), ou 40,3% da população adulta estão inadimplentes.
As dívidas em atraso permeiam a sociedade. É empresa que deve para fornecedores, para funcionários, para a Receita Federal, para o INSS, para as distribuidoras de energia, para operadora de telefone e assim vai. Grande parte da população deve no crediário, nos impostos, na conta de luz, na de telefone e nos empréstimos feitos com familiares, amigos e compadres.
O alto endividamento emperra tudo. Emperra o consumo tanto pela parte do devedor quanto do credor (que não recebe e não pode gastar) e emperra a tomada de novos empréstimos. A ideia de que a retomada do crescimento econômico depende apenas do deslanche do crédito bancário e da redução dos juros é simplista e, se colocada em prática, fadada ao fracasso.
O candidato do PDT, Ciro Gomes, chegou a sugerir que, se for eleito, estimulará grande operação de renegociação da dívida privada, tanto a contraída com os bancos como a contraída com outros agentes do setor privado.
A redução de dívidas e o alongamento dos prazos às vezes são impostos até mesmo pela Justiça, como acontece nos casos de recuperação judicial. Mas não podem ser amplos e indiscriminados, por duas razões. Primeira, porque estimulam novos calotes, como a prática demonstra. E, segunda, porque enfraquecem os credores que também serão obrigados tanto a reduzir seu consumo como, também, a retrair seus financiamentos formais ou informais.
A saída é mesmo o crescimento econômico e da renda. E, no momento, são principalmente dois os setores em condições de proporcionar tração: o agronegócio e o petróleo.
Por trás do futuro do agronegócio está a impressionante demanda da China e dos asiáticos por alimentos. E é preciso aproveitar essa onda. Por trás do futuro do petróleo também está a demanda global por energia. Com um decisivo e gravíssimo porém: a era do petróleo está no fim. A partir de 2030 a maioria dos veículos que chegarão ao mercado será propulsionada por motores elétricos e não por motores a combustíveis fósseis e, a partir de 2040, a demanda por petróleo cairá rapidamente. O Brasil tem pouco tempo para explorar essas riquezas. Infelizmente, o governo mostra pouca pressa.
CONFIRA
» Desinflação em agosto
Surpresa na inflação de agosto: queda do IPCA de 0,09% em relação a julho. Duas observações sobre esse comportamento dos preços: (1) estão esgotados os efeitos inflacionários causados pela crise do abastecimento produzida pela paralisação dos caminhoneiros ocorrida em maio; e, (2) apesar da disparada do dólar em reais (de 23,20% em 2018 até esta quinta-feira), não foi detectado nenhum impacto relevante dessa alta sobre a inflação. Mas é provável que esse efeito comece a aparecer neste resto de ano.
O Estado de São Paulo