quarta-feira, 6 de junho de 2018

Estrangeiros tiram US$ 12,3 bi de países emergentes em maio


Os países emergentes tiveram saída líquida de capital estrangeiro de US$ 12,3 bilhões em maio, a maior fuga de investimentos desde novembro de 2016, quando a eleição de Donald Trump gerou instabilidade global.
Segundo o relatório do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), a saída de recursos deve-se a uma combinação de fatores, alguns locais —como problemas de financiamento externo na Argentina e na Turquia e paralisação dos caminhoneiros no Brasil— e outros globais —como a nova rodada de tarifas dos EUA e ameaças de retaliações e incerteza política na Espanha e Itália, que levam à valorização da moeda americana.
Para completar, a economia mundial vive um cenário de aumento dos juros nos EUA e dólar forte.
Com isso, a entrada líquida de recursos em mercados emergentes desde o início do ano caiu para US$ 46 bilhões, muito abaixo dos US$ 134 bilhões registrados no mesmo período de 2017, segundo o IIF, sinalizando que as moedas dos emergentes podem continuar se desvalorizando. No ano, o peso argentino recua 25,39%, a lira turca, 17,63%, e o real teve desvalorização de 13,17%
Nesta terça-feira (6), o peso mexicano desabou após o país anunciar retaliações contra as tarifas americanas sobre aço e alumínio, demonstrando como a guerra comercial está atingindo os emergentes.
O México anunciou tarifas de até 25% em produtos siderúrgicos, agrícolas, carne de porco, uísque bourbon e queijo. Os EUA haviam anunciado na semana passada que imporiam as tarifas de 25% sobre aço e 10% sobre alumínio do Canadá, México e UE.
Após as retaliações, o peso mexicano recuou 1,76% e acumula perda de 13% desde meados de abril.
A percepção do mercado é que o México tem muito mais a perder com a guerra comercial contra os EUA – 80% das exportações mexicanas se destinam ao mercado americano, e 16% das americanas têm como destino o México.
A rodada de retaliações vai continuar. O Canadá vai impor sobretaxas a partir de 1º de julho, e a União Europeia também anunciou tarifas sobre vários produtos americanos.
"Começou uma guerra comercial, e as retaliações vieram para ficar", afirma Pablo Bentes, diretor-executivo do escritório Steptoe and Johnson (EUA). "E a retaliação prejudica o próprio país que a aplica, as sobretaxas levam a aumento de preços, desabastecimento."
O Brasil concordou com o estabelecimento de uma cota para exportação de aço para os EUA, para escapar da tarifa de 25%. Segundo o "acordo", que o governo brasileiro afirma ter sido unilateral, o Brasil pode exportar o equivalente à média vendida nos três últimos anos no caso dos produtos semiacabados de aço, e 30% a menos da média no caso dos acabados. A indústria de alumínio nacional resolveu aceitar a tarifa de 10% em vez de tentar negociar uma cota.
 
Segundo a Folha apurou, a cota está esgotada em 18 das 54 categorias de produtos siderúrgicos exportados pelo Brasil —isso significa que o país não poderá mais exportar esses produtos até o fim do ano.
Reunião entre os ministros de finanças dos países do G7 deste ano foi pautada
pelas novas tarifas impostas pelos EUA - Ben Nelms/Folhapress
De acordo com o IIF, a saída de capitais atingiu igualmente investimentos em ações e em títulos da dívida dos países emergentes. Mas a instituição afirma que a resiliência da China é um alento diante do cenário desafiador para emergentes, com alta do petróleo, do dólar e dos juros.
"Olhando para a frente, muito vai depender de como vai evoluir o comércio global, um aumento nas tensões pode aumentar a demanda por ativos denominados em dólar", diz o IIF.
"Embora a deterioração projetada no deficit dos EUA deva limitar a alta do dólar, nossas estimativas apontam que uma apreciação de 10% da meoda poderia reduzir os fluxos anuais para mercados emergentes em US$ 95 bilhões."
A situação pode piorar. No dia 15, a Casa Branca vai anunciar a lista de US$ 50 bilhões em exportações chinesas que serão alvo de sobretaxas, por supostas violações de propriedade intelectual. Pequim tenta costurar um acordo de última hora, em que se comprometeria com a compra de um determinado valor de produtos americanos como forma de reduzir o déficit de US$ 375 bilhões entre os dois países. Caso não chegue a um acordo, a China já informou à OMC que pretende retaliar.
Por Patrícia Campos Mello, Folha de São Paulo