sábado, 9 de junho de 2018

Em meio à turbulência, Bolsa tem saída recorde de capital estrangeiro - Investidores tiraram R$ 8,43 bilhões


A Bolsa brasileira nunca viu uma saída tão grande de capital estrangeiro em tão pouco tempo, um claro reflexo da turbulência econômica e política que o País atravessa. Em maio, deixaram a B3 R$ 8,43 bilhões, um número recorde – superando os R$ 7,62 bilhões de julho de 2008, no auge da crise do subprime nos Estados Unidos.

Neste mês, apenas nos quatro primeiros pregões, saíram mais R$ 2 bilhões. No acumulado do ano, o saldo está negativo em R$ 6,06 bilhões – em 2017, houve uma entrada recorde de R$ 14 bilhões. 
 Essa “fuga” teve início em fevereiro, quando se tornaram mais claros os sinais de que os EUA iriam subir mais os juros que o inicialmente previsto – o que torna os títulos americanos mais atrativos para os investidores, prejudicando principalmente os países emergentes. Mas há no Brasil um ingrediente extra: um cenário eleitoral completamente indefinido, com o mercado cada vez mais temeroso de um segundo turno sem nenhum candidato de centro.
Bolsa de valores
Essa “fuga” teve início em fevereiro, quando se tornaram mais claros os sinais
de que os EUA iriam subir mais os juros que o inicialmente previsto
Foto: Amauri Nehn|Pagos
Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, os emergentes como um todo têm sofrido com a virada do humor com relação aos juros nos EUA e também com a ameaça de uma guerra comercial liderada pelo presidente americano, Donald Trump, contra a China. Mas, no Brasil, a questão política pesa cada vez mais.
“Na cena doméstica, do ponto de vista político, existe a percepção de que muito do que foi ‘conseguido’ pelo governo de Michel Temer não está andando muito bem. Desde a questão fiscal, que está absolutamente descontrolada, a questões pontuais que mostraram fragilidade, como a situação envolvendo a Petrobrás”, disse, referindo-se à greve dos caminhoneiros, que teve como um dos efeitos a saída do presidente da estatal, Pedro Parente.
Sérgio Goldman, estrategista da corretora Magliano, diz que a fuga de estrangeiros deve continuar, mas talvez em volumes menores. Ele considera, porém, exagerada a visão de que a economia brasileira pode vir a sofrer como a da Turquia ou da Argentina. “O Brasil tem muitas reservas e contas relativamente equacionadas, mesmo diante de atual risco de uma deterioração crescente”, disse. Para ele, o clima de cautela deve prevalecer ao menos até agosto, quando começa a propaganda eleitoral na TV e o cenário tende a ficar um pouco mais claro.
Karel Luketic, analista-chefe da XP, tem visão parecida. Para ele, há muitas incertezas relativas à economia americana, mas, nos próximos dois meses, a cena política deve predominar. “Independentemente da visão do candidato que é melhor ou pior para o mercado, a volatilidade deve permanecer pelo menos até a realização das convenções partidárias”, disse.
Karin Sato e Fabiana Holtz, O Estado de S.Paulo