terça-feira, 5 de junho de 2018

Dólar fecha em R$ 3,81, maior cotação desde março de 2016



Os receios de piora do quadro fiscal e a possibilidade de que um candidato não reformista vença a eleição presidencial deste ano, além do cenário externo menos favorável, desencadearam uma onda de aversão ao risco doméstico nesta terça-feira. Mesmo sem fatos novos, a deterioração dos ativos locais se intensificou à tarde. O dólar subiu 1,85% e fechou a R$ 3,8101, atingindo a maior cotação desde 3 de março de 2016 (R$ 3,8102), época em que cresciam as apostas de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. A forte oscilação no câmbio acabou por contaminar o Ibovespa, que caiu 2,49%, abaixo dos 77 mil pontos, e os juros futuros, que tiveram alta forte em todos os vencimentos.
O real foi a moeda que mais perdeu valor nesta terça-feira, 05, ante a divisa dos Estados Unidos entre os principais emergentes, em meio a um quadro de renovadas incertezas com os rumos da economia brasileira e com as eleições. O dólar já subiu quase 15% só em 2018 e especialistas em câmbio apontam que o mais provável é que siga se fortalecendo no Brasil e outros mercados.
Dólar
Dólar acelera alta nesta terça-feira Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
A relativa calmaria vista no mercado de câmbio na segunda-feira durou pouco e o dólar já começou o dia em alta forte, movimento que continuou pela manhã e fez a moeda bater em R$ 3,80 pela primeira vez desde maio de 2016. Com isso, o BC teve que anunciar um leilão extraordinário de swap, que previa a venda de até US$ 1,5 bilhão em contratos. Como o lote não foi integralmente vendido, foi anunciado um leilão residual. Foi a primeira vez que o BC fez uma atuação discricionária no mercado desde 18 de maio do ano passado, um dia após a divulgação do áudio que o empresário Joesley Batista gravou com o presidente Michel Temer.
Além destes dois leilões não antecipados, que despejaram US$ 1,1 bilhão em dinheiro "novo' no mercado, o BC realizou de manhã as duas ofertas que tem feito diariamente, incluindo a de US$ 750 milhões de novos contratos de swap, e a de rolagem de contratos para julho (US$ 440 milhões). A ação do BC conseguiu momentaneamente reduzir a pressão no dólar e a moeda caiu para a casa dos R$ 3,76, mas no meio da tarde de hoje a divisa renovou máximas e voltou a superar o patamar de R$ 3,80.
Bolsa. O mercado brasileiro de ações foi fortemente afetado pelo sentimento de aversão ao risco doméstico e o Índice Bovespa fechou em queda de 2,49%, aos 76.641,72 pontos. Um conjunto de fatores contribuiu para o mau humor dos investidores, mas entre os ingredientes mais indigestos do dia estiveram as incertezas quanto à política de preços da Petrobras e o quadro eleitoral indicando polarização entre candidatos considerados populistas. Nesse cenário, a alta do dólar para além dos R$ 3,80 e a esticada da curva de juros foram motivos de estresse no mercado de ações.
"Os investidores que apostavam que a Bolsa teria hoje sua quinta alta consecutiva foram pegos no contrapé e tiveram de zerar suas posições hoje, o que acabou por amplificar a queda do Ibovespa", disse um gerente de mesa de renda variável. "O Banco Central fez leilões de swap cambial ao longo do dia, mas o dólar seguiu em alta. Esse avanço das cotações se deu, em parte, com dinheiro que saiu da bolsa", disse outro profissional do mercado de ações.
As ações mais penalizadas ao longo do dia foram as do setor financeiro, que amargaram perdas expressivas, de até 6,37%. Esse foi o caso de Banco do Brasil ON, importante termômetro do risco político na Bolsa. Petrobras ON e PN caíram 3,00% e 5,36%, respectivamente. Eletrobras ON e PNB, papéis de outra estatal, despencaram 7,81% e 8,15%.
"Foi um dia nervoso, descolado do mercado externo. O que se percebe é que cada vez mais as eleições estão fazendo preço, principalmente depois da greve dos caminhoneiros, que expôs a fragilidade do governo", disse Hersz Ferman, economista da Elite Corretora.
Segundo o economista, parte do mau humor vem também da constatação de que o governo Temer, que se apresentava como liberal, reformista e de gestão profissional, agora parece ter jogado tudo fora. "E o apoio popular à greve dos caminhoneiros evidenciou que os eleitores se mostram resistentes a reformas", disse. "Com um quadro fiscal doméstico muito ruim e o cenário externo apontando para a redução do diferencial de juros, o Brasil vai perdendo atratividade aos olhos do investidor estrangeiro", afirmou.
Altamiro Silva Júnior e Paula Dias, O Estado de S.Paulo