Vai começar mais uma Copa do esporte mais popular do mundo, o futebol, e o Brasil tem a única seleção que participou de todas as Copas. Mas perdemos as duas vezes em que jogamos em casa: na primeira, em 1950, no Maracanã, perdemos a final para o Uruguai por 2x1, quando precisávamos apenas de um empate. E na segunda, quatro anos atrás, nem chegamos à final, eliminados depois de uma vergonhosa derrota para a Alemanha por 7x1.
Ganhamos a primeira Jules Rimet na Suécia, em 1958, sob o comando do técnico Vicente Feola, com um time no qual duas grandes estrelas – Pelé e Garrincha – só estrearam na terceira partida, contra a Rússia (então União Soviética), país onde será jogada a Copa deste ano. O Brasil tinha 68 milhões de habitantes, dos quais 56% eram rurais. A área plantada com grãos era de 19 milhões de hectares, exportávamos US$ 1,243 bilhão, o café era o grande campeão, com 55,3% do total.
O bicampeonato mundial veio quatro anos depois, no Chile, com uma equipe quase igual à de 1958, mas Pelé se machucou na terceira partida e não jogou mais. O título foi conquistado por atuações primorosas de Garrincha (que fez gol de falta e de cabeça), do mestre Didi, e do grande volante Zito. O café ainda era nosso principal produto de exportação, com 52,9% do total.
Só em 1970 levantamos o tri, no México, em memorável campanha que ainda teve Pelé em grande forma, e atletas notáveis como Gerson, Tostão, Rivellino, Jairzinho e Carlos Alberto. O técnico era Zagallo, que herdou uma equipe toda montada por João Saldanha. A população já passava de 95 milhões, e apenas 44% ainda viviam no campo. O País se urbanizava rapidamente, mas o café seguia como o maior valor exportado, com 34,9%.
Passaram-se 24 anos para o Brasil conquistar o tetracampeonato, em 1994, nos Estados Unidos, em que se destacaram Romário e Bebeto, sob as ordens de Parreira. Vencemos a final contra a Itália na disputa de pênaltis, quando o maior craque da Azurra, Roberto Baggio, chutou para fora. A população rural era apenas 23% dos quase 160 milhões de brasileiros, e a soja já era o maior valor exportado, com 9,5% do total, seguido pelo café.
O penta veio em 2002, num torneio realizado no Japão e na Coreia do Sul, sob o comando de Felipão. Nosso maior craque foi Ronaldo, o Fenômeno, mas lá estavam Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e o grande arqueiro Marcos. Nossa população tinha ultrapassado os 180 milhões, só 18% estavam no campo, a área plantada com grãos tinha chegado a 40 milhões de hectares e a produção foi de 97 milhões de toneladas, última vez antes de completar uma centena delas. A soja chegou a 10% do valor das exportações, seguida pelas carnes e pelo açúcar.
Vamos agora para a Rússia tentar o hexa; a seleção tem vários atletas da equipe derrotada há quatro anos, mas leva um técnico experiente, competente e vitorioso, Tite. Lá estarão Neymar, Philippe Coutinho, Marcelo, Paulinho, Willian e outros bons jogadores, carregados de esperança de fazer um papel redentor.
Nosso agro mudou muito neste tempo todo. Hoje plantamos 61 milhões de hectares com grãos, batendo recordes de produção um ano depois do outro: as exportações brasileiras de 2017 superaram US$ 217 bilhões, dos quais US$ 70 bilhões foram do agro, com destaque para soja, carnes, açúcar e café. Só 14% da população ainda vive na roça: menos gente produz para mais consumidores, graças à tecnologia tropical sustentável aqui desenvolvida e aplicada.
De 1958, na nossa primeira Copa vencida na Suécia, até hoje, a população brasileira aumentou 207% enquanto a rural diminuiu significativamente de 56% para 14% do total. A área plantada com grãos cresceu 221% e a produção, mais de 350%. Nestes 60 anos passamos de importadores de alimentos a grandes exportadores, e as exportações do agro subiram 8.720%! São números vistosos. Nossa seleção tem boas chances de ser campeã mundial de futebol mais uma vez. Mas o agro brasileiro será, sem a menor dúvida e muito em breve, o grande campeão mundial da segurança alimentar. Estamos prontos para partir para o abraço.
*EX-MINISTRO DA AGRICULTURA E COORDENADOR DO CENTRO DE AGRONEGÓCIOS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
O Estado de São Paulo