Em tempos de desemprego, cresce o número de brasileiros que, atormentados com as responsabilidades financeiras acima de suas possibilidades, sofrem de tremedeira nas pernas. Em respeito a esses patrícios e a todos os que estão em dia com suas obrigações tributárias, Michel Temer deveria restituir ao Tesouro Nacional os R$ 24.015,68 que foram enterrados na reforma inútil que mandou realizar no endereço mais famoso da República: o Palácio da Alvorada.
Antes de se mudar para a residência oficial dos presidentes, Temer visitou o imóvel com sua mulher, Marcela. A pretexto de adaptar o palácio às necessidades do filho Michelizinho, o casal concluiu que uma pequena reforma seria inevitável. Até aí, beleza. Feitos os ajustes, a primeira-família ocupou o palácio. De repente, menos de duas semanas depois, os Temer decidiram retornar à casa oficial dos vices, o Palácio do Jaburu.
A assessoria alega que Temer ''não se adaptou ao local.” Heimmm?!? “Achava tudo muito distante.” Hã?!? “Mal conseguia ver o filho.'' Hummm. Alegou-se também que Temer não gostou do Alvorada. Ahhh, vá! Acha que o Jaburu “se parece muito mais com uma casa comum.” Ai, ai, ai…
Temer não ignorava o gigantismo do Alvorada. São 7.300 m² de mármore e vidro, sem contar os 1.800 m² do anexo de serviço. Sua mulher visitou o palácio antes da reforma. Percebeu a grandiosidade do imóvel já na entrada, onde um espelho d'água reflete vistosas colunas plantadas ao longo da fachada.
Diz-se que Michelzinho, um azougue de 7 anos, dribla a vigilância da família e dos seguranças. Pudera! O menino está no paraíso do pique-econde, dotado dos seguintes esconderijos: salão principal esparramado por generosos 70 metros de extensão, salão de banquetes com mesa para 30 pessoas, mezanino com pé direito de nove metros, biblioteca com piso de jacarandá maciço… Tudo isso sem contar a academia de ginástica e o cinema no subsolo, além de um quintal onde há uma capela e jardins pelos quais se pode caminhar até seis quilômetros sem repetir uma única trilha.
Difícil não gostar de uma moradia assim. Mas a família presidencial tem todo o direito de residir onde bem entender. O que não é tolerável é a sensação do desperdício de R$ 24 mil do erário numa reforma que só os Temer consideravam essencial e da qual nem eles tirarão proveito. O dinheiro é público, mas não é grátis. Não é muita grana. Mas foi arrancada à força do bolso de um sujeito que é equivocadamente chamado de contribuinte. Convém devolver.