O avanço das revelações vindas do petrolão torna cada vez mais instável o terreno sob o governo Michel Temer, no momento em que entra em pauta o segundo pilar do ajuste da economia, a reforma da Previdência. Sem a qual fica comprometido o primeiro pilar, o do teto para os gastos públicos.
Enquanto isso, no pano de fundo da crise política, surgem sinais na economia de que se movimentam forças para a retomada do crescimento do PIB. Mas tudo vai depender de como evoluirá o front político-parlamentar. Neste sentido, é correto o presidente Temer assumir a condução das articulações para a viabilização da reforma previdenciária. Com o ministro Eliseu Padilha avariado por uma delação espontânea do amigo e ex-assessor do presidente José Yunes, e em recuperação de cirurgia em Porto Alegre, motivo formal da licença pedida da Casa Civil, só mesmo o presidente, dirigente do PMDB durante muito tempo e também da Câmara, pode preencher o vazio deixado pelo ministro nesta empreitada estratégica do ajuste fiscal.
Yunes prestou depoimento espontâneo à Procuradoria-Geral da República, para relatar que serviu de “mula involuntária” de Padilha, ao aceitar receber “documentos” de um emissário.
Este, o doleiro Luís Funaro, tido como operador do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha — os dois se encontram fora de circulação, por decisão da Justiça.
Uma ponta dessa história é a delação premiada de Cláudio Melo Filho, executivo da Odebrecht, na qual é relatado jantar no Palácio do Jaburu em que o ainda vice-presidente Temer solicitou apoio financeiro para a campanha de 2014 a Marcelo Odebrecht.
Teriam sido pedidos R$ 10 milhões, dos quais R$ 4 milhões ficariam com Padilha, e que uma das remessas seria entregue a Yunes, no escritório de advocacia dele em São Paulo.
Por inevitável, José Yunes deixou de ser assessor de Temer no Planalto. Ele diz ter recebido um pacote de Funaro, mas sem ter curiosidade de saber o que continha. Temer garante que pediu uma doação legal ao principal executivo, e acionista, da Odebrecht.
Pode ser que no processo que tramita na Justiça eleitoral (TSE) sobre o financiamento da chapa Dilma-Temer surja algum esclarecimento.
Volte ou não Padilha para o ministério, a reforma da Previdência e as que se seguirão, como a trabalhista, têm de ser tratadas pelos políticos com a importância que merecem, acima dos interesses menores do baixo clero e similares. Só o déficit previdenciário, descontrolado, pode, em não muito tempo, tragar todos os recursos da Saúde e Educação.
Não é fácil o Congresso de hoje fazer essas mudanças, mas não há alternativa. É isso ou a eternização da crise, com pequenos ensaios de recuperação do PIB que não se sustentarão. Enquanto se prepara o terreno para o risco da volta de correntes populistas ao poder em 2018. Com isso, virá o perigo de o Brasil ficar à margem por outra década perdida.