quarta-feira, 1 de março de 2017

Juntos hoje, PMDB e PSDB buscam caminho solo para 2018


O presidente Michel Temer (PMDB) fala com o senador Aécio Neves (PSDB) no Palácio do Planalto - UESLEI MARCELINO/12-4-2016 / REUTERS

Maria Lima - O Globo


Partidos reeditam parceria para sustentar governo, mas disputarão eventual boa herança de Temer


Vinte e cinco anos depois da união para sustentar o mandato do ex-presidente Itamar Franco, PSDB e PMDB reeditam, agora, uma disputa por espaço de olho em um projeto próprio para chegar ao Planalto, desta vez em 2018. No sucessão de Itamar, o então comandante do PMDB, Orestes Quércia, se candidatou a presidente, mas quem levou o Planalto foi o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, embalado pela estabilização monetária decorrente do sucesso do Plano Real.

Pelo menos por enquanto, caciques tucanos e do PMDB usam a mesma receita para buscar uma candidatura viável em 2018. Apesar da queda de braço permanente por espaço no governo, avaliam que têm que atuar como irmãos no apoio a Temer, enfrentar desgastes com as medidas amargas para reequilibrar as contas públicas e fazer Temer chegar ao próximo ano com algum sucesso na recuperação econômica e geração de empregos.

— Essa relação significa muito mais do que parcerias pontuais. Pode nos levar à continuidade de um projeto de recuperação do país em 2018. Estamos construindo uma aliança sólida que leve o Brasil a reencontrar o seu caminho. O presidente Temer terá alguns êxitos, mas que não trarão retorno eleitoral para ele. Podem dar retorno a essa parceria — avalia o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG).

— O PMDB tem o presidente da República, faz parte da equipe econômica e é o maior partido do Brasil. PMDB e PSDB são parte fundamental da mudança, mas os outros partidos são importantes. As mudanças serão feitas por um bloco grande que precisa ser monolítico — diz o presidente do PMDB e líder do governo, senador Romero Jucá (RR).

A disputa pelo equilíbrio



O PSDB apoiou o governo de Itamar Franco e depois lançou Fernando Henrique à presidência - Marco Antônio Teixeira / O Globo


Tucanos acham que a diferença de hoje em relação à primeira experiência da dobradinha, no pós-impeachment de Fernando Collor, é que, naquele governo de transição, nenhum dos partidos estava na cadeira presidencial, já que Itamar só deixou o PRN de Collor já em 1992, poucos meses antes do impeachment. Embora tenha pertencido ao PMDB entre a década de 1960 e meados da década de 1980, o mineiro só voltou à legenda após deixar o Planalto. Diferentemente de agora, já que Temer é o maior líder político do partido e os peemedebistas abrem a porta de seu gabinete para dar as cartas.

— O Itamar não era símbolo do PMDB. Hoje o Temer é do PMDB e o governo é do PMDB. Mas somos a parte fundamental do equilíbrio desse governo — diz o senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE).

Mas há pouco de pacificação nessa relação PMDB-PSDB. Em 1988, quando a dissidência no PMDB resultou na criação do PSDB, os dissidentes saíram atirando no então presidente José Sarney. Fernando Henrique dizia que a legenda havia se transformado "numa máquina colada ao governo", que "não trabalha para mudar o país, mas para manter o que está aí". Hoje a avaliação de alguns tucanos é a de que o apetite do PMDB no Planalto acaba prejudicando a coalizão que sustenta Temer.

— O PMDB chega lá no Planalto e mete a mão na porta. Isso não ajuda o Temer. O PMDB tem que compreender que, num governo de coalizão, tem que compartilhar. Com o Itamar não tinha essa pressão, ele não admitia, o presidente era ele e ponto final — critica um cacique tucano.

'PMDB TERÁ UM NOME'

Tanto tucanos como peemedebistas acham que seu diferencial será o carimbo de patrono das reformas que botaram o país nos eixos. Líderes do PSDB sempre justificam sua participação no governo alegando que a condicionam a uma agenda de reformas. Já os caciques do PMDB dizem que Temer é quem está tendo a coragem de enfrentar o desgaste.

— Pegamos um modelo ultrapassado e o desafio é fazer as reformas para ver quem se credencia melhor em 2018. Se 2017 não der certo ninguém vai querer pegar 2018 — diz o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP).

O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), diz que o partido ainda não tem nome forte para fazer frente a tucanos como Aécio e Geraldo Alckmin, mas acha que uma liderança vai se consolidar:

— O PMDB vai apresentar um nome. Tendo o PMDB como o condutor da recuperação da economia, o partido vai chegar bem eleitoralmente em 2018.