Relator do processo que pode resultar na interrupção do mandato de Michel Temer e na inelegibilidade de Dilma Rousseff, o ministro Herman Benjamin, corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral, interrogará Marcelo Odebrecht nesta Quarta-Feira de Cinzas, em Curitiba. Será a primeira de uma série de cinco oitivas de delatores da Odebrecht. Todos revelaram em depoimentos à força-tarefa da Lava Jato segredos que podem auxiliar na investigação sobre a legalidade do financiamento da chapa vitoriosa na eleição de 2014. Disseminou-se entre auxiliares e aliados de Temer a avaliação de que o relatório de Benjamin pedirá a cassação da chapa Dilma—Temer. Conforme noticiado aqui, o Planalto se move nos subterrâneos para protelar o julgamento.
Coube ao procurador-geral da República Rodrigo Janot indicar entre os 77 delatores da Odebrecht aqueles que dispõem de informações relevantes para o andamento do processo que corre na Justiça Eleitoral. Os nomes foram repassados a Herman Benjamin pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Depois de interrogar Marcelo Odebrecht, o relator do TSE voará de Curitiba para o Rio de Janeiro. Ali, na quinta-feira, ouvirá dois ex-executivos da Odebrecht: Benedito Barbosa da Silva Júnior e Fernando Reis. Na segunda-feira, Herman Benjamin interrogará em Brasília mais uma dupla de delatores da construtora: Cláudio Melo Filho e Alexandrino de Salles Ramos de Alencar.
“Não há qualquer dúvida quanto à possibilidade de os colaboradores figurarem como testemunhas ou informantes na esfera eleitoral”, anotou Rodrigo Janot na manifestação entregue ao relator do TSE. O chefe do Ministério Público Federal recomendou que, a exemplo do que sucede na Lava Jato, os depoimentos sejam mantidos, por ora, em sigilo. Em consequência, Herman Benjamin decidiu que a imprensa não terá acesso aos interrogatórios. O conteúdo será divulgado posteriormente, no site do TSE, quando a providência não for mais considerada prejudicial às investigações.
A disposição do relator de empurrar para dentro do processo do TSE os pedaços da delação da Odebrecht que reforçam o cheiro de enxofre da contabilidade eleitoral potencializou os receios dos operadores de Temer. Planeja-se transformar a novidade em mais uma oportunidade para protelar o processo. A ideia é requerer novas diligências e a oitiva de testemunhas de defesa capazes de se contrapor a eventuais acusações dos delatores. Para os advogados de Temer, o tempo não existe. Só existe o passar do tempo. Quanto a Herman Benjamin, ele parece cuidar dos minutos como se considerasse que as horas mais preciosas são as mais rápidas. Os próximos movimentos revelarão quem administra melhor o tempo.