Se houve algo de bom na divulgação do balanço da Petrobras relativo ao terceiro trimestre de 2014 foi a aparição da primeira estimativa do tamanho do buraco aberto na empresa pela gestão petista.
Pelo que se divulgou até agora, ele é mais fundo que o pré-sal: são R$ 61,4 bilhões, no cálculo preliminar de duas consultorias independentes, o que equivale a nada menos que 50% do atual valor de mercado da estatal na Bolsa.
Que esse número fique registrado na história como um recorde de incompetência e de má-fé na gestão pública brasileira.
A perda foi determinada a partir da análise individual de 52 empreendimentos em que se envolveram empresas citadas na Operação Lava Jato. Juntos, equivalem a cerca de um terço dos ativos da estatal. Em 31 deles, o prejuízo é de R$ 88,6 bilhões; nos outros 21, haveria ganho de R$ 27,2 bilhões.
O cálculo resulta da comparação entre o que está contabilizado e a estimativa do valor justo atual, algo que se baseia em hipóteses como preços de insumos e margens de comercialização, entre outras.
Assim, as baixas decorrentes da corrupção (que o Ministério Público Federal supõe serem de pelo menos R$ 2,1 bilhões) se disfarçam no meio de fatores como ineficiências e mudanças nas condições de mercado. A distinção será feita até junho, com a publicação do balanço auditado.
No meio da confusão, sem que ninguém tenha certezas a respeito do tamanho real do rombo, a Petrobras luta para convencer investidores de que será capaz de estancar o ritmo de crescimento da dívida, de US$ 107 bilhões (descontado o caixa), mantendo sua solvência.
Mesmo nas hipóteses mais otimistas, no entanto, o problema parece cada vez mais intratável.
Os pagamentos de juros e amortizações em 2015 consumirão US$ 12,5 bilhões. As projeções mais recentes indicam que o caixa cairá de US$ 25 bilhões para cerca de US$ 10 bilhões neste ano, considerando promessas de cortes nos investimentos e venda de ativos. Não se exclui nem mesmo a suspensão da distribuição de dividendos.
Se o preço do petróleo permanecer em níveis baixos até o ano que vem, será bastante provável um corte na nota de crédito, o que agravará a dificuldade de financiamento. Nesse cenário, pode se tornar inevitável uma nova capitalização, que representaria novo golpe contra acionistas minoritários.
O governo enfim começa a entender a necessidade de montar uma operação de guerra para evitar o pior. Mas, sem uma reorientação completa na gestão, a Petrobras continuará sangrando –e de nada ajuda que a presidente Dilma Rousseff (PT), pensando sabe-se lá em que, insista em dizer que a estatal se fortaleceu nos últimos anos.