quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Defesa de Youssef acusa consultor de omitir fatos em delação

FLÁVIO FERREIRA e MARIO CESAR CARVALHO - UOL



A defesa do doleiro Alberto Youssef afirmou à Justiça que o consultor Julio Camargo "omitiu fatos e criou versões" nos depoimentos da delação que assinou com as autoridades responsáveis pela Operação Lava Jato.

A omissão de fatos pode levar à anulação de acordos de delação premiada, segundo especialistas.

A acusação foi feita pelo advogado de Youssef, Antonio Augusto Figueiredo Basto, na defesa apresentada na ação penal em que são réus o doleiro, o consultor, o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró e o empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, apontado como lobista ligado ao PMDB.

Segundo a delação de Camargo, Soares recebeu US$ 30 milhões de propina em 2006 e 2007 para viabilizar a contratação pela Petrobras de navios-sonda para perfuração em águas profundas com o estaleiro Samsung Heavy Industries, pelo valor de US$ 586 milhões. De acordo com o Ministério Público, parte desse valor foi repassada para Cerveró.

A acusação de que Camargo não revelou tudo que sabe em sua delação foi feita em um capítulo da defesa de Youssef protocolada nesta quinta-feira (29), no qual advogado do doleiro aponta que a empresa offshore Devonshire Global Fund não esteve envolvida em operações ligadas ao pagamento de propina no negócio dos navios-sonda.

"Neste particular aspecto, a denúncia [do Ministério Público] falta com a verdade, quiçá, induzida em erro pela colaboração de Julio Camargo, que além de lacônica, omitiu fatos e criou versões. Não é verdade que a operação tenha envolvido a empresa Devonshire", afirmou.

Na petição de defesa, o advogado de Youssef não descreveu quais seriam as omissões na delação de Camargo. Procurado pela Folha, o defensor do doleiro disse que não iria detalhar a acusação contra o consultor.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Camargo na noite de quinta-feira (29).

A Devonshire é uma das empresas abertas nos Estados Unidos pelo doleiro. 

Segundo um dos investigados na Lava Jato, o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, essa empresa ficou com os recursos mantidos por Youssef após o acordo de delação que ele fez em 2003. Foi com esses bens que Youssef chegou a montar negócios legais, como a rede Web Hotéis.