João Sorima Neto - O Globo
Analistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que pesquisas eleitorais, sinalizando segundo turno, turbinaram ganhos
Puxada por bancos e pelo setor de petróleo e gás, as empresas de capital aberto com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) atingiram no último dia 29 de agosto o seu maior valor de mercado da história. De acordo com cálculo da consultoria Economática, as 328 companhias listadas em Bolsa valiam R$ 2,59 trilhões. O recorde anterior havia sido estabelecido em janeiro de 2013, quando o valor dessas companhias atingiu R$ 2,50 trilhões.
No mês de agosto de 2014 o valor de mercado das empresas brasileiras cresceu R$ 196,5 bilhões em relação a julho, quando juntas essas companhias valiam R$ 2,39 trilhões. O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, está no patamar dos 61 mil pontos, o maior desde janeiro do ano passado.
Analistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que a escalada da Bovespa, mesmo com perspectivas mais fracas para o crescimento da economia (0,52% segundo estimativa do mercado, através do boletim Focus, divulgada hoje), pode ser atribuída em boa parte às pesquisas eleitorais que passaram a indicar perspectiva de realização de segundo turno na eleição presidencial. Alguns desses levantamento mostram inclusive derrota do atual governo.
- O movimento de alta que estamos vendo na Bovespa, apesar dos indicadores da economia mais fracos, é a antecipação pelo mercado de tudo o que pode mudar em 2015 e 2016, seja em termos de gestão das empresas estatais (Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobras) ou de perspectivas econômicas. Se as estimativas de mudança se concretizarem no ano que vem, os valores que estamos vendo hoje poderão ser até baratos - analisa Paulo Bittencourt, direto da Apogeo Investimentos, uma empresa do grupo Vinci Partners.
Para ele, este é um movimento cíclico do mercado de renda variável, que é o primeiro a antecipar novas expectativas.
- Além das pesquisas eleitorais sinalizarem perspectivas de mudança de governo, temos um cenário internacional mais positivo, com a economia dos EUA voltando a crescer num ritmo de 4% e a China sinalizando que manterá a expansão de 7,5% para seu Produto Interno Bruto (PIB) este ano - diz Bittencourt.
Para Álvaro Bandeira, da Órama Investimentos, as ações das companhias na Bolsa ganharam fôlego pelo fator eleitoral, mas o fluxo de investidores estrangeiros no pregão e o cenário externo mais calmo também contribuíram.
- Os investidores estrangeiros já despejaram R$ 18 bilhões no pregão, este ano, o que é um volume muito significativo e também ajuda a Bolsa a subir. Além disso, vejo perspectivas melhores para a economia no segundo semestre do ano, depois de um segundo trimestre de 'fundo do poço'. E a conjuntura externa está mais favorável, com os Estados Unidos voltando a crescer forte e a China se expandindo a um ritmo de 7,5% ao ano - avalia Bandeira.
Segundo o levantamento da Economática, os 22 bancos com papéis negociados no pregão apresentavam o maior valor de mercado, totalizando R$ 561,8 bilhões. Entre julho e agosto, essas instituições tiveram uma valorização de R$ 70,4 bilhões, já que em julho valiam R$ 491,4 bilhões.
Em seguida, o segundo setor mais valioso da Bovespa foi o de alimentos e bebidas chegando a R$ 382,0 bilhões. Em julho, as 16 empresas desse segmento valiam R$ 356,6 bilhões.
Já o setor de petróleo e gás, liderado pela Petrobras, foi o terceiro setor com maior representatividade com R$ 310,9 bilhões e também o setor com o segundo maior crescimento nominal no mês de agosto com R$ 55,6 bilhões.