- Tucano e Eduardo Campos propõem mecanismos para a realização de reformas tributárias em fórum na Bahia
- Único petista presente ao Fórum de Comandatuba, o governador da Bahia Jaques Wagner disse que discutir reforma é importante, mas não é tão simples de se fazer
- Aécio diz que não consegue ver Campos como adversário: ‘Nós dois queremos a mesma coisa’
Tiago Dantas - O Globo
ILHA DE COMANDATUBA (BA) - O pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, afirmou nesta sexta-feira que - mesmo sem ter consenso dentro de seu partido - vai defender o fim da reeleição.
Ao lado de Eduardo Campos, pré-candidato pelo PSB, o tucano participa do Fórum de Comandatuba, encontro de representantes de grandes empresas e políticos organizado pelo Lide - Grupo de Líderes Empresariais. A presidente Dilma Rousseff foi convidada, mas não compareceu.
Aécio tentou evitar mostrar diferenças entre suas propostas e de Campos:
- Não consigo ver Eduardo como adversário. Nós queremos a mesma coisa - declarou.
O senador do PSDB foi quem levantou a questão da reforma política de forma mais direta, apesar de já ter feito a defesa do fim da reeleição logo após as manifestações de junho do ano passado.
Afirmou que, mesmo sem ter consenso dentro do partido, vai defender o fim da reeleição, o aumento do tempo de mandatos executivos para cinco anos e a instituição do voto distrital misto (metade do congresso seria formada pelas eleições em distritos, enquanto a outra metade seria eleita por meio de uma lista formulada pelos partidos).
Ele e Campos criticaram a economia do governo Dilma Rousseff e defenderam a realização de reformas tributárias.
Aécio prometeu a criação de uma secretaria extraordinária para encaminhar ao Congresso um projeto de simplificação do sistema tributário para encaminhar a reforma nos impostos.
- Estou propondo a criação de uma secretaria extraordinária no primeiro dia de governo para apresentar, em seis meses, a simplificação do sistema tributário brasileiro - disse Aécio. - Também temos que discutir a distribuição dos tributos. O governo federal concentra um volume gigantesco de impostos e se exime de algumas responsabilidades, como a segurança pública. Esse desequilíbrio federativo tem que ser enfrentado.
Campos reconheceu que a economia do Brasil avançou nos últimos anos, mas disse que o país deixou de fazer muitas coisas:
- Estamos vivendo uma conjuntura dura: baixo crescimento, inflação batendo no orçamento das famílias, juros em alta, crise de confiança. Não adianta continuar fazendo diagnósticos de forma repetida e deixar de fazer as reformas. É possível fazer reforma tributária em momento de crescimento baixo.
Campos assumiu que a carga tributária não vai aumentar e voltou a defender a autonomia do Conselho Monetário Nacional, que atuaria de forma independente, como o Banco Central, para fazer o acompanhamento das metas inflacionárias.
O ex-governador de Pernambuco disse, ainda, que grandes reformas, como a tributária e a política podem ser feitas em fatias, aos poucos.
- Temos cinco impostos sobre consumo. Se não fizer reforma, sistema tributário vai matando competitividade. Vamos fazer processo de simplificação e, em oito anos, legar um sistema tributário de classe mundial.
Políticos da oposição que acompanham o Fórum de Comandatuba avaliam que os dois pré-candidatos tentam se aproximar do empresariado que, de forma geral, na opinião deles, sente distanciamento de Dilma.
Os dois políticos comentaram as vaias recebidas por políticos do PT durante a festa de 1o. de maio das centrais sindicais em São Paulo:
- Fui muito bem recebido e pude falar tranquilamente - disse Campos. Mas é uma amostra de descontentamento. Tem pedaço da política brasileira que precisa ir pra oposição porque está acostumado a governar com todo mundo. Conosco não vai ser todo mundo governo. Tem uma turma que está aí há 30 anos e vai passar quatro anos na oposição.
- É uma resposta a ausência de respostas do poder público às demandas das ruas. As pessoas estão cansadas de ilusão e de tantas denúncias. O povo quer a verdade. O que pode fazer e o que não pode.
Único petista presente ao Fórum de Comandatuba, o governador da Bahia Jaques Wagner disse que discutir reforma tributária é importante, mas não é tão simples de se fazer:
- Independente de quem proponha a reforma, ela tem que passar pelo Congresso. E a grande questão é a divisão do bolo orçamentário. A União concentra parte desse bolo, sim. Mas os estados mais ricos também concentra.
O governador disse que não faria uma defesa das gestões de Lula e Dilma, mas lembrou que sua experiência no governo federal mostra que o "grande problema do Brasil é a desigualdade social".
- Se não cuidarmos da distribuição de renda e das desigualdades regionais, não temos saída.