A troca de Helena Chagas por Thomas Traumann na Secretaria de Comunicação
Social da Presidência (Secom) foi uma importante vitória da caciquia do PT na
luta para ampliar sua influência em uma área do governo considerada estratégica
e que, até agora, estava mais ou menos blindada pela presidente Dilma Rousseff.
Pode-se esperar que daqui em diante, neste ano eleitoral, a Secom deixe
definitivamente de ser um órgão de Estado - cuja função, conforme seus
estatutos, é a "disseminação de informações de interesse público, como direitos
e serviços, e também projetos e políticas de governo" - e adote um perfil mais
agressivo na defesa dos interesses específicos do lulopetismo.
A Secom foi um dos poucos órgãos do governo para os quais Dilma, ao assumir a
Presidência, pôde nomear ela mesma o titular, contornando as vontades de Lula,
seu criador. A escolha recaiu sobre a jornalista Helena Chagas, cujo perfil
permitia supor que a Secom seria "desideologizada", isto é, perderia o caráter
de aparelho partidário imposto pelo seu antecessor, o jornalista Franklin
Martins.
No cargo, Franklin passou o segundo mandato de Lula fortalecendo o sistema de
comunicação do governo e empenhando-se em levar adiante um projeto de
regulamentação da mídia que incluísse uma óbvia tentativa de controlar conteúdos
jornalísticos. Dilma sempre teve o cuidado de evitar esse assunto e chegou a
dizer que "o único controle de conteúdo admissível é o controle remoto da
TV".
Além disso, Franklin promoveu a pulverização de verbas de publicidade do
governo - outra atribuição crucial da Secom -, premiando veículos simpáticos ao
governo. Com a entrada de Helena Chagas, o critério de investimento publicitário
voltou a ser técnico: recebem mais verbas os veículos de maior audiência, pois o
objetivo da comunicação oficial é atingir o maior número possível de
pessoas.
Esse comportamento contrariou a militância petista, que construiu uma rede de
blogs dedicados a fazer a defesa incondicional do governo e esperava ser muito
bem remunerada por esse serviço. As verbas até foram liberadas, mas não no
volume exigido pelos militantes, que não compreendem por que o governo prefere
anunciar em veículos independentes, que lhe são críticos, e dá menos dinheiro
aos que lhe servem como apaixonados advogados.
A pressão petista contra esse estado de coisas foi violenta. Em recente
reunião do partido que tratou do assunto, segundo relato de O Globo, um dos
presentes chegou a qualificar a comunicação do governo de "porcaria", criticou o
corte de recursos destinados aos blogs governistas e cobrou uma melhor
estratégia de comunicação do governo nas redes sociais.
A queda de Helena Chagas deve ser lida nesse contexto, assim como sua
substituição por Thomas Traumann. Ex-porta-voz de Dilma, ele é tido como um
profissional mais agressivo que sua antecessora e afinado com Franklin Martins,
que deve ser um dos principais chefes da campanha de Dilma. A intenção,
portanto, é facilitar a sinergia entre a comunicação do governo, do PT e da
campanha da presidente à reeleição, com óbvio prejuízo para a informação
institucional - apartidária por definição.
Um dos campos preferenciais da nova estratégia de comunicação é o das redes
sociais, das quais Traumann já cuidava no governo. É nelas que os militantes
governistas empreendem sua guerra suja, com a disseminação de informações falsas
ou distorcidas para louvar conquistas inexistentes do lulopetismo e para
destruir a reputação de opositores.
Assim, que não se tome pelo valor de face um vídeo recém-divulgado em que
Lula pede que haja comedimento nas redes sociais. O que Lula quer não é reduzir
as agressões contra os adversários do PT, pois são justamente elas que mobilizam
a militância - como bem sabe o ex-presidente, useiro em proferir diatribes
quando está no palanque -, mas sim profissionalizá-las. Ao dizer que a internet
precisa ser explorada com parcimônia e respeito, Lula espera, na verdade, que a
militância seja menos voluntarista e se atenha a uma estratégia de comunicação
muito bem definida, urdida por quem realmente entende do assunto.