O empresário Elon Musk é o chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) (Foto: EFE/EPA/KEVIN LAMARQUE)
É difícil atualmente que passe um dia inteiro sem a exibição, com fogos de artifício e banda de música, de mais uma prova maciça de como a gritaria do mundo oficial contra as fake news é a maior fake news de todas. Na verdade, o que os exércitos de “enfrentamento” à falsidade fazem na vida real é absolutamente o contrário do que dizem, querem e praticam o tempo todo. Apresentam-se como os vigilantes da sociedade contra as mentiras e a desinformação, mas são os que mais mentem e mais desinformam.
Mais hipócrita e mal-intencionada, ainda, é a ficção de que a imprensa considerada “profissional” e “séria” é o lugar onde o público recebe as “informações verdadeiras”, enquanto as redes sociais são “usadas” para difundir as “informações falsas”, e mais tudo o que possa existir de sórdido debaixo do Sol. O que está acontecendo no mundo das realidades é exatamente o oposto: a imprensa, com raras exceções, é a grande usina mundial para a produção de fake news, e as redes sociais são o único meio que o público tem para se defender delas. Ou seja: a mídia mente, e as redes corrigem.
A imprensa 'profissional' e 'séria' foi quem colocou essa mentira do suposto gesto nazista de Musk em circulação, com a agravante safada de fingir que estava apenas mostrando um “gesto polêmico”. As redes sociais é que desmentiram a falsificação na hora
É precisamente isso que acaba de acontecer com a primeira fake news gigante do ano: a notícia e a foto, até a foto, segundo as quais Elon Musk fez uma saudação nazista nas festividades da posse do presidente Donald Trump. É mentira com teores de 100% de mentira. O que Musk fez foi dizer my heart goes do you, colocando a mão direta o seu coração e abrindo o braço para oferecê-lo ao público – uma tradição americana mais velha do que andar para frente.
A imprensa “profissional” e “séria” foi quem colocou essa mentira do suposto gesto nazista de Musk em circulação, com a agravante safada de fingir que estava apenas mostrando um “gesto polêmico”. As redes sociais é que desmentiram a falsificação na hora – nos próprios Estados Unidos, no Brasil e pelo mundo afora, comprovando com as próprias palavras ditas por Musk na ocasião (e ocultadas pela mídia) que não tinha havido gesto nazista nenhum. A moral dessa história, e de tantas outras, é que você precisa das redes, hoje, para se defender das mentiras que os maus jornalistas lhe contam.
Fica óbvio, mais uma vez, porque o regime Lula-STF é o maior defensor da censura política nas redes sociais – embuste de ditadura a que chamam de “regulamentação das plataformas de comunicação digital”. Esse consórcio é o maior produtor líquido de mentiras que existe hoje no Brasil. Não se contenta, em tais condições, apenas em censurar as postagens que não quer ver nas redes. Também precisa, como demonstra esse episódio de Musk, impedir que elas sejam empregadas para expor as suas mentiras e restabelecer a verdade.
É inevitável, num momento desses, que apareça o ministro Barroso para mais uma exibição pública sobre como usar os seus equipamentos destinados a transformar vinho em água. Fez isso, é claro, num palco iluminado do primeiríssimo mundo, em mais um desses eventos patrocinados por bilionários com causas em apreciação no STF – foram para a Suíça, agora. Lá, o presidente do Supremo nos deu uma aula magna sobre a impostura que é a “regulamentação” das redes, tal como demonstrado acima.
Barroso não ligou uma coisa com a outra, mas justamente nessa hora tão ruim para a imprensa que ele e o regime tanto admiram, veio falar de como acha formidável para todos nós a mídia de “qualidade”, essa mesma que deu a fake news do Musk nazista. Na sua cabeça, nunca o Brasil precisou tanto dela quanto agora. Trocou de programa, aí. Quem nunca precisou tanto da imprensa “tradicional” é o consórcio Lula-STF, isso sim. Precisa para receber elogio, espalhar as suas mentiras e impedir que se diga a verdade.
O Brasil precisa, segundo Barroso, da “imprensa que confere fatos e separa fato de opinião, a imprensa que tem um papel importante, que é criar um conjunto de fatos comuns sobre os quais as pessoas formam a sua opinião”. Em que mundo ele vive? Em que momento a imprensa checou alguma coisa no gesto "nazista" de Musk, ou de qualquer coisa que Lula diga, ou no big bang permanente de mentiras que move o presente governo? A única coisa certa que disse, sem querer, foi que a sua imprensa “cria fatos”.
Nunca subestime a capacidade de um ministro do STF para lhe dizer que o triângulo tem quatro lados e que o ângulo reto ferve a 90 graus. Barroso deplorou o mundo em que vivemos hoje – e onde “se formaram tribos polarizadas e cada um acha que pode criar a própria narrativa”. Aí já nem é mais a repetição automática de mentiras que compõe a alma de suas exposições sobre o funcionamento do universo. É estupidez mesmo. Não existe nenhuma tribo tão “polarizada” no mundo como o STF, e ninguém tão fixado sem suas “narrativas”, salvo Lula – mas aí já estamos falando da mesma coisa.
J.R. Guzzo