Comício de Trump em Nova York: eleitores se mostraram preocupados com o rumo da economia dos EUA nas pesquisas antes do pleito| Foto: EFE/EPA/SARAH YENESEL
Donald Trump recebeu uma vitória dupla na última terça-feira (5) ao ser o mais apoiado pelo voto popular e pelos delegados nos estados americanos - apesar de apenas esta última ser a forma viável de um candidato ser eleito nos EUA.
Mesmo sendo incapazes de antever o resultado da votação - a ampla vantagem de Trump nas urnas contrastou com as projeções de uma corrida bastante acirrada - as pesquisas eleitorais apontaram que os eleitores estavam insatisfeitos com o rumo da atual gestão democrata, principalmente quando o assunto é a economia, questão que ofuscou a agenda progressista de Kamala Harris, focada nas "ameaças à democracia" e no aborto.
Nas principais sondagens pré-eleitorais, os americanos acreditavam amplamente que Trump estaria mais preparado do que Kamala Harris para lidar com a economia e a geração de empregos no país, o que refletiu positivamente para ele nos resultados.
Essa visão mais preocupada com as questões econômicas se comprovou com os eleitores latinos, que aumentaram o apoio a Trump nessas eleições. De acordo com a agência Associated Press (AP), quatro anos atrás, quando Joe Biden foi eleito, a pandemia e o racismo eram questões mais importantes para os eleitores negros e latinos, algo que não se repetiu no novo pleito.
Uma pesquisa conduzida pelo Centro de Investigação de Assuntos Públicos da Associated Press-NORC na Universidade de Chicago para a Fox News, PBS NewsHour, The Wall Street Journal e AP, apontou que cerca de 75% dos eleitores jovens, com menos de 30 anos, disseram que o país estava indo na direção errada, e aproximadamente 25% esperavam uma reviravolta completa na administração federal.
Mais de 12 mil pessoas foram consultadas na sondagem e a margem de erro de amostragem foi estimada em mais ou menos 0,4 pontos percentuais.
Outra pesquisa feita pelo jornal Wall Street Journal (WSJ) mostrou que, apesar de especialistas indicarem que a economia americana estava indo "muito bem" - o PIB bruto dos EUA aumentou a uma taxa anual de 2,8% no terceiro trimestre deste ano - essa realidade não foi notada no dia a dia do cidadão comum.
De acordo com o jornal, os americanos ainda estão sentindo o choque de preços altos que se seguiram desde a pandemia, que elevou os gastos das famílias em moradia, alimentação e outros setores básicos. Muitos eleitores estão frustrados por não terem condições de comprar uma casa ou começar uma família.
Uma eleitora de Trump, no estado de Nevada, disse ao WSJ que estava cansada de viver no mesmo cenário dos últimos quatro anos. “Estamos tão cansados. Todos que conhecemos estão tão cansados, como se o pé de alguém estivesse no peito do povo americano nos últimos quatro anos”, disse Amanda DiAntonio, uma cabeleireira de 36 anos.
A inflação dos EUA disparou durante a presidência de Biden, como efeito da pandemia, e deixou muitos outros países na mesma situação. Embora o cenário seja de boa recuperação nos últimos meses, os preços de itens básicos de consumo continuam muito mais altos do que estavam na presidência de Donald Trump (2017-2021).
Segundo dados do Departamento do Trabalho, a medida de preços ao consumidor chegou a ser quase 20% mais alta em setembro deste ano do que em janeiro de 2021, o maior aumento para um único mandato presidencial desde os primeiros quatro anos do republicano Ronald Reagan, na década de 1980.
A pesquisa da AP Cast, com mais de 12 mil entrevistados, mostrou que 96% dos eleitores escolheram Trump por conta dos altos preços da gasolina, mantimentos e outros bens.
Muitos americanos também avaliaram que as altas taxas de juros são um grande problema em suas vidas. Segundo dados do Sistema de Reserva Federal (FED) dos EUA, pouco antes de o banco central começar a elevar suas taxas em 2022, na tentativa de conter a inflação crescente, a taxa média dos planos de cartão de crédito era de 14,6%. Em agosto, pouco antes do FED cortar as taxas pela primeira vez, esse número chegou a 21,8%.
Ainda de acordo com o Wall Street Journal, as taxas de juros subiram em áreas que afetam diretamente a vida dos americanos, como em empréstimos para carros e hipotecas de imóveis.
A taxa média de uma hipoteca fixa de 30 anos subiu de menos de 3% quando Biden assumiu o cargo, em 2021, para 7,8% no ano passado. Desde então, ela caiu para 6,7%.
De acordo com dados do índice de acessibilidade de moradia da National Association of Realtors, a aquisição de casas está em seu nível menos acessível desde o início dos anos 1980.
Uma pesquisa feita em julho pelo Wall Street Journal/NORC, com 1.502 pessoas nos EUA, apontou que 89% dos entrevistados disseram que possuir uma casa é essencial ou importante para sua visão de futuro.
Com a alta expectativa do mercado financeiro com a posse de Trump, o FED seguiu no mesmo caminho ao decidir nesta quinta-feira (7) reduzir o intervalo da taxa básica de juros de 4,75% a 5,00% para 4,50% a 4,75% ao ano.
Apesar de algumas análises mencionarem um risco de aumento da inflação nacional num governo Trump, algumas das propostas econômicas apresentadas durante a campanha republicana, como aumentar as tarifas de produtos importados e reduzir impostos, podem estimular o crescimento econômico nos próximos anos.
Isabella de Paula, Gazeta do Povo