sexta-feira, 27 de novembro de 2020

"A obsessão da imprensa por Donald Trump", escreve Ana Paula Henkel

Com o único propósito de ser anti-Trump, a mídia não saberá o que fazer se não puder culpar o bufão laranja por todo o mal que eventualmente venha a acontecer



A obsessão da imprensa por Donald Trump


Ea grande imprensa oficializou Joe Biden como o próximo presidente dos Estados Unidos. Desde o dia 3 de novembro eleitores de Donald Trump tomaram as ruas do país, vandalizam prédios e saqueiam estabelecimentos comerciais. Veja as fotos… Não, não há fotos, e você não verá imagens também, porque elas não existem. Parece que pessoas que pertencem aos espectros políticos opostos reagem de maneiras diferentes quando não conseguem o que querem. 

Tapumes em portas e janelas por todo o país foram colocados como medida de segurança e proteção. Será que o propósito era conter a fúria de grupos pró-Donald Trump?

Ah, não importa, Trump está fora. E foram quatro anos de “problemas intermináveis”. Desde 2016, os Estados Unidos viviam “os piores anos de sua História”, bastava abrir os jornais, estava tudo lá. Recessões econômicas sempre à vista, guerras prontas para ser iniciadas, índices de desemprego nas alturas, vários processos de impeachment de um dos piores presidentes norte-americanos, cidades sendo queimadas com violentos protestos por culpa do bufão do Twitter e, para coroar o inferno na América, a pandemia do novo coronavírus. 

Tudo culpa de Donald Trump. Pelo menos, era isso que os jornais dos EUA — em um mundo paralelo — noticiavam.

E, como num passe de mágica, os Estados Unidos acordaram em plena harmonia. Não há mais “brutalidade policial sistêmica”, não há mais racismo. A pandemia, que estava totalmente fora de controle até 3 de novembro, agora tem em sua rota a vacina de Joe Biden e o povo está livre para acreditar — e entrar como um rebanho de ovelhas — em outro lockdown que não tem data para terminar. 

A paz reina novamente. 

Quem poderia imaginar que seria tão fácil tirar o “novo Hitler” da Casa Branca? Com a ajuda da fé (e dos votos) do além, o xenófobo, homofóbico, nazista e fascista finalmente vai nos deixar em paz. Você disse recontagem e votos auditados? Batalhas judiciais? 

Não, não se preocupe, os pen drives e relatórios eleitorais já estão sumindo e as cédulas sendo destruídas. Nada para ser visto, agora é só comemorar, o bufão laranja está de malas prontas para a Flórida.

Durante quatro anos, a imprensa norte-americana vendeu “o caos da administração de Donald Trump”. Todos — absolutamente todos — os fatos e feitos de suas políticas públicas foram distorcidos ou escondidos. Seus juízes indicados para a Suprema Corte não apenas tiveram a vida devassada, mas foram xingados, zombados e alvo de mentiras absurdas e humilhantes. Sua família, perseguida.

Melania Trump, esposa do presidente, nasceu na Eslovênia e é a segunda mulher estrangeira (cidadã norte-americana naturalizada) a deter o título de primeira-dama, e a primeira cujo idioma nativo não é o inglês (but wait, a imprensa me disse que Trump era xenófobo). Melania veio para os Estados Unidos jovem, tornou-se uma supermodelo e empreendedora de sucesso, e é uma das mulheres mais bonitas e elegantes do mundo. 

Em qualquer outra situação em que houvesse um mínimo de honestidade jornalística, ela estaria em todas as capas de revista, sendo colocada em um pedestal como ícone fashion e modelo a ser seguido. Mas, durante quatro anos, Melania foi uma das chacotas favoritas da mídia, principalmente a feminina, recheada de mulheres feias rancorosas.


As brigas e a divisão óbvia e irreversível entre os democratas não serão noticiadas


Mesmo com os resultados da eleição ainda sub judice, o bufão laranja e sua família provavelmente sairão da Casa Branca em janeiro de 2021. Mas e aí? 

O que será notícia nos veículos de imprensa dos Estados Unidos sem um bufão, sem um “novo Hiltler” para chamar de seu? Sem um caos para ser reportado ou criado? Ou uma crise econômica para ser incentivada? Quem será o culpado dos sentimentos jornalísticos destroçados por serem chamados de fake news?

Uma das eleições presidenciais mais importantes dos últimos tempos ainda não foi oficialmente concluída, os Estados ainda não enviaram suas certificações e o processo legal só será encerrado em 14 de dezembro, quando os delegados se encontrarão no Colégio Eleitoral para oficializar quem venceu a disputa. Mas, desde 4 de novembro, um dia após as eleições, a grande imprensa já declarou Joe Biden o vencedor e vem entrevistando o democrata como “presidente eleito”.

Conhecido nos Estados Unidos como o rei das gafes  — mesmo passando os últimos meses escondido em seu porão durante uma campanha —, Biden tem concedido entrevistas, no mínimo, peculiares. Além das matérias na imprensa sobre suas meias e seu cachorrinho de estimação, as perguntas direcionadas ao ex-vice de Barack Obama não são sobre políticas públicas ou sobre os possíveis laços financeiros da família Biden com empresas na Ucrânia e na China. Joe Biden é constantemente “bombardeado”, durante ho-ras, com perguntas sobre… Donald Trump.

Biden terá de arrumar estratégias para evitar um possível golpe para derrubá-lo dentro do próprio partido, tudo para que a agenda globalista seja empurrada a todo o vapor na América, e isso não será exposto pela grande mídia. As brigas e a divisão óbvia e irreversível entre os democratas também não serão noticiadas. Nesse tempo, será curioso observar a imprensa não parar de falar sobre Donald Trump depois de afirmar por quatro anos que teve o suficiente de Donald Trump.

Pouco podemos afirmar em um cenário político tão polarizado e dividido, mas, se existe algo claro como a luz do dia, é o fato de que Trump continuará sendo notícia. Algo saiu errado? Culpe a administração passada. A mídia não conseguirá ser a mídia que é sem correr atrás do último tuíte ou declaração do orange man bad. 

Eles não podem e não vão deixá-lo, seu único propósito é ser anti-Trump e eles não saberão o que fazer se não puderem se ofender com tudo o que ele diz. Jornalistas vão perambular pelos campos de golfe de Trump, vão acampar na frente de suas residências na Flórida e ainda ficarão indignados com seu jeito e seus tuítes. Watch.

E o que pode restar para Donald Trump com apenas dois meses no cargo de homem mais poderoso do mundo, depois de uma das mais importantes reformas tributárias da história, depois de nomear mais de 200 juízes federais e três juízes conservadores para a Suprema Corte (que nesta semana já julgaram inconstitucional as medidas do governador de Nova York de fechar igrejas e sinagogas durante a pandemia), que assinou três acordos de paz no Oriente Médio, que trouxe de volta para o Partido Republicano o voto de negros e latinos e da classe trabalhadora?

Trump poderia abrir as portas da “Área 51” e matar nossa curiosidade sobre os aliens, ou tirar o selo de sigiloso dos documentos sobre a morte de JFK. 

Ou, já que Trump não começou nenhuma guerra — fato inusitado para aquele que, segundo a imprensa, começaria a terceira guerra mundial —, poderia invadir Portland com a Guarda Nacional, cidade que arde em chamas e violência há meses sem que as autoridades mexam um dedo para cessar o caos. 

Ou, quem sabe, Trump poderia aplicar um derradeiro golpe no movimento Defund the Police e assinar um último pacote de estímulos às corporações policiais.

Se a imprensa, os democratas, os republicanos traidores, as centenas de pessoas que foram às ruas não para celebrar a vitória de Biden mas para gritar “Fora Trump” não gostavam do presidente Donald Trump, aguardem o ex-presidente Donald Trump. Se ver o Godzilla em ação foi divertido, ver o Godzilla em ação de férias será mais divertido ainda.

Revista Oeste