segunda-feira, 3 de junho de 2019

Previdência: relator vai discutir com partidos 3 formas de incluir estados e municípios na reforma

Relator da reforma da Previdência na comissão especial, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) Foto: Jorge William / Agência O Globo
Relator da reforma da Previdência na comissão especial, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) Foto: Jorge William / Agência O Globo

Sob pressão de parlamentares que não querem incluir estados e municípios na reforma da Previdência , o relator da Comissão Especial que analisa a proposta de emenda constitucional (PEC), deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), vai apresentar aos líderes de partidos no Congresso esta semana três alternativas para que os governos regionais permaneçam no texto. Segundo o presidente da comissão, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), uma das possibilidades é chamada de “embarque”. Ela garante que haverá no texto previsão de que as novas regras da Previdência poderão ser aplicadas a servidores estaduais e municipais, mas somente se forem aprovadas localmente.

Quer saber quanto tempo falta para você se aposentar? Simule aqui na calculadora da Previdência
Para facilitar a tramitação de normas estaduais e municipais, essa primeira alternativa deixaria expresso na PEC que os governos locais podem propor mudanças nas regras da previdência de seus servidores por lei ordinária, instrumento que precisa de quórum menor para ser aprovado.
A segunda alternativa é o “desembarque”. Por essa regra, estados e municípios seriam abrangidos inicialmente pela PEC, mas haveria previsão de que, no prazo de seis meses, pudessem optar por não aderir às normas aprovadas no Congresso, ficando livres para adotar regulamentação própria. Passado esse período, se não fizessem mudanças, ficariam valendo as regras da União. O “desembarque” já estava previsto na reforma do governo Michel Temer.
— O relator vai tentar construir um texto que consiga unificar o máximo de partidos, e talvez considerar a regra de embarque. Mas o pior relatório é o relatório que não tem voto. Não adianta fazer relatório ideal que não tenha voto. Há várias formas de incluir e tirar estados e municípios das regras, mas hoje a tendência majoritária dos líderes é de retirar — disse Ramos.
A terceira opção é a que tem enfrentado maior resistência pelos parlamentares. Deixar o texto como foi elaborado pelo governo para que a reforma da Previdência alcance União, estados e municípios.

Conta recai sobre a união

Ao defender que os governadores adotem alguma medida em relação às regras previdenciárias, Ramos lembrou que a conta do déficit de estados e municípios acaba sendo da União, que os socorre quando necessário:
— Os governadores não podem se omitir. Eles têm que fazer alguma coisa. Tem governador que diz que é a favor, mas não manda proposta de reforma para sua assembleia.
 No último sábado, Samuel Moreira afirmou que seu relatório deve ser apresentado, no máximo, no começo da semana que se inicia no dia 10, antes do prazo determinado de 15 de junho. Até lá, reuniões com líderes de partidos definirão o teor do texto final.
Nesta semana, um grupo de governadores promete fazer pressão sobre as bancadas estaduais e recorrer ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ao relator para manter estados e municípios na reforma da Previdência.
O PESO DO DÉFICIT NAS APOSENTADORIAS
Rombo dos regimes estaduais chegou a quase R$ 90 bi em 2018
A evolução dos gastos para os estados
EM R$ BILHÕES
Déficit dos regimes próprios de previdência
Déficits dos orçamentos dos estados
100
88,5
80
60
47,4
38,4
40
24,6
24,1
17,3
20
6,2
1,9
0,5
0,1
0
2018
2006
2009
2012
2014
R$ 329,4 bilhões
é a economia estimada em 10 anos para
os estados com a reforma da Previdência
Remuneração em R$ mil
UF
APOSENTADOS
ATIVOS
8,8
7,2
Estados em que inativos ganham mais que ativos
DF
7,5
4,6
AP
6,9
6,4
SC
6,8
5,5
MS
5,9
4,3
PA
5,8
5,2
PR
No DF, o valor do benefício do servidor aposentado é quase o dobro da média dos estados
5,5
5,1
RS
5,2
3,5
RO
4,8
4,6
RN
4,6
4,5
SE
4,5
3,7
RR
4,5
3,9
AL
4
3,2
AC
3
2,9
MG
7,8
10
SP
Em média, servidores aposentados ganham
R$ 4.800
por mês
6,7
6,9
MT
5,4
5,6
RJ
5
5,6
TO
4,8
5
ES
4,7
5
GO
4,5
5
PE
A renda média do brasileiro é de R$ 2.285 por mês, segundo o IBGE
4,4
5,9
BA
3,6
4,3
MA
3,6
4,5
CE
3,3
3,9
PI
3,1
3,5
AM
2,4
3,5
PB
Custo social do déficit previdenciário
Divisão do déficit de cada estado pelo número de habitantes mostra quanto cada um “contribui” para pagar essa conta
Cada morador do Rio contribui com R$ 663 por ano
1.038
887
663
615
483
477
461
436
420
410
400
335
357
314
320
286
291
240
201
185
160
144
69
AC
PA
SE
AM
MA
PI
MT
AL
PB
MS
CE
ES
RN
DF
GO
BA
PE
SC
PR
MG
RS
SP
RJ
-0,5
-0,5
-0,3
-0,7
-0,9
-0,9
-1
-1
-1,2
-1,2
-1,4
-1,4
-1,5
-2,3
-2,6
-2,6
-2,5
-3,8
-4,8
-8,2
Déficit
EM R$ BILHÕES
-10,6
-11,1
-18
Fontes: Raul Velloso e Secretaria da Previdência * AP, RO, RR, TO não possuem déficit
— Todos nós vamos nos mobilizar. Talvez não haja coincidência de todos os governadores, mas cada um agindo dentro da sua bancada e junto ao presidente Rodrigo Maia e ao relator para que a matéria esteja incluída no texto — disse o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM).
O argumento é que deixar os estados de fora das novas regras de aposentadoria inviabilizará a todos, com um colapso generalizado no país.
— Ao termos um colapso das estruturas estaduais, o país é levado a uma situação de desordem, de desobediência civil — disse Caiado, afirmando que fazer a reforma sem estados “não é condizente com a gravidade do momento”.
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que está “mobilizando” os senadores para comparecerem na sessão marcada para hoje para votar a medida provisória (MP) que combate as fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O texto perde a validade se não for aprovado hoje. (Colaborou Daniel Gullino)
Renata Vieira e Jussara Soares, O Globo