De volta ao comando da Prefeitura do Rio depois de quatro anos, Eduardo Paes (DEM) afirmou em entrevista ao Estadão que está “mais à esquerda” dentro do DEM e disse considerar “excepcional” o nome do apresentador de TV Luciano Huck, que foi convidado para se filiar à legenda.
Como mostrou o BR Político, está avançada a divisão interna dos principais líderes do DEM, partido que cresceu nestas eleições, entre o apoio ao projeto presidencial de Huck e o do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em 2022.
“Num partido com as características do DEM, que é bem amplo, tem espaço para todo tipo de gente entrar. Eu sou um cara mais à esquerda, na prática. O Huck é um bom nome, um excepcional nome. Mas prefiro focar na gestão, não no processo eleitoral de 2022”, disse o prefeito eleito.
O DEM já tinha protagonismo
com o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, e o presidente
do Senado, Davi Alcolumbre,
e, agora, teve bons resultados
eleitorais. O que isso
diz sobre a conjuntura
política?
Acho que essa eleição foi marcada por uma vitória da política, do diálogo. É lógico que, no nível local, tem também a capacidade da boa gestão, de entrega. E acho que o Democratas fez todo um esforço nos últimos anos para se posicionar no campo do diálogo. Isso é a cara do Maia, do Davi, do ACM Neto. E também temos boas experiências de gestão.
Isso leva a buscar um
protagonismo na eleição
presidencial de 2022?
Eu acho que a eleição de 2020 é uma coisa e a de 2022 é outra totalmente diferente. Em tese, sou sempre favorável aos partidos apresentarem candidatos para a disputa majoritária. Se alguém vai disputar no DEM, não sei. Mas, em tese, sem olhar a conjuntura de 2022, eu acho sempre positivo.
Quem seria? Defende uma
filiação do Luciano Huck,
como tem sido ventilado?
Num partido com as características do DEM, que é bem amplo, tem espaço para todo tipo de gente entrar. Eu sou um cara mais à esquerda, na prática. O Huck é um bom nome, um excepcional nome. Mas prefiro focar na gestão, não no processo eleitoral de 2022. Não digo que não vou participar, mas prefiro não fulanizar a eleição. Nem a favor nem contra o presidente; nem de Huck nem de ninguém. Mas acho que a eleição de 2020 traz uma reflexão sobre a vitória do diálogo, da política. Aliás, o Bolsonaro é político.
A entrada do Huck então
não seria paradoxal,
por ele ser de fora
da política?
Mas o estilo do Huck é muito de diálogo, pela própria história. A atividade profissional dele demanda diálogo, saber estar com o diferente.
O sr. tem pregado diálogo
com Bolsonaro,
mas não teme uma mudança
de postura
do presidente quando a
eleição de 2022
estiver mais próxima?
Não acho. O que tenho tido são sinais de total relacionamento institucional, com representante do Ministério da Saúde conversando aqui, superintendente da Caixa também. Tenho visto muita institucionalidade do Estado brasileiro, do governo Bolsonaro buscando parcerias com a prefeitura.
Como avalia o governo
federal, especialmente
na condução da
pandemia?
Não fico fazendo avaliação, trabalho em parceria com o governo. Não sou analista político.
Durante a eleição,
o sr. descartou largar
a prefeitura para concorrer
ao governo do Estado
em 2022. Mas um convite
o faria mudar de ideia?
Não há a menor hipótese. Digo e repito: eu adoro ser prefeito do Rio, fui por oito anos e serei de novo por quatro anos com o maior prazer.
Acha que o discurso que
o associa ao
ex-governador Sérgio
Cabral (MDB) e à
corrupção está ultrapassado?
Acho que as pessoas compreendem melhor que às vezes você pode se envolver com gente que dá uma desviada nos rumos, que erra. Não se pode ser responsabilizado pelo erro dos outros. Foi o que aconteceu com o meu ex-secretário de Obras (Alexandre Pinto). A responsabilidade é minha por ter designado alguém que cometeu desvios, mas não podem me associar aos desvios.
O sr. ainda mantém um
relacionamento
com o ex-presidente Lula,
de quem já
disse ser um “soldado”?
A última vez que falei com ele foi quando houve o falecimento da dona Marisa. Liguei para prestar solidariedade.
Em outros tempos, teria
reagido de modo
mais explosivo ao prefeito
Marcelo Crivella,
que o acusou até de querer
“pedofilia” nas escolas?
Eu estava lidando com um homem desesperado. Ele perdeu completamente o limite do que é um debate político. Talvez se fizesse certas acusações a mim sem tanta demonstração de desespero, eu teria sido mais firme. Mas, quando o cara está desesperado, não dá para entrar naquele nível. Ele vai ficar com a fama de pior prefeito da história do Rio.
Como analisa o cenário
eleitoral para
o Estado em 2022?
O sr. está próximo
ao Cláudio Castro e ele
já foi cortejado
pelo DEM.
Por mim não foi (cortejado). Me dou bem com o Cláudio, conheço há muitos anos, torço por ele. Ajudarei no que for preciso, como acho que ele me ajudará. Trabalharei em parceria. Mas daí a ter relação próxima tem uma distância enorme. Torço para que ele vá bem, e, se ele for bem, é direito dele ser reeleito. Mas o cara acabou de assumir.
Mas vê algum líder para
2022 no Estado?
Há um vácuo?
Não existe vácuo; se tiver, vai aparecer alguém. Quem seria? Não sei. Se me perguntasse em 2016 se seria um juiz com aquela cara de “171” que ganharia a eleição, eu não diria. As alternativas ficaram no Garotinho, que é o que é; o Romário, que as pessoas não viam com preparo para governador; e eu, que estava ali no meio daquela confusão toda. Alguém foi lá e ocupou o vácuo.
Haverá carnaval em 2021
depois da vacina?
Vai ter prefeito de chapéu panamá, vai ter carnaval em 2021. Provavelmente em julho. Nossa cidade volta a ser uma cidade aberta a tudo e a todos. Uma cidade que quer investimento, que quer negócios, que vai voltar a ser amigável àqueles que quiserem empreender. Vamos abrir de novo o Rio. Passamos quatro anos num período de trevas, obscuro.
Caio Sartori, O Estado de S.Paulo
