As ruas parecem uma colmeia agitada: mulheres carregam baldes de areia, trabalhadores espalham asfalto fresco, um exército de varredores ataca os detritos nas ruas e um novo muro se ergue diante de uma favela, aparentemente para escondê-la dos passantes.
O presidente Donald Trump deverá chegar à cidade de Ahmedabad, no oeste da Índia, nesta segunda-feira (24) para sua primeira visita presidencial ao país, e o primeiro-ministro Narendra Modi planejou um espetáculo épico.
A cidade está sendo totalmente limpa, e muitos milhares de seguidores de Modi foram recrutados para se posicionar durante horas nas ruas sob o sol escaldante, agitando bandeiras e saudando um presidente cujo maior prazer é atrair uma multidão.
É o segundo ato de uma amizade recente entre os dois líderes das democracias mais populosas do mundo. No ano passado, Trump e Modi dividiram o palco em Houston, no Texas, em um comício chamado "Howdy, Modi!" [Oi, Modi]. Este agora é chamado de "Namaste Trump", que se traduz aproximadamente como "Olá, Trump".
Os Estados Unidos e a Índia são parceiros estratégicos, em boa parte por uma preocupação mútua em relação à China, mas ainda não conseguem chegar a um acordo sobre questões cruciais.
"Eles estão nos batendo forte há muitos, muitos anos", disse Trump nesta semana sobre a Índia.
Mas acrescentou rapidamente: "Eu realmente gosto do primeiro-ministro Modi".
Modi parece ter atraído Trump a voar 12.800 quilômetros e passar dois dias na Índia com sua promessa de montar um show enorme, rigidamente controlado, com Trump no centro. O presidente americano afirmou diversas vezes que lhe garantiram uma multidão de 5 a 7 milhões de pessoas para recebê-lo, e na quinta-feira ele aumentou o número para 10 milhões.
Autoridades de Ahmedabad disseram que não chegará perto disso: será algo mais parecido com 100 mil nas ruas e mais 100 mil à espera de Trump em um novo estádio de críquete, o maior do mundo, onde ele fará um discurso.
Trump é popular na Índia, onde é considerado um líder forte, duro contra o terrorismo, amigo das empresas e de Modi. Os dois têm em comum uma espécie de política populista e divisória. Mas Modi não quer correr riscos: vai despachar dezenas de milhares de policiais e espalhar entre a multidão pessoas confiáveis para aplaudir com entusiasmo seu convidado.
Só para ficar à margem da estrada que a carreata de Trump percorrerá durante alguns minutos na segunda é necessário um passe especial, dado a partidários cuidadosamente selecionados, seus aliados e grupos escolhidos a dedo pelo governo. É um nível de controle que Modi pode criar na Índia, muito diferente da Grã-Bretanha, por exemplo, onde Trump se movimentou com cuidado para evitar a visão de multidões hostis.
O modo como o governo indiano decidiu apresentar a visita —não como uma reunião de cúpula de potências, mas como "Namaste Trump"— parece indicar que poderá moldá-la mais como um exercício de relações-públicas, embora memorável, do que qualquer outra coisa.
Viajando com a primeira-dama, Melania Trump, o presidente visitará várias cidades indianas, incluindo uma escala no Taj Mahal. O lugar inicial da visita, Ahmedabad, é tão seguro e pró-Modi quanto poderia ser na Índia e, por extensão, pró-Trump.
A Índia e os EUA claramente precisam um do outro, mas Ashutosh Varshney, diretor do Centro de Estudos Contemporâneos da Ásia Meridional na Universidade Brown, descreve o relacionamento como "dois potenciais amigos".
Mesmo que permaneçam algumas questões difíceis, porém, a visita claramente demonstra a importância estratégica da Índia. "Qualquer visita presidencial é importante por definição; é o mais alto nível de diplomacia que existe", disse Alyssa Ayres, membro sênior do Conselho para Relações Exteriores.
Em Ahmedabad, ninguém está falando em geopolítica. O foco é sobretudo em arrumar a multidão.
Autoridades do partido de Modi disseram que, juntamente com organizações nacionalistas hindus e grupos comunitários, receberam ordem para reunir milhares de voluntários para cercar a estrada e lotar o estádio de críquete.
Hetal Amin, fervorosa apoiadora de Modi que dirige uma organização de mulheres, está levando mil delas para um trecho da estrada entre o aeroporto e a cidade. Ela disse que as autoridades estão dando comida, transporte, passes e bandeiras, mas não dinheiro.
Ela afirma que, quando vê fotos de Trump e Modi juntos, que hoje estão por toda parte em Ahmedabad, vê "dois homens que Deus enviou para trazer paz ao mundo".
Com informações do The New York Times



