sábado, 24 de novembro de 2018

"Pílulas amargas", por Miranda Sá

“O desprezo é uma pílula amarga, que se pode engolir, mas que se não pode mastigar sem fazer caretas” (Jean Molière)
Este ano, logo depois do Carnaval, talvez comovido na Quarta-Feira de Cinzas, o professor Marco Aurélio Nogueira escreveu: “O País está em sofrimento. Desprovido de lideranças e ideias, soterrado por problemas recorrentes: a corrosão ética da política, a inoperância dos partidos, a corrupção endêmica e sistêmica e a tibieza moral das elites”
Na época, listando essas pílulas amargas, Marco Aurélio escreveu por mim. Ainda não havia sequer um vislumbre de que o Brasil poderia se libertar das questões levantadas, como um problema matemático difícil de resolver.
Hoje quase não se fala “pílula” referindo-se ao medicamento tipo confeito, para ser engolido inteiro com auxílio de água. A palavra é um substantivo feminino de origem latina (pílula.ae) e hoje em dia conhecida comercial e coloquialmente como “comprimido”.
O termo pílula é empregado figuradamente como expressão de descontentamento, coisa que incomoda ou desagradável na expressão “Ora Pílulas! ”. E se fala também em “engolir a pílula”, ser iludido; e, “dourar a pílula”, para mascarar algo desprezível.
No ambulatório nacional costumamos engolir a pílula da crise ética da política que se irradiou nos aparelhos de Estado, e sofremos no mês de abril a amargura de assistir os togados do STF, sob a influência dos grupos de pressão da minoria ruidosa lulopetista, inclinados a aprovar o pedido de habeas corpus para evitar a prisão de Lula da Silva, condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro.
Esta concessão se chocaria com a jurisprudência consagrada em 2016, mantendo a prisão de sentenciados à prisão na 2ª Instância e, sem dúvida alguma, atingiria mortalmente a Operação Lava Jato. A felicidade foi que na véspera da votação o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, tuitou uma mensagem expressando o sentimento nacional de repúdio à impunidade.
Este alerta bastou para influenciar o resultado do julgamento, que teve um placar de 6 a 5 rejeitando o pedido do ex-presidente corrupto, evitando-se o levante popular para resistir à volta do reino da corrupção consagrado nos governos de Lula e Dilma.
Assim se fortaleceu o repúdio popular à volta do PT ao poder, e às sucessivas manobras para favorecer o chefe dessa organização criminosa que assaltou o Brasil após o estelionato eleitoral que o levou à presidência.
Como um rito de passagem, o desprezo nacional pelo PT e os seus puxadinhos veio nas eleições de outubro. Logo na campanha eleitoral se desenvolveu a aversão nacional à corrupção e à impunidade, empolgando milhares de pessoas nas redes sociais; e o nome de Jair Bolsonaro representou a insatisfação pela corrosão ética da política, o desdém pelos partidos e a repulsa à corrupção sistêmica.
O povo brasileiro, independentemente de classe social, cor da pele, opção religiosa ou filosófica, convergiu para o candidato que representava as suas aspirações de mudança em todos os setores governamentais, maculados pelo vírus maléfico do narcopopulismo.
A vitória final foi motivo de alegria; e, nos primeiros passos da transição, assistimos medidas saneadoras na administração; varredura no Itamaraty pela recuperação dos valores da soberania nacional; e a esperança de derrotar o crime organizado da traficância ilegal e da política.
Com a designação do juiz Sérgio Moro para a Justiça e Segurança Pública assistiu-se ao acerto eficaz de Bolsonaro. Basta se observar as forças do mal se levantando contra ele, o espectro que aterroriza a bandidagem.
Vemos então que valeu a pena engolirmos pílulas amargas para o bem, e eliminar pela urina da brasilidade os efeitos venenosos do lulopetismo.