Na última semana da campanha, candidatos ao governo de diferentes estados têm ignorado alianças partidárias para tentar colar sua imagem no líder da disputa presidencial, Jair Bolsonaro (PSL), e, tentar crescer nas pesquisas. O movimento ficou claro nos debates realizados pela TV Globo na noite de terça-feira, quando políticos de vários partidos aproveitaram o espaço para declarar apoio a Bolsonaro.
Foi o caso de Indio da Costa (PSD) e Wilson Witzel (PSC), no Rio de Janeiro, e de Alberto Fraga (DEM) e Rogério Rosso (PSD), no Distrito Federal. Na Bahia, José Ronaldo (DEM) também aderiu. O DEM e o PSD estão coligados nacionalmente com o PSDB de Geraldo Alckmin, que tem sido abandonado por aliados pelo fraco desempenho nas pesquisas de intenção de voto. Já o PSC apoia Alvaro Dias (Podemos), tendo inclusive indicado seu vice, Paulo Rabello de Castro.
Em Minas Gerais, um candidato do partido Novo também indicou apoio a Bolsonaro. No debate de anteontem, o candidato do Novo, Romeu Zema, afirmou que quem quer “mudança” deve votar em Bolsonaro “ou” em João Amoêdo, presidenciável do seu partido. Ontem, após ser alvos de críticas, Zema divulgou nota dizendo que se expressou mal e que o “único candidato” do Novo é Amoêdo.
As traições já vem ocorrendo durante a campanha. Em Pernambuco, a Rede expulsou no mês passado Júlio Lóssio, que era candidato ao governo pelo partido, após ele se aliar a políticos locais ligados a Bolsonaro.
Na semana passada, o candidato do PSD ao governo de Santa Catarina, Gerson Merisio, também ignorou a aliança nacional com o PSDB e declarou voto no candidato do PSL, “por uma questão de coerência com o que deseja Santa Catarina”.
Em alguns casos, a traição é realizada pelos candidatos a vice, e não pelos titulares da chapa. Foi o que ocorreu com Marcelo Delaroli (PR), companheiro de Romário (Podemos) no Rio, e com Marcos Montes (PSD), vice de Antonio Anastasia (PSDB) em Minas Gerais.
Alckmin 'emperrou'
Não são apenas os candidatos aos governos estaduais que estão abandonando Alckmin. Integrante da coligação do presidenciável, o presidente nacional do Solidariedade, deputado federal Paulinho da Força (SP), avaliou que o tempo para uma virada do tucano na eleição já passou.
Paulinho considera que o centrão (DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade) não teve a “coragem” de apoiar Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno e defende agora que as legendas liberem seus filiados no segundo turno.
— A candidatura do Alckmin emperrou por causa do PSDB. O PSDB, nas nossas pesquisas lá atrás, era mais rejeitado do que o PT e o MDB. Então, era muito difícil, num momento em que a população está descrente da política, ter um candidato de um partido tão rejeitado chegando ao segundo turno — avaliou o deputado.
Enquanto isso, o tesoureiro tucano, deputado Sílvio Torres (SP), reagiu à debandada de aliados e disse que a campanha de Alckmin está sofrendo nesta reta final com traições motivadas pelo “oportunismo”.
— Independentemente dos personagens, isso se repete em todas as eleições. Faz parte da cultura política brasileira, criada no oportunismo e na ideia obsessiva de levar vantagem às custas de princípios e valores — disse Torres.
Ontem, os médicos de Bolsonaro contraindicaram a participação dele no último debate entre presidenciáveis, hoje à noite, na TV Globo. Após uma nova avaliação e apesar do bom estado clínico do candidato, a equipe avaliou que ele ainda não pode se submeter ao cansaço de duas horas de debate.
— Depois da nossa avaliação clínica, nós contraindicamos participação em debates ou em qualquer atividade que pudesse cansá-lo ou obrigá-lo a falar por mais de dez minutos — disse o cirurgião Antonio Luiz Macedo.
Por duas vezes, Macedo declarou ao GLOBO que Bolsonaro poderia ir ao debate se mantivesse as condições de saúde Ele é chefe da equipe que cuidou do deputado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde o candidato ficou internado.
Daniel Gullino, Cristiane Jungblut, Amanda Almeida e Jussara Soares, O Globo