Em entrevista ao Jornal Nacional na noite desta terça-feira (28), Jair Bolsonaro (PSL) disse que cabe à Justiça resolver a diferença salarial entre homens e mulheres.
O candidato vem tentando se desfazer da imagem de misógino e se mostrou irritado ao ser questionado sobre o tema.
Bolsonaro repetiu que a equiparação salarial é garantida pela CLT, mesmo quando foi indagado sobre pesquisa do IBGE que aponta que as mulheres recebem, em média 25%, menos que os homens.
"Já está na CLT. A CLT já garante salário igual para homem em mulher. E se a lei não está sendo cumprida, a quem compete resolver é a Justiça", afirmou.
O presidenciável interrompeu por diversas vezes a jornalista Renata Vasconcellos e afirmou que ela recebe menos do que William Bonner, ao lado de quem ela apresenta o telejornal.
"Estou vendo uma senhora e um senhor aqui e com toda certeza há uma diferença salarial aqui, parece que é muito maior para ele do que para a senhora", disse.
"O meu salário não diz respeito a ninguém, mas posso garantir ao senhor como mulher que eu jamais aceitaria receber um salário menor de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu", respondeu Renata.
Questionado novamente se fará alguma ação para reduzir a desigualdade, o candidato se esquivou. "Por que o Ministério Público do Trabalho não age? Eu não tenho ingerência sobre isso. É só as mulheres denunciarem", respondeu.
Sobre a questão trabalhista, Bolsonaro repetiu frase normalmente dita por empresários, que afirmam que o trabalhador precisa decidir se quer menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego. Perguntado então sobre quais direitos mudaria para o trabalhador, ele respondeu que isso é de competência do Congresso.
"Quem por ventura tira direitos não é o chefe do Executivo, vai ser a Câmara e o Senado", afirmou, sem detalhar quais itens ele defende que sejam suprimidos das leis trabalhistas.
O candidato afirmou ter votado contra a PEC das domésticas —lei que estendeu aos trabalhadores domésticos os mesmos direitos da CLT— porque a legislação provocou desemprego.
"Eu fui o único a votar a contra nos dois turnos, não houve erro", disse. Ele foi confrontado por Bonner, que afirmou que indicadores do IBGE, na verdade, mostram que não houve demissões.
O deputado defendeu a imunidade para policiais como forma de combater problemas na área de segurança pública e disse que criminosos não podem ser tratados como seres humanos.
"Esse tipo de gente você não pode tratar como um ser humano normal que deve ser respeitado, como uma vítima da sociedade. Nós não podemos deixar os policiais continuarem morrendo na mãos desses caras", afirmou.
Em resposta, disse que a solução é "deixar livre da linha de tiro as pessoas de bem da comunidade ir com tudo para cima deles".
"Ele [policial] entra, resolve o problema e se matar 10, 15 ou 20 com 10 ou 30 tiros cada um ele tem que ser condecorado e não processado."
Ao ser questionado sobre declarações de seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão, sobre ação das Forças Armadas, Bolsonaro negou que o Brasil tenha vivido um período de ditadura militar, afirmando que tudo ocorreu dentro da lei.
"Os militares foram eleitos presidentes da República por cinco mandatos", disse, embora o Brasil não tenha realizado eleições diretas para presidente da República durante o período militar, entre 1964 e 1985.
Questionado sobre sua afirmação ser contrária aos historiadores, Bolsonaro voltou a repetir editorial de Roberto Marinho, de 7 de outubro de 1984, quando o ex-dirigente da Rede Globo afirma que apoiou o governo militar.
"Deixo os historiadores para lá, eu fico com o Roberto Marinho com o que ele declarou no dia 7 de outubro de 1984."
Bolsonaro negou ser homofóbico, embora tenha voltado a dizer que não acha certo um pai encontrar um filho brincando de boneca "por influência da escola".
Ele usou novamente uma cola na mão, a exemplo do que fez no debate entre presidenciáveis promovido pela RedeTV! há duas semanas.