Equipes de resgate caminham em uma caverna do complexo de Tham Luang durante missão
para evacuar os membros restantes de um time de futebol presos no local em Chiang Rai,
norte da Tailândia - 10/07/2018 (@elonmusk/Twitter)
para evacuar os membros restantes de um time de futebol presos no local em Chiang Rai,
norte da Tailândia - 10/07/2018 (@elonmusk/Twitter)
Mal refeito da ressaca pesada causada pela derrota da seleção na Copa da Rússia, domingo (8/7) o País acompanhava — solidário e meio distraído — o noticiário sobre o sucesso inicial da incrível operação de resgate do primeiro grupo de garotos do time Javalis Selvagens e seu treinador, presos em uma caverna na Tailândia, desde o dia 20 de junho.
Na mesma data, logo cedo, começou também, a estranha transação do plantão do TRF4, protagonizada a partir de Porto Alegre, pelo desembargador Rogério Favreto. Com uma canetada monocrática, ele mandou soltar, “com urgência”, o ex-mandatário e pré-candidato do PT às presidenciais deste ano, Luiz Inácio Lula da Silva, condenado por um tribunal superior, a 12 anos e um mês (por corrupção passiva e lavagem de dinheiro), preso numa cela da PF, em Curitiba.
O domingo, que na tradição popular “pede cachimbo”, ficou carregado de tensões e conflitos jurídicos. Fla x Flu insensato de ódios e agressividades nas redes sociais da web, palpites e desinformação de todo tipo e de todo lado, até que o presidente do Tribunal Regional Federal da Quarta Região, Carlos Eduardo Thompson Flores, deu um basta. Decidiu que Lula continua preso e que o processo retorna ao relator, Gebran Neto.
Na terça-feira, 10, “ódios aplacados, temores abrandados”, como nos versos da canção Amanhã, de Guilherme Arantes, o jornalista (em geral cético pelos ensinamentos da profissão) volta-se novamente para o drama na Tailândia, e fica outra vez esperançoso e contente, ao ler o relato da repórter Macarena Vidal Liv, do El Pais, em cima do fato, direto da porta da caverna, dando conta de que acabara de ser concluída com sucesso, a delicada operação de resgate dos 12 meninos do time Javalis Selvagens e do treinador, presos dentro da gruta de Thang Luang, no norte do país asiático.
“Foram necessários dezenas de mergulhadores, um enorme esforço de cooperação internacional e uma luta corajosa contra o tempo e a água. Mas o alívio é imenso”, assinala a enviada especial do jornal espanhol. Todos salvos, neste caso exemplar para o mundo, pelas muitas lições que encerra, inclusive de competência técnica e e entrega humanitária. Estou contente também.
Mas confesso: no começo desta história exemplar como poucas, inclusive para o jornalismo, temi por um desastre no fim. Um tipo de temor parecido ao que senti, igualmente, domingo passado, diante das primeiras notícias sobre a “inusitada e teratológica” decisão do desembargador plantonista do TRF4, na perfeita definição da presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Laurita Vaz, ao negar habeas corpus apresentado contra a decisão do presidente do TRF4, que cassou o mandado de soltura de Lula.
A preocupação, principalmente no caso dos meninos presos na caverna da Tailândia, veio acompanhada da lembrança do filme antológico A Montanha dos Sete Abutres (1951), de Billy Wilder, que critica ferozmente a falta de ética no jornalismo. A história de Charles Tatum, o jornalista sem escrúpulos de um jornalzinho do interior dos Estados Unidos (mas que ambiciona o Pulitzer) e do mineiro Leo Minota, que sofre um acidente e fica preso nas ruínas de uma antiga mina indígena no estado do Novo México. O fato desperta interesse dos grandes jornais, e Tatum (Kirk Douglas), decide, então, interferir no fato. E temos o trágico drama de “como a imprensa, um dos pilares da democracia, acaba muitas vezes, tomada pela mistificação e pela empulhação militante, e se converte num dos maiores algozes do regi me das liberdades públicas”, leio em artigo sobre o filme, no Observatório da Imprensa, do saudoso Alberto Dines.
Imagino que, onde ele estiver, também deve estar contente com o jornalismo e o desfecho (oposto ao da obra prima de Wilder), nos casos dos meninos da Tailândia e do absurdo de domingo passado, no plantão do TRF4. Viva!
Vitor Hugo Soares é jornalista
Com Blog do Noblat, Veja
