quarta-feira, 4 de julho de 2018

E-mails reforçam uso de propina na compra de prédio para o Instituto Lula


Marcelo Odebrecht, durante a delação - Reprodução - 12/04/2017 / Agência O Globo


Cleide Carvalho, O Globo


Novos e-mails adicionados à ação penal em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é acusado de receber propinas da Odebrecht confirmam que valores pagos na compra de um imóvel para o Instituto Lula foram debitados na conta corrente de propina para o PT.

Ao orientar sobre o pagamento, o empresário Marcelo Odebrecht diz a seus executivos para debitarem de uma conta "que Hilberto S. mantém". Hilberto Silva era o responsável pelo departamento de propina da empreiteira.

"O custo ... É uma conta que Hilberto S. mantém debita a 3 fontes distintos 3 x 1.057.920", recomenda Marcelo Odebrecht, em email encaminhado a Paulo Melo, um dos executivos da empresa, em 9 de setembro de 2010.

Os e-mails mostram ainda que o ex-ministro Antonio Palocci, que confessou ter administrado a conta corrente do PT na empreiteira, foi avisado da compra do imóvel por meio de seu assessor, Branislav Kontic.

No dia 9 de setembro de 2010, Marcelo reencaminhou para Kontic uma mensagem que recebeu de Melo, no qual o executivo lhe informa sobre a compra do prédio.

"Marcelo, o imóvel foi comprado hoje via contrato particular e efetuado pgto. Não foi possível fazer a escritura pública ainda por pendências, o advogado está providenciando a solução", diz o email de Melo.

E Marcelo Odebrecht repassa a Kontic: "Brani, peço avisar o chefe".

Outro email indica que o empresário Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, também acompanhou a compra do imóvel. Numa mensagem encaminhada a Alexandrino Alencar, homem de confiança do patriarca do grupo, em novembro de 2010, Marcelo afirma: "A compra/construção do prédio sou eu. O resto entendo que meu pai alinhe com ele."

Os emails foram anexados ao processo pela defesa de Glaucos Costamarques, primo de Bumlai, que aparece como dono de uma cobertura vizinha à do ex-presidente Lula. Ele disse que comprou o imóvel a pedido de Bumlai e que nunca recebeu aluguel.
A defesa do ex-presidente argumenta ainda que o prédio comprado pela Odebrecht não foi aceito pelo Instituto Lula.

Para o Ministério Público Federal, Costamarques foi usado como laranja e o apartamento foi pago pela Odebrecht.

A defesa de Lula afirma que pagava aluguel pelo imóvel, que é vizinho ao apartamento da família, e apresentou recibos que, segundo Costamarques, foram assinados todos num único dia, quando ele estava internado num hospital.

LULA TEM MAIS DOIS RECURSOS NEGADOS

Nesta quarta-feira, a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) negou dois pedidos da defesa do ex-presidente Lula contra o juiz Sergio Moro, para que ele seja declarado suspeito nos julgamentos de duas ações ainda em andamento na Justiça Federal de Curitiba - uma relacionada ao sítio de Atibaia e a segunda à compra de um prédio para o Instituto Lula.

A defesa de Lula alegou que Moro participou como palestrante no Lide Brazilian Investment Fórum, em Nova York, em maio deste ano, promovido pela empresa de João Dória Jr, candidato ao governo de São Paulo, e que o magistrado fez referência à prisão de Lula.

O desembargador federal João Pedro Gebran Neto afirmou que existe a tentativa nítida de politizar solenidades que não políticas. E que a presença de políticos não transforma um evento em político-partidário.

“A participação de eventos com ou sem a presença de agentes políticos não macula a isenção do juiz, em especial porque possuem natureza meramente acadêmica, informativa ou cerimonial, sendo notório que em tais aparições não há pronunciamentos específicos a respeito de processos em andamento”, defendeu Gebran Neto.