domingo, 10 de junho de 2018

Trabalhador informal ganha até 10% menos do que ganhava há quatro anos, antes do início da crise


trabalhador brasileiro que exerce uma atividade informal hoje ganha em valores reais, já considerada a inflação, até 10% menos do que ganhava há quatro anos, antes do início da crise, segundo cálculos da consultoria LCA com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. 
O rendimento real caiu para todas as faixas etárias de trabalhadores que estavam fora do mercado formal, na comparação entre o primeiro trimestre de 2014, ano em que o País vivia uma sensação de pleno emprego, e os três primeiros meses deste ano. 
Sem direitos trabalhistas, esses brasileiros viram a renda diminuir e a vulnerabilidade aumentar. A renda real deles vinha aumentando entre o início de 2012, primeiro ano da Pnad Contínua, até 2014. A partir de 2015, com a recessão e a reversão do emprego, esse rendimento começou a cair. 
Os números levam em consideração os empregados em empresas privadas sem carteira assinada e os trabalhadores por conta própria. O total de trabalhadores nessa situação aumentou de 35,7 milhões, no primeiro trimestre de 2012, para 38 milhões no mesmo período deste ano – a maioria deles com idades entre 26 e 50 anos. 
“A crise transformou formais em informais e colocou no mercado algumas pessoas que nunca tinham precisado trabalhar. Para essas pessoas, a porta de entrada foi a informalidade”, afirma Cosmo Donato, da LCA.
Os informais brasileiros com idades entre 19 e 25 anos foram os que mais perderam – tiveram uma queda de 9,6% do rendimento médio mensal, passando de R$ 1.042 por mês para R$ 941,70, enquanto os trabalhadores mais velhos perderam entre 5% e 7% da renda.
O rendimento real dos formais também caiu, mas a queda nas três principais faixas etárias é menor do que entre os trabalhadores informais que tinham a mesma idade. 
Segundo Donato, é natural que o rendimento real do trabalhador tenha caído nesse período. “O trabalhador informal sempre teve de sobreviver em condições complicadas, mas sua renda foi muito afetada porque a crise fez com que a única forma de inserção de milhões de pessoas no mercado fosse pelo trabalho sem carteira assinada ou por conta própria.”
informal
Falta de vagas empurra para trabalho informal Foto: Amanda Perobelli/Estadao
Donato lembra que dois fenômenos costumam ocorrer durante períodos de recessão: o trabalhador formal aceita ganhar menos para exercer a mesma função, e a falta de vagas empurra trabalhadores menos qualificados para a informalidade.
“O grosso do emprego está nas empresas pequenas, que geralmente têm menos condições de oferecer qualificação ao trabalhador”, diz o professor do Insper, Sérgio Firpo. “Muitas dessas empresas não têm nem CNPJ e sobrevivem com uma série de restrições. O empregador acha que, se contratar formalmente, quebra.”
Mais vulneráveis. A informalidade também cresceu mais entre os brasileiros que têm de 19 a 25 anos do que nas demais faixas etárias: aumentou 5,4% entre 2016 e o ano passado, enquanto a média, considerando as quatro faixas, foi de 2,5%.
“Muitos jovens tiveram de antecipar a entrada no mercado para recuperar parte da renda da família. Quando o chefe da casa, geralmente mais qualificado, perdeu o emprego, os outros componentes da família acabaram aceitando o emprego que apareceu”, diz Donato.
Douglas Gavras, O Estado de S.Paulo