Em qualquer competição esportiva ou ato da monarquia em Madri, quando o hino espanhol é executado, todos ficam mudos. Somente antes ou depois dos jogos em que os torcedores estão mais empolgados, eles cantam sílabas sem sentido: “lo-lo, lo-loooo”.
A Espanha é um dos raros países cujo hino não tem letra. Os outros são Kosovo, Bósnia Herzegovina e San Marino.
Isso acontece porque o hino nasceu como uma marcha militar. Sua função era acompanhar os desfiles. Não havia motivo para ter uma letra. Depois, todas as tentativas de se colocar palavras sobre as notas musicais não conseguiram agradar a todos.
O governo provisório da II República, que existiu durante a guerra civil (1931-1939) trocou o hino por outro. Ao final do conflito, com a instalação da ditadura de Francisco Franco, a canção anterior foi restabelecida, mas nunca teve letra. A partir de então, a música passou a ser associada ao ditador. Aqueles que não iam com a cara dele resolveram formular frases da própria cabeça: “Franco, Franco que tiene el culo blanco porque su mujer lo lava con Ariel…“.
No início de 2018, a cantora espanhola Marta Sánchez fez uma versão com letra. Foi criticada porque se referia a deus, o que não tem cabimento levando-se em conta que a Espanha é um Estado laico.
Meses depois, o cantor Francisco sugeriu outra letra, em que pedia pela união do país. Foi condenado pelos separatistas de Barcelona, que o acusaram de ter intenções políticas.
Em um país dividido, o risco de qualquer letra parecer equivocada é enorme. A Espanha, assim, provavelmente continuará sem letra para seu hino. A música já tem 250 anos, no total, e deve continuar assim.