sexta-feira, 8 de junho de 2018

Morre Maria Esther Bueno, lenda do esporte brasileiro



Lenda do tênis mundial e por muitos anos comentarista da modalidade no canal Sportv, Maria Esther Bueno morreu nesta sexta-feira. A ex-atleta de 78 anos, que fez história durante as décadas de 1950 e 1960, estava internada no Hospital 9 de Julho, em São Paulo, após ser diagnosticada com um câncer na boca. Posteriormente, a doença evoluiu com metástase para ombro e costas.
"Informamos o falecimento da paciente Maria Esther Bueno nesta noite no Hospital 9 de Julho, onde esteve internada para tratamento oncológico. Em respeito à privacidade da família e à memória desta importante esportista, o Hospital 9 de Julho se reserva a não fornecer mais nenhum tipo de informação", resumiu o hospital em comunicado oficial.
O velório de Maria Esther será no Salão Oval do Palácio dos Bandeirantes, do governo de São Paulo. A cerimônia será realizada das 8 às 15 horas.
A ex-tenista foi diagnosticada com um câncer no lábio, chegou a fazer uma cirurgia, porém evoluiu com metástase para ombro e costas. Durante o tratamento, ela chegou a jogar tênis na Sociedade Harmonia de Tênis, clube que frequentava, em São Paulo, mas teve de ser hospitalizada há pouco mais de duas semanas para cuidados intensivos devido ao agravamento do quadro, e precisou ser sedada na quarta-feira e seu quadro ficou inalterado até o falecimento nesta sexta-feira.
Com a raquete na mão, Maria Esther fez história e foi a primeira representante brasileira a se destacar na modalidade. Durante a carreira, a paulistana se tornou um dos principais nomes do esporte durante a transição do amadorismo para o profissionalismo.
Maria Esther Bueno conquistou sete títulos de Grand Slam de simples - quatro no Aberto dos Estados Unidos e três na tradicional grama de Wimbledon. Ela ainda levantou o troféu nas duplas em 12 oportunidades (uma delas nas duplas mistas ao lado do australiano Bob Howe).
Nas duplas, a brasileira colocou seu nome na história ao vencer os quatro torneios de Grand Slam no mesmo ano em 1960, marca atingida apenas por outras lendas como Martina Navratilova, Pam Shriver e Martina Hingis.
A carreira extremamente vitoriosa alçou a tenista ao Hall da Fama da modalidade no ano de 1978. Em 1959, temporada na qual venceu Wimbledon e o US Open, Maria Esther Bueno recebeu o prêmio de Atleta do Ano pela Associated Press (AP), sendo a única atleta do país a chegar a tal feito (tanto no masculino quanto no feminino).

Pioneira do Brasil nas quadras

Nascida em 11 de outubro de 1939, a lendária tenista brasileira começou a carreira aos 12 e, ainda adolescente, conquistou o primeiro torneio. A paulistana, que cresceu nas quadras do extinto Clube de Regatas Tietê e era frequentadora assídua da Sociedade Harmonia de Tênis, teve a sua trajetória profissional interrompida no final da década de 60 por uma lesão no cotovelo direito.
11.07.59/Folhapress
Maria Esther Bueno lê os jornais que ressaltaram sua vitória em WimbledonImagem: 11.07.59/Folhapress
Maria Esther chegou a tentar o retorno jogando com o braço esquerdo nos anos 70, mas não teve o mesmo brilho. Antes figura constante entre os principais nomes da modalidade, a brasileira chegou a alcançar o número 29 do mundo em 1976 na WTA, em um dos poucos rankings no qual ela apareceu desde a criação da entidade, em 1973.
A ex-tenista também se destacou um motivo além do jogo durante o profissionalismo. Maria Esther fez parceria com o renomado estilista Ted Tinling, responsável por produzir os vestidos que a tenista usava em quadra, e ganhou destaque pela elegância nos trajes esportivos.
O ingresso no circuito internacional, ainda na Era Amadora, veio em 1958, já com um título de duplas em Wimbledon aos 19 anos.

"Bailarina do tênis" recebeu diversas homenagens

Andre Penner/AP
Maria Esther Bueno posa ao lado de Gustavo Kuerten, outro brasileiro a chegar ao topo no tênisImagem: Andre Penner/AP
De acordo com o Hall da Fama do Tênis, Maria Esther Bueno ocupou o topo do ranking mundial em 1959, 1960, 1964 e 1966. A elegância da brasileira também aparecia no estilo de jogo, como mostram obras dedicadas à modalidade, reproduzidas pelo site da entidade que reconhece os melhores tenistas da história.
“O incomparável balé de Maria Esther Bueno. Seu voleio bonito, sempre jogando com ousadia e brio, a brasileira se tornou a primeira sul-americana a conquistar Wimbledon”, escreveu Bud Collins em “A Enciclopédia do Tênis.”
“Ela parecia como uma exótica gata siamesa na quadra. Maria é sinuosa, elegante e feminina. É a Rainha de Wimbledon”, descreveu Gwen Robyns, por sua vez, no livro “Wimbledon: The Hidden Dream”.
O sucesso nas quadras lhe rendeu diversas homenagens. Maria Esther emprestou seu nome à quadra central do Parque Olímpico da Barra, palco do tênis nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Ela ainda teve uma estátua exposta no museu de cera Madame Tussauds, em Londres.
Outras estátuas foram construídas em sua homenagem em São Paulo: uma no complexo esportivo do Pacaembu, uma no Clube de Regatas Tietê e outra na praça Califórnia, em Pinheiros.
Presença nas tribunas como convidada de honra anualmente em Wimbledon, Maria Esther atuava como comentarista de tênis no Sportv desde 2006.
Alexandre Cossenza, Demétrio Vecchioli, José Edgar de Matos e Rubens Reis, UOL