sábado, 9 de junho de 2018

Bate cabeça em Brasília, Salvador da novela e a Bahia de fato, por Vitor Hugo Soares

Graves dias juninos de bate cabeça em Brasília, enquanto criminosas fogueiras de ônibus se propagam em Minas Gerais, facções de bandidos no Nordeste ordenam ataques nas ruas de Natal (RN). A PM baiana espanca jovem e arrasta mulher grávida (ambos “pretos e pobres quase brancos tratados como pretos” dos versos de “Haiti”, sobre o Pelô. A gestante, cruel e covardemente puxada pelos cabelos no meio da praça repleta de gente em dia de domingo, durante “operação” repressiva no ponto histórico da capital.
Aviltamento explícito, mostrado em rede nacional, no mesmo espaço das imagens deslumbrantes do folhetim das nove, na TV.
Uma semana de inquietações a granel também no resto do País. No Rio, Manaus, São Paulo (neste caso, não só na estrada de Santos, do porto maior das dores de cabeça do mandatário Michel Temer (MDB), mas também dos sérios aperreios políticos e morais tucanos, que não poupam maiorais do porte de Geraldo Alckmin, José Serra e FHC. Da procissão de petistas à cela de Lula, em Curitiba, na espera de um sinal de desistência da teimosia do chefe na tentativa improvável de voltar a mandar no Palácio do Planalto, ou de um aceno de apoio providencial nas eleições que se aproximam. Missa e pregação louvatórias do preso.
Mas moro em Salvador, do Santo Antonio Além do Carmo, solene, encantador e pacato bairro residencial, que voltou ao foco dos olhares e da atenção do País. Para o bem e para o mal. Na Cidade da Bahia de todos os santos e de quase todos os pecados, cenário de sonhos de “Segundo Sol”, a novela que já chegou carregada de polêmicas e de faíscas (como é própria de terra que sempre gostou de namorar o fogo). Mundo de contrastes e segredos insondáveis, mesmo para quem sempre viveu aqui.
Da topografia de imagens esplêndidas. Dos personagens mais imprevisíveis e insólitos, mesmo quando representados, em sua maioria, por “gente branca de fora”, motivo de ácidas críticas da primeira fase do folhetim do horário nobre, ao lado da “Roma negra”, submersa, escondida e quase invisível, no início da história do lendário artista do Axé, Beto Falcão, personagem central do folhetim de João Emanoel Carneiro, dirigida por Denis Carvalho. Não por acaso, diga-se, o casarão onde mora a emblemática família de Beto, fica no Santo Antonio.
O que importa aqui, no entanto, é o registro jornalístico de que, no Além do Carmo, o País viu pela televisão, esta semana, um retrato sem retoques da Bahia de fato, da vida real. Face mais brutal, violenta, feia e desumana da cidade amada de tanta gente, dentro e fora do Brasil. Cenas brutais que lembram tempos das cavernas, em imagens reveladoras, colhidas no momento exato da ação truculenta de agentes da PM baiana, filmada por populares e mostrada depois nos noticiários da TV local e no JN, na segunda-feira, minutos antes de novo capítulo de “Segundo Sol” entrar no ar.
As imagens falam por si, mas perguntar é preciso: que polícia e que Bahia é essa? Responda quem souber.
Vitor Hugo Soares é jornalista
Com Blog do Noblat, Veja