Lula chamar Fernando Henrique Cardoso para sua testemunha de defesa tem um quê de obsessão que a psicanálise parece explicar melhor que o direito.
Depois de uma transição civilizada, Lula e o PT se puseram a sistematicamente desconstruir o legado de FHC, martelando teclas como a “herança maldita”, assim batizada por José Dirceu, e o “nunca antes neste País” com que Lula pretendia dizer que tinha inventado a roda em todas as áreas.
Muitas vezes Lula investiu na contraposição entre os feitos de um operário de poucas letras (ele) e o “príncipe dos sociólogos”.
Quando começaram as investigações do petrolão, era comum ele ou petistas dizerem que seu instituto tinha recebido contribuições parecidas com as feitas ao do rival.
Foi essa a tese que levou Lula a arrolar o antecessor para depor.
Pelo tom algo jocoso que adotou, FHC parece ter tido o gostinho de mostrar, 16 anos depois, quem está hoje em melhores condições.
Mais um tiro pela culatra no aspecto jurídico de uma defesa que prefere, sempre, a política.
Por Vera Magalhães, O Estado de São Paulo