A Copa da Rússia começou na quinta-feira, com uma partida em que os anfitriões golearam a Arábia Saudita por 5 a 0. Hoje à tarde, é a vez de a seleção brasileira fazer sua estreia na competição. Mas esse novo ciclo, que de quatro em quatro anos mobiliza 209 milhões de torcedores brasileiros, se inicia sem que o anterior tenha sido encerrado. Nada a ver com a traumática queda diante da Alemanha, por 7 a 1, no Mundial passado. Faz parte do jogo.
Ganha-se ou perde-se. O que soa como ruína é o fato de obras planejadas para a Copa de 2014, e que consumiram milhões de reais em recursos públicos, não terem sido concluídas até hoje. Esta sim é uma derrota acachapante para o país.
Como mostrou reportagem exibida pela “GloboNews”, com base num levantamento do site G1, 11 das 12 cidades que sediaram a Copa de 2014 — a exceção é o Rio de Janeiro — ainda ostentam canteiros de obras inacabadas, a maioria na área de mobilidade urbana.
Somente em São Paulo, Brasília, Recife e Fortaleza, projetos de “legado” orçados em R$ 2,4 bilhões ainda não foram entregues. E sabe-se lá quando serão. Os motivos alegados vão desde a falta de recursos, em meio ao agravamento da crise financeira, a impasses com empreiteiras, passando por problemas de desapropriação ou licenciamento ambiental.
Entre esses desacertos, está, por exemplo, as obras no entorno do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, a arena mais cara da Copa — o custo se aproxima de R$ 2 bilhões — e uma das mais inúteis, forte candidata a se tornar elefante-branco. A reurbanização e a construção de passagens subterrâneas não saíram do papel. O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que ligaria o aeroporto ao Centro da capital tragou R$ 20 milhões, mas a obra foi cancelada por determinação da Justiça.
Na capital paulista, o monotrilho que se estenderia do Aeroporto de Congonhas ao metrô permanece no esqueleto. A obra estava prevista para durar dois anos, mas se arrasta há sete. O trajeto inicial foi encolhido em dez quilômetros, porém o preço mais que dobrou — saltou de R$ 1,3 bilhão para R$ 3,5 bilhões. Era para 2014, mas agora só deve ser entregue em 2019.
Em Fortaleza, as obras do VLT iniciadas em 2002 já consumiram R$ 246 milhões do orçamento de R$ 380 milhões, mas a maior parte das estações ainda se encontra em construção. Agora, promete-se inaugurá-la este ano.
No Recife, a construção de uma ponte nos arredores da arena de Pernambuco ficou pela metade, e o restante da obra foi abandonado.
Embora a Copa do Brasil já tenha acabado há quatro anos, é preciso que essas obras em andamento sejam concluídas, para que a população possa usufruir de seus benefícios. Até porque elas já consumiram dinheiro público. E que os órgãos de controle, como tribunais de conta e Ministério Público, se encarreguem de investigar os motivos dos inaceitáveis atrasos, para que os responsáveis por esse descalabro recebam cartão vermelho.