sábado, 19 de maio de 2018

"O legado de Chávez e Maduro é a ruína da Venezuela", editorial de O Globo

A Venezuela volta às urnas amanhã, numa eleição com roteiro previamente definido e já denunciado como fraude por Brasil, Mercosul, Colômbia, Estados Unidos, União Europeia e ONU. Nunca antes na história desse país houve um pleito presidencial em piores condições políticas, econômicas e sociais.

Aliados de Nicolás Maduro, candidato à reeleição, detêm a hegemonia em todas as áreas do governo, das Forças Armadas e do Judiciário. Quando o eleitorado deu maioria à oposição na Assembleia Nacional, Maduro reagiu, criando um Legislativo paralelo — a Assembleia Constituinte, integralmente governista.

O regime instituído há 19 anos por Hugo Chávez tem sido sustentado por Maduro com meios similares aos do fascismo, no objetivo permanente de aniquilar a oposição.

O resultado está à vista. A “revolução” chavista resumiu-se à legitimação de uma cleptocracia que lucra na corrupção sobre os negócios governamentais e, também, no narcotráfico, atividade em que se envolveu parte das Forças Armadas, como mostram processos judiciais nas cortes de Miami, Washington, Nova York e das principais cidades europeias.

O projeto do “Socialismo do Século XXI”, nascido no jorro de petrodólares que irrigou as finanças de partidos, candidatos e ativistas acadêmicos em vários países — inclusive no Brasil, onde até escolas de samba tiveram um quinhão da tesouraria chavista —, resultou na Venezuela que está aí: com inflação acima de 13.000% neste ano, e queda de 45% no Produto Interno Bruto desde que Maduro assumiu, em 2013.

O legado da era Chávez-Maduro é a ruína, retratada pelas hordas de refugiados de uma crise que se agrava diariamente na escassez de alimentos, remédios, produtos de higiene, energia, água potável e combustível para transportes. Mais de meio milhão de venezuelanos fugiram para a Colômbia e cerca de 70 mil estão no Brasil.

Um fato novo e relevante poderá ajudar a acelerar o processo que as sanções econômicas e diplomáticas de Brasil, Mercosul, México, EUA e União Europeia começaram. Na semana passada, a estatal PDVSA perdeu seus ativos no Caribe para a petroleira Conoco-Phillips, por calote em dívidas bilionárias. O sequestro judicial inclui refinarias e portos que constituíam a principal artéria da PDVSA para os mercados dos EUA, da Índia, e dos principais credores do governo Maduro, Rússia e China. Significa asfixia na exportação da única commodity que sustenta o regime.

O desfecho pode não estar muito além do resultado das urnas amanhã. Brasil, Colômbia, México, EUA e União Europeia precisam começar a projetar o auxílio à reconstrução da Venezuela no cenário pós-Maduro. Para a cleptocracia sempre haverá espaço no banco dos réus no Tribunal Penal Internacional.