Glauce Cavalcanti e Roberta Scrivana, O Globo
Todas as atenções se voltaram neste fim de semana para o mais recente casamento da família real britânica, mas, no mundo corporativo, outro noivado tem alimentado expectativas nos últimos meses: a união entre a americana Boeing e a brasileira Embraer.
A combinação de negócios — cujas tratativas já estão avançadas — é o caminho mais curto para a Boeing garantir a manutenção da liderança global no mercado de aviões diante das perspectivas de crescimento da demanda do setor nas próximas duas décadas.
Relatório da própria gigante americana sobre o potencial do mercado mundial aponta que as companhias aéreas vão precisar de mais de 41 mil novas aeronaves até 2036, o que representaria US$ 6,1 trilhões em negócios.
Num segmento altamente concentrado, a Boeing adotou a estratégia de fazer “aquisições precisas” — como define o diretor executivo, Dennis Muilenburg — para ampliar a capacidade de produção e o seu portfólio. E a união com a Embraer se encaixa perfeitamente nesse plano. Os executivos da Boeing têm sido econômicos ao falar na negociação, mas, em comunicado, a empresa explica por que quer tanto levar a brasileira ao altar:
“Acreditamos que a combinação com a Embraer é uma situação de ganho mútuo que resultará em maior crescimento e oportunidade para ambas as empresas. Vemos forte valor estratégico e sinergia clara em diversas áreas”, diz um trecho da nota da Boeing, sempre destacando que a aquisição é estratégica, mas não “uma necessidade”.
Segundo uma fonte envolvida nas conversas, já se planeja uma mudança na forma como a negociação será apresentada ao mercado. O conselho da fabricante brasileira teria de anunciar sua posição primeiro, o que é esperado para os próximos dias. E só depois o governo daria seu aval à transação, diz a fonte.
MAIOR DEMANDA POR JATOS DE MÉDIO PORTE
A Embraer é a terceira maior fabricante de aviões do mundo, atrás de Boeing e da europeia Airbus, com 16 mil funcionários e receita próxima de US$ 6 bilhões em 2017. A centenária e gigante americana tem 140 mil colaboradores e sua receita bateu US$ 93,4 bilhões no ano passado. A diferença de porte entre as companhias não diminui o valor estratégico da Embraer para a Boeing no caminho para a americana assegurar uma fatia ainda maior da expansão do setor prevista até 2036.
Mais da metade dos 41 mil novos aviões a serem construídos estará no segmento de single-aisle (corredor único), com 29.530 aeronaves, o suficiente para movimentar US$ 3,18 trilhões. É o segmento onde a concorrência entre os fabricantes é mais acirrada.