sábado, 22 de abril de 2017

Odebrecht pagou R$ 500 mil a deputado para não ter Dirceu como inimigo, diz delator


O ex-presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Reis durante depoimento - Reprodução de vídeo

O Globo


Fernando Reis contou que foi designado para não deixar ex-ministro atrapalhar negócios da empresa


A Odebrecht pagou R$ 500 mil para não ter o ex-ministro José Dirceu como inimigo, segundo declarou o ex-presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Reis em depoimento à força-tarefa da Operação Lava-Jato. Os pagamentos teriam sido direcionados ao filho de Dirceu, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), nas campanhas de 2010 e 2014. Ambos os repasses foram feitos via caixa dois, disse Reis.

Zeca Dirceu é alvo de um inquérito instaurado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. O ex-executivo disse que Dirceu pediu que a Odebrecht apoiasse seu filho, mas não falou de valores. Segundo Reis, foram pagos R$ 250 mil em 2010 e R$ 250 mil em 2014. As doações foram registradas nas planilhas de contabilidade da empresa com o apelido “Guerrilheiro”.

— Apoiando o Zeca Dirceu, o que a gente buscava era não ter o José Dirceu como inimigo — declarou Reis.

— Mesmo fora do governo, a gente achava que ele podia causar dano, ainda tinha muita influência na máquina e podia causar dano, tinha seus tentáculos. Não me lembro de nenhum caso específico. Nós também, na linguagem popular, nunca passamos o recebido de que era esse o propósito.

DESIGNADO PARA ACOMPANHAR O EX-MINISTRO

O ex-executivo disse aos procuradores que foi designado para acompanhar o passos do ex-ministro em 2006, quando Dirceu prestava serviços de consultorias que poderiam atrapalhar negócios da Odebrecht na América Latina.

— Ele ficava oferecendo seus serviços a uma série de empresas concorrentes, brasileiras, nesses países da América Latina. Como se ele fosse um lobista para essas empresa. E vinha causando alguns constrangimentos, problemas para nossas operações fora. Ele ia à República Dominicana, e como tinha proximidade com aqueles governos, as próprias autoridades daqueles países ficavam na dúvida se ele era representante do governo ou se era pessoa física — declarou Reis.

De acordo com o delator, a aproximação tinha como objetivo saber os planos de viagem do ex-ministro. Em seguida, Reis procurava diretores da Odebrecht nos países que seriam visitados por Dirceu, que se incumbiam da tarefa de recebê-lo “para não deixá-lo solto de forma que pudesse ser destrutivo”.

DIRCEU TERIA INDICADO CANDIDATOS A PREFEITO

A relação entre Dirceu e Reis cresceu, e o ex-executivo da Odebrehct passou a procurar o ex-ministor em busca de informações sobre o cenário político nos municípios em que a Odebrecht tinha interesse em negócios. As informações prestadas por Reis constam de uma petição enviada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre a ex-prefeita de Angra dos Reis (RJ) Maria da Conceição Rabha (PT), que teria recebido repasses da Odebrecht após orientação de Dirceu. O caso foi remetido por Fachin à Justiça Federal do Rio.

Fernando Reis citou outros candidatos petitas do interior de São Paulo que teriam sido indicados por Dirceu: Sebastião Almeida, em Guarulhos, e José Antonio Bacchin, em Sumaré. A indicação de Conceição Rabha teria partido de Marcelo Sereno, ex-assessor de Dirceu na Casa Civil.

— Depois que percebeu meu interesse em questões municipais, ele gostava de atuar como um orientador: “Fernando acho que você poderia apoiar este, deveria apoiar aquele”. Mas, mesmo assim, não intermediava esse apoio — declarou o delator, que também afirmou que todas as doações não foram contabilizadas:

— Ele recomendava o candidato, nossa pessoa da região conversava com o candidato, voltava, nós aprovávamos o candidato, e o pagamento era feito, via caixa 2.

O ex-presidente da Odebrecht Ambiental contou ainda que não se sentia à vontade ao encontrar o ex-ministro em seu escritório em São Paulo:

— Eu avisava por celular que estava chegando. Era um lugar muito frequentado, e eu não gostava de ser visto por lá.

O GLOBO não conseguiu contato com a defesa de José Dirceu, com Zeca Dirceu e Conceição Rabha.

Ao G1, o deputado Zeca Dirceu afirmou, em nota, que nunca entrou em contato com as diretorias da Petrobras e as empresa investigadas pela Lava-Jato. Ele disse que não há provas que o liguem às empresas ou a qualquer tipo de ilegalidade. Declarou ainda que todas as doações que recebeu foram legais, declaradas e aprovadas pela Justiça eleitoral.