sexta-feira, 28 de abril de 2017

A tática rasteira da banca de Lula

A tática rasteira da banca de Lula
POWER POINT PETISTA Os advogados Cristiano Zanin (em pé) e Roberto Teixeira (sentado) defendem Lula das acusações de corrupção

A estratégia dos advogados de defesa do ex-presidente consiste em atacar a Justiça, adotar medidas protelatórias e negar tudo (tudo mesmo), só que sem contestar os fatos. Não tem dado muito certo


Roberto Teixeira é mais do que um advogado para o ex-presidente Lula. Em alguns crimes pelos quais Lula é acusado, como no recebimento de R$ 12,4 milhões da Odebrecht para a compra de um terreno para a nova sede do Instituto Lula e aquisição de duplex vizinho ao seu em São Bernardo, Teixeira é comparsa e também réu no processo ao lado de Lula. Em outros, como no sitio de Atibaia, o advogado é suspeito de ter forjado contratos para a aquisição e reforma do imóvel. Então, mais do que advogado, é cúmplice do ex-presidente. Há 40 anos, a relação dos dois é de compadrio. Assumiu também o papel de tutor de Lula, sendo seu bem-feitor, oferecendo-lhe pequenos favores pessoais, como moradia de graça, carro com motorista e outras coisas pouco republicanas. Para auxiliá-lo na defesa do ex-presidente, ele conta com a ajuda do genro, o também advogado Cristiano Zanin Martins, e suas duas filhas, as advogadas Valeska e Larissa. É com esse perfil de amizade indissolúvel que os advogados de Lula entram em campo para defendê-lo. A banca tem agido mais com o fígado do que com a cabeça. O time de advogados fiéis a Lula adota uma estratégia de defesa baseada num tripé tão surrado quanto elementar que consiste em: 1. Atacar a Justiça, em especial, o juiz Sergio Moro; 2. Tomar medidas protelatórias e 3. Negar tudo, mas sem contestar os fatos. Aliás, os fatos para eles são como o gol para Parreira: meros detalhes. Ao agir dessa forma, invertem papeis. Processam, por exemplo, o juiz Moro e procuradores, colocando Lula como vitima de um processo jurídico consistente, com abundância de provas e testemunhas. Chegaram ao cúmulo de pedir a prisão de Moro por abuso de autoridade, mas perderam, por óbvio. Trata-se de uma linha de defesa preventiva para o caso de uma apelação da sentença que Moro vier a dar.

O ápice da tática dos advogados de Lula será alcançada na audiência marcada pelo juiz Sergio Moro para tomar o depoimento do ex-presidente no caso do tríplex no Guarujá no próximo dia 10. Lula e seus advogados devem transformar a sala do magistrado num palanque eleitoral, dizendo-se perseguido, cerceado em sua defesa, acusado injustamente, sem que seus detratores tenham provas do que dizem, entre outras aleivosias do tipo. Ocorre que os fatos são cada vez mais eloquentes. Afinal, é o próprio dono da OAS, Léo Pinheiro, quem diz que o tríplex pertence a Lula e que tratou-se de uma contrapartida pelas propinas que a empresa recebeu de seus negócios escusos com a Petrobras no tempo em que ele era presidente da República e depois que deixou a cadeira, mas manteve a ascensão sobre o governo Dilma Rousseff. Lula refuta que o tríplex seja seu, mas não tem conseguido explicar o que fazia no apartamento ao lado de Léo Pinheiro durante as reformas, nas quais sua mulher Marisa Letícia pedia aos engenheiros da obra para que construíssem um elevador privativo no local, a fim de facilitar o deslocamento do casal pelo imóvel de três andares.
INVERSÃO DE PAPÉIS Lula parte para desqualificar Sergio Moro
INVERSÃO DE PAPÉIS Lula parte para desqualificar Sergio Moro (Crédito: Paulo Whitaker / Reuters) (Crédito:Sebastião Moreira/EFE; Paulo Whitaker/REUTERS)
Sem conseguir rebater as acusações de corrupção, os advogados pintaram Moro como um ser diabólico, perseguidor, inquisidor. Percebendo que não têm elementos para refutar as acusações do MPF, encampadas pelo juiz que transformou o ex-presidente em réu, os advogados do petista partem para o ataque. Em praticamente todas as audiências das quais participam com Moro, integrantes da banca de Lula, sem juízo, desrespeitam o juízo. No final do ano passado, chegaram a denunciar Moro à ONU, dizendo que este exercia o “lawfare” (perseguição jurídico-política). Lula ingressou na Justiça também contra o procurador Deltan Dallagnol, em razão da denúncia que ele fez contra o petista por corrupção. Lula chamou a denúncia de “Power-point” e pediu uma indenização de R$ 1 milhão. Não logrou êxito. Recentemente, amargou outra derrota nos tribunais: no processo em que pediu R$ 1,5 milhão do ex-senador Delcídio do Amaral. Contrariados por não verem seus conselhos atendidos, José Roberto Batochio, Juarez Cirino Santos e Nilo Batista, abandonaram a defesa do petista. Possivelmente também por terem perdido a esperança na absolvição do ex-presidente. Sobrou para a banca de compadres.
Embaraço à Justiça
Na segunda-feira 24, o ex-presidente voltou a entoar a velha cantilena: “Não sou de reclamar, mas ninguém agüenta. São quase 18 horas de Jornal Nacional tentando massacrar este pobre coitado que veio de Guaranhuns”, disse Lula durante um seminário do PT, em Brasília. No evento, o petista voltou a escancarar suas reais intenções, caso retorne ao Planalto: defenderá a regulamentação da mídia, um eufemismo para censura à grande mídia. “Vou dizer algumas verdades. Ser candidato para depois dizer que você tem que jantar com os Marinho, almoçar no Estadão? E a Veja você vai conversar? Não vou”, sapecou Lula.
Enquanto Lula repisa o velho refrão de alma mais honesta do planeta, os advogados tentam criar embaraços de toda ordem para postergar as decisões judiciais. Na ação em que o ex-presidente é acusado de corrupção ao receber a doação do terreno para o Instituto Lula e o duplex em São Bernardo, foram arroladas 87 testemunhas. Se o juiz ouvir uma por dia, sem considerar feriados e finais de semana, serão necessários quase cinco meses para conclusão do processo. A ideia é essa, obstruir a Justiça.
Na última segunda-feira 24, a tropa de choque de Lula ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) com pedido para que os dez termos de investigações contra Lula determinados pelo ministro Edson Fachin não sejam remetidos a Moro e sim à Justiça de Brasília ou de São Paulo. É a tal história: quem não deve, não teme. Neste caso, Lula teme não só por seu futuro político, cuja imagem já foi jogada na lata do lixo da história.
O ataque como defesa
Os advogados de Lula usam a estratégia futebolística para livrar o ex-presidente da prisão: a melhor defesa é o ataque
. Ataque à Justiça. Como não têm argumentos, os defensores de Lula procuram desqualificar o juiz Sergio Moro e os procuradores do MPF da Operação Lava Jato
. Medidas protelatórias. Os advogados de Lula adotam medidas protelatórias para dificultar o andamento processual, como o pedido de que o juiz Sergio Moro faça a inquirição de 87 testemunhas no caso em que o ex-presidente é acusado de ganhar um terreno para a nova sede do Instituto Lula e um duplex ao lado do seu em São Bernardo
. Negar tudo. A tática dos advogados é de negar todas as acusações, mesmo as mais evidentes e recheadas de provas, como no caso do triplex do Guarujá, mas sem conseguir contestar os fatos
. Inversão de papeis. Dessa forma, invertem papeis. Processam, por exemplo, o juiz Moro, procuradores e jornalistas, colocando Lula como vitima de um processo jurídico consistente, com abundância de provas
e testemunhas