sexta-feira, 28 de abril de 2017

Odebrecht entrega registro de condomínio onde mora para confirmar jantar com Aécio

Julia Affonso e Ricardo Brandt - O Estado de São Paulo

Empresário repassa à Lava Jato anotação em sua agenda pessoal do dia 26 de maio de 2014, quando teria acertado o repasse de R$ 500 mil mensais para bancar gastos de pré-campanha do tucano à Presidência


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O empresário Marcelo Odebrecht, um dos delatores do grupo que leva seu sobrenome, entregou à Operação Lava Jato documentos que tentam corroborar suas declarações ao Ministério Público Federal. Um deles é o registro da portaria do condomínio onde mora, em São Paulo, que aponta o número da placa do carro do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a entrada do veículo em 26 de maio de 2014, às 20h50.
Aécio é o presidente nacional do PSDB.
Marcelo Odebrecht é réu da Lava Jato e está preso desde 19 de junho de 2015, por ordem do juiz federal Sérgio Moro. O empreiteiro tenta confirmar um jantar, naquela data, no qual teria acertado com o tucano ‘pagamentos mensais para o PSDB’.
Segundo Marcelo Odebrecht, o encontro ocorreu ‘antes da campanha presidencial de Aécio Neves de 2014 se tornar oficial’.
“Pelo que me recordo foi no montante de R$ 500 mil, para bancar os gastos pré-campanha, sendo que coube a Benedicto Junior acertar os detalhes como estes pagamentos se dariam. Posteriormente, doamos de forma oficial para Aécio, por conta de sua campanha a presidente de 2014, aproximadamente R$ 5 milhões”, informou o executivo no anexo de sua delação premiada.
registrojantar
Odebrecht entregou ainda um registro do jantar lançado em sua agenda pessoal.
Em depoimento gravado pelo Ministério Público Federal, Odebrecht afirmou que ‘a primeira conversa’ que teve ‘para definir a questão de valores com Aécio, foi ainda pré-campanha’. Segundo o delator, ‘o PSDB e ele (Aécio) precisavam acertar’ os gastos pré-campanha.
“Eu acertei com ele um valor de gastos pré-campanha, entendeu? Depois, a gente tentou recuperar como foi operacionalizado, mas nem eu nem Júnior (Benedicto), a gente se lembra. Aparentemente, pode ter sido até por doação oficial ao PSDB ou por caixa 2. Mas foram para gastos pré-campanha, e a gente bancou assim durante 10 meses valores que eu…, mas foi algo entre… Mas aí é que está o detalhe, eu me lembrava que eram R$ 500 mil por mês por 10 meses e aí a gente só conseguiu achar… não consegue. Eram valores relevantes pré-campanha para 2014 e que foram operacionalizados ou pagos ao PSDB, antes da abertura do comitê dele, ou por caixa 2”, relatou.
Aécio Neves. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Aécio Neves. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
“Esse foi o valor que eu acertei com o Aécio, era um momento que não tinha aberto o comitê e o PSDB precisava disso para gastos pré-campanha, questão de pesquisa essas coisas todas. Depois a gente fez uma doação oficial a Aécio, num montante mais ou menos equivalente ao montante para Dilma (Rousseff), que era mais ou menos 5 milhões. Deve ter feito também alguma contribuição que eu não me lembro mais, por volta de 2, 3 milhões no Comitê do PSDB para ele. Do ponto de vista oficial, a gente equilibrou o valor de Aécio com o valor de Dilma.”
Os documentos entregues pelo empresário constam de um dos cinco inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), em decorrência da delação da Odebrecht.
Aécio foi citado nos depoimentos do herdeiro da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, do ex-diretor da empreiteira em Minas Sérgio Luiz Neves, de Benedicto Júnior, o ‘BJ’, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, do ex-vice presidente da Odebrecht S.A Henrique Serrano do Prado Valladares e de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais do grupo em Brasília.
COM A PALAVRA, O SENADOR AÉCIO NEVES
Ao Estado de S. Paulo
O senador Aécio Neves teve diversos encontros sociais com o sr. Marcelo Odebrecht, ao longo dos anos, como já amplamente informado, onde trataram de vários assuntos. Nos contatos ocorridos, ele jamais tratou de qualquer tema ilícito.
Em relação a campanhas eleitorais, o senador fez pedidos de apoio a diversas candidaturas. Sempre na condição de dirigente partidário e na forma da lei, nunca tendo havido qualquer solicitação ilícita, como atestou o próprio delator ao declarar que: “Aécio nunca teve uma conversa pra mim de pedir nada vinculado a nada”.
Sobre o registro de portaria enviado pelo jornal e que serviria para corroborar a delação do empresário, é importante notar que a data de 26 de maio de 2014 não possibilita a afirmativa feita na pergunta de que teriam sido acertados, neste dia, “pagamentos mensais para o PSDB, antes de a campanha presidencial ter se tornado oficial”.
Isso porque a campanha foi iniciada oficialmente um mês após a data de 26/05, o que, portanto, contradiz a afirmação feita na delação de supostos valores pagos durante dez meses de pré-campanha.
No depoimento, o empresário provavelmente se confundiu também ao se referir ao montante de R$ 5 milhões, uma vez que a doação da Odebrecht à campanha presidencial do PSDB foi bem superior, podendo o valor mencionado por ele ter sido na realidade somado pela empresa aos recursos doados oficialmente ao comitê eleitoral.
É importante registrar ainda que Marcelo Odebrecht, em seu depoimento ao TSE, afirmou que todas as doações feitas pela empresa à campanha presidencial do PSDB foram oficiais.
Assessoria do Senador Aécio Neves