sexta-feira, 28 de abril de 2017

"Você sabe por que está em greve?", por Raquel Landim

Folha de São Paulo


Gostaria de lançar um desafio aos milhares de trabalhadores de diversas categorias em greve nesta sexta-feira (28) por todo o país. Você sabe por que está em greve?

Respostas genéricas como "por justiça social" ou "contra o governo golpista" serão desconsideradas. Para isso, existem as manifestações de rua.

Embora as greves tenham inegável caráter político, até mesmo as paralisações de 1978, que ajudaram a derrubar a ditadura militar, tratavam inicialmente dos reajustes salariais dos trabalhadores.

Aqueles que fugirem das generalidades vão responder que estão em greve contra as reformas da previdência e trabalhista. Daí cabe aprofundar a pergunta: a quais pontos das reformas você é contra?

É preciso entrar no detalhe, porque não dá para negar que um sistema previdenciário com um rombo de R$ 305 bilhões e uma lei trabalhista criada 74 anos atrás precisam ser revistos.

A verdade é que as pessoas estão mal informadas sobre o que vem ocorrendo no Congresso, apesar do esforço da imprensa. Isso porque os dois principais atores desse processo —governo e sindicatos— colaboram para a confusão.

Nos materiais de divulgação da greve geral, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) convoca os trabalhadores a "reagir agora ou morrer trabalhando"—uma mentira já discutida nesse espaço.

A central diz ainda que o governo vai passar por cima da CLT e tirar todos os direitos trabalhistas, o que também não é verdade, porque a reforma não mexe no salário mínimo, no FGTS, no pagamento de férias remunerada ou no décimo terceiro.

Já o presidente Michel Temer, na ansiedade de justificar sua permanência no poder apesar das graves denúncias de corrupção contra seus auxiliares, vai empurrando as reformas a toque de caixa do jeito que dá.

A reforma da Previdência mudou tanto que está difícil acompanhar o que sobrou da proposta, enquanto a reforma trabalhista desperta razoáveis suspeitas sobre o comprometimento do governo com o empresariado, que apoiou abertamente o impeachment da ex-presidente Dilma.

Embora não mexa em direitos essenciais, a reforma trabalhista trata de questões delicadas, com a flexibilização da jornada de trabalho, o fim do imposto sindical e a preponderância do acordado sobre o legislado.

Todas essas mudanças podem ser muito positivas para as relações de trabalho e para a geração de empregos, mas, sem dúvida, deixam margem para que prevaleça a posição dos patrões se os sindicatos forem frágeis.

Resumindo: as reformas trabalhista e da previdenciária são muito complexas e importantes e o debate não deveria se resumir ao "flá-flu" em que se transformou a política brasileira.

O direito à greve é garantido pela Constituição e importantíssimo para democracia, mas também é fundamental saber o que se quer alcançar. Por isso, repito a pergunta do início desse texto: você sabe por que está em greve?