quarta-feira, 1 de março de 2017

Trump faz primeiro discurso no Congresso com agenda nacionalista


Trump faz primeiro discurso ao Congresso - Jim Lo Scalzo / AP

O Globo


Sem aplausos de democratas, presidente foca em guerra ao terrorismo islâmico, apoios fiscais e trabalhistas a setores mais pobres e erradicação do Obamacare


WASHINGTON - Sem aplausos de boa parte dos deputados e senadores democratas, o presidente Donald Trump defendeu em seu primeiro discurso ao Congresso dos EUA, nesta terça-feira, uma "visão otimista" e uma "agenda ousada" sobre reformas fiscais e de regulamentação, reformas trabalhistas e a erradicação ou substituição do programa federal de saúde conhecido como Obamacare — focando principalmente na classe média e de tom nacionalista. Por outro lado, defendeu uma postura de otimismo e união, após um turbulento primeiro mês de governo.

— Somos um país que se mantém unido em condenar o ódio em todas as formas — iniciou Trump, citando o mês da História negra e recentes ataques a cemitérios judeus e o assassinato de um indiano por um radical nacionalista.

Apesar do tom agressivo recorrente em seu primeiro mês de governo, Trump defendeu em 59 minutos uma postura conciliatória, convidando americanos "de todas as origens a se unirem a serviço de um futuro mais forte e mais brilhante".

— O tempo de pensar pequeno acabou. A era de lutas triviais passou — afirmou. — A partir de agora, os EUA serão fortalecidos por nossas aspirações, não sobrecarregado por nossos medos.

Como trunfo, Trump aproveita a maioria republicana tanto no Senado quanto na Câmara dos Representantes, o que tem aberto o caminho para a maioria de votações alinhadas com os interesses da Casa Branca.

— Meu trabalho nao é presentar o mundo, é representar os EUA.

COMBATE AO TERROR E MEDIDAS PARA REDUZIR IMPOSTOS

O presidente apoiou a "resolução de problemas reais para pessoas reais". Trump defendeu uma aproximação às "comunidades mais pobres e vulneráveis", além de políticas que ajudem a dar respostas aos desafios diários da classe média:

— Como podemos ter certeza de que todo americano que precisa de um bom trabalho pode obter um? Como podemos atrair crianças que em escolas que falham em ser uma escola melhor? — questionou. — Enquanto falamos, estamos removendo membros de gangues, traficantes e criminosos que ameaçam nossas comunidades e caçam nossos cidadãos. Os maus estão indo embora, como prometi.


Mulheres membros do Partido Democrata se recusaram a cumprimentar Trump - KEVIN LAMARQUE / REUTERS


Trump defendeu o apoio às controversas medidas migratórias, entre eles o muro na fronteira com o México, ações para favorecer a deportação de pessoas em situação irregular e políticas como o decreto que barrou temporariamente refugiados e cidadãos de sete países de maioria muçulmana antes de ter sido suspenso pela Justiça.

— Ao finalmente reforçarmos nossas leis migratórias, aumentaremos salários, ajudaremos os desempregados, economizaremos bilhões de dólares e tornaremos nossas comunidades mais seguras — afirmou, para aplausos enfáticos dos republicanos. — Os EUA não podem deixar uma frente de terrorismo se formar dentro do país. Não podemos permitir que nossa nação seja um santuário para extremistas.

Apesar de apelos de assessores, ele destacou o termo "terrorismo islâmico radical", prometendo "demolir e destruir" o Estado Islâmico — que "mata muçulmanos e cristãos".

— Trabalharemos com nosso aliados, inclusive nossos amigos e aliados no mundo islâmico, para extinguir este inimigo vil de nosso planeta.

No mesmo dia, o presidente surpreendeu ao cogitar um projeto de imigração detalhado que permita que imigrantes ilegais tenham um emprego e paguem impostos.

— É o momento certo para um projeto de lei de imigração, desde que haja um compromisso de ambos os lados — disse Trump a jornalistas de TV na Casa Branca.



Trump é cumprimentado ao chegar para discurso inaugural no Congresso - WIN MCNAMEE / AFP


O presidente destacou que estimulará reformas fiscais e regulatórias "históricas" para "dar alívio aos americanos trabalhadoras e as empresas americanas", além de trabalhar pelo aumento de salários e a melhora do ambiente de trabalho para os pais trabalhadores, além de estabelecer mecanismos de ajuda aos desempregados.

— Todos os americanos querem que seus filhos tenham acesso a boas escolas. E todos os americanos merecem bons empregos que lhes permitam prosperar e sonhar. Para muitas pessoas, os homens e mulheres esquecidos, esses desejos fundamentais estão fora de alcance há muito tempo.

Trump apoiou o "salvamento de famílias americanas do desastre" do Obamacare.
— Estou pedindo a este Congresso que rejeite e substitua o Obamacare com reformas que expandam a escolha, aumentem o acesso, diminuam custos e ao mesmo tempo forneçam um melhor tratamento de saúde.


Presidente do Senado, o vice de Trump, Mike Pence (esquerda), sorri junto ao presidente da Câmara, Paul Ryan - JONATHAN ERNST / REUTERS

Um dos destaques apresentados pelo presidente foi uma grande reconstrução das Forças Armadas americanas, ampliando os recursos para a Defesa em detrimento de áreas como meio ambiente, diplomacia e outras — além de destacar o compromisso para com Israel, em crítica ao Irã.


Por outro lado, ele defendeu o reforço do compromisso americano com a Otan, frente a ameaças de terrorismo, e a defesa da diplomacia sobre a guerra, mesmo com o significativo aumento militar:

— Esperamos que nossos parceiros, seja na Otan, no Oriente Médio ou no Pacífico, assumam um papel direto e significativo nas operações estratégicas e militares e paguem sua parte justa do custo. Respeitaremos as instituições históricas, mas também respeitaremos os direitos soberanos das nações — disse, voltando a defender uma reforma dos sistemas internacionais.

— Sabemos que os EUA estão melhores quando há menos conflito, não mais. Aprendemos com os erros do passado. Vimos a guerra e a destruição que irromperam pelo mundo. A única solução a longo prazo para estes desastres humanitários é criar as condições nas quais os deslocados possam retornar com segurança a suas casas e começar o longo processo de reconstrução. Os EUA estão dispostos a fazer novos amigos e forjar nossas parcerias onde nossos interesses em comum se alinharem.

 

Trump fala observado por seu vice, Mike Pence (esquerda), e Paul Ryan, presidente da Câmara - Pablo Martinez Monsivais / AP