Charles Sholl - 20.fev.2017/Futura Press/Folhapress | |
O presidente da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), Fábio Meirelles |
REYNALDO TUROLLO JR.
Folha de São Paulo
Folha de São Paulo
Sob o mesmo comando há quatro décadas, a Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo) vem sendo utilizada para atender aos interesses dos cinco filhos de seu presidente, Fábio Meirelles, 88, deputado federal pelo então PDS de 1991 a 1995.
Representante de empresários rurais do Estado, a Faesp é bancada principalmente pela contribuição sindical obrigatória. Em 2016, o repasse foi de R$ 16 milhões.
Meirelles comanda ainda o conselho do Senar-SP (Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural), mantido pelo chamado "sistema S", também sustentado com contribuições compulsórias recolhidas pelas empresas. O Senar-SP recebeu em 2015, segundo o Tribunal de Contas da União, R$ 119,3 milhões.
Procurada pela Folha, a Faesp não respondeu às perguntas da reportagem.
FAMÍLIA
Para fazer a cobrança administrativa de empresários e proprietários rurais que não pagaram a contribuição sindical espontaneamente, a Faesp contratou a empresa Connect, que pertence a uma filha do presidente da federação, Telma Meirelles.
O contrato entre a Faesp e a Connect, obtido pela Folha, mostra que desde 2001 a empresa recebe, para enviar as guias de cobrança, 15% do imposto dos contribuintes.
O percentual é superior ao que a Faesp paga a advogados para receber os atrasados pela via judicial (12,5%).
A Connect foi criada, conforme registro na Receita Federal, três meses antes de ser contratada, em endereço vizinho ao da federação.
Outra filha, Tânia, dona da RLZ Decorações, presta serviços ao condomínio em que fica a sede da Faesp, na região da praça da República, centro de São Paulo.
A Faesp ocupa quase todo o prédio e, por isso, banca a maior parte do condomínio. A federação não informou quanto Tânia ganha nem que serviços presta.
No apartamento dela, a 400 metros da sede da Faesp, uma das copeiras contratadas pela entidade trabalha no período da manhã.
Como verificou a Folha na quarta-feira (22), a funcionária chegou à Faesp antes das 8h. Às 9h27, após bater o ponto e vestir o uniforme, saiu e caminhou até o prédio em que Tânia mora, onde entrou às 9h32, permanecendo pelas horas seguintes.
Além da empresa de decorações, Tânia é dona desde 2013 da S.O.S. Sertanejo, firma que agencia shows do cantor Eduardo Araújo (ex-Jovem Guarda), contratado para eventos da Faesp e de sindicatos rurais.
CARGOS E INDICAÇÕES
Há outros sinais de mistura com interesses privados. Meirelles preside a federação desde 1975.
Em maio do ano passado, a Faesp firmou contrato de R$ 20 mil com o Iate Clube para alugar três salões de festa, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, para um "evento corporativo" –como consta do contrato de locação– em 10 de julho. Nessa data, Meirelles celebrou suas bodas de diamante no local.
No Senar-SP, um filho de Meirelles, Tarso, trabalha como supervisor desde 1995, com salário de R$ 17 mil.
Já o CNPC (Conselho Nacional da Pecuária de Corte) é presidido por Tirso, outro filho de Meirelles. O CNPC é independente, mas recebe repasses da Faesp, como um de R$ 500 mil para o período de julho a dezembro de 2016.
Um quinto filho de Meirelles, Fábio Filho, foi indicado em 2016 para representar a Faesp no Instituto Pensar Agropecuária (IPA), que fornece dados à bancada ruralista no Congresso. Neste ano, ele assumiu o comando do IPA.
Em São Paulo, quem atua pela Faesp junto de deputados da Assembleia Legislativa é um sobrinho de Meirelles, Roberto Meirelles Junior. Pelo contrato, obtido pela Folha, ele ganha R$ 15 mil por mês, além de verbas para deslocamentos e hospedagens.
A Faesp representa empresários rurais, médios e grandes proprietários paulistas, reunindo 237 sindicatos.
Neste ano, dois diretores, José João Auad Júnior e Angelo Benko, passaram a questionar a gestão Meirelles. O advogado de Benko, Ricardo Campos, pediu à Justiça que obrigue a gestão Meirelles a abrir os balanços financeiros. Nesta quarta (1º), obteve uma liminar favorável.
OUTRO LADO
Procurada na quinta (23) e na sexta (24), por meio de sua assessoria, a Faesp não respondeu às perguntas da reportagem. Inicialmente, a entidade solicitou mais um dia para enviar as informações. O prazo foi concedido.
Nesta quarta-feira (1º), a assessoria afirmou que não conseguiu contato com a presidência da Faesp, que entrou em recesso até a próxima segunda (6), e que não tinha as informações.
Representante de empresários rurais do Estado, a Faesp é bancada principalmente pela contribuição sindical obrigatória. Em 2016, o repasse foi de R$ 16 milhões.
Meirelles comanda ainda o conselho do Senar-SP (Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural), mantido pelo chamado "sistema S", também sustentado com contribuições compulsórias recolhidas pelas empresas. O Senar-SP recebeu em 2015, segundo o Tribunal de Contas da União, R$ 119,3 milhões.
Procurada pela Folha, a Faesp não respondeu às perguntas da reportagem.
FAMÍLIA
Para fazer a cobrança administrativa de empresários e proprietários rurais que não pagaram a contribuição sindical espontaneamente, a Faesp contratou a empresa Connect, que pertence a uma filha do presidente da federação, Telma Meirelles.
O contrato entre a Faesp e a Connect, obtido pela Folha, mostra que desde 2001 a empresa recebe, para enviar as guias de cobrança, 15% do imposto dos contribuintes.
O percentual é superior ao que a Faesp paga a advogados para receber os atrasados pela via judicial (12,5%).
A Connect foi criada, conforme registro na Receita Federal, três meses antes de ser contratada, em endereço vizinho ao da federação.
Outra filha, Tânia, dona da RLZ Decorações, presta serviços ao condomínio em que fica a sede da Faesp, na região da praça da República, centro de São Paulo.
A Faesp ocupa quase todo o prédio e, por isso, banca a maior parte do condomínio. A federação não informou quanto Tânia ganha nem que serviços presta.
No apartamento dela, a 400 metros da sede da Faesp, uma das copeiras contratadas pela entidade trabalha no período da manhã.
Como verificou a Folha na quarta-feira (22), a funcionária chegou à Faesp antes das 8h. Às 9h27, após bater o ponto e vestir o uniforme, saiu e caminhou até o prédio em que Tânia mora, onde entrou às 9h32, permanecendo pelas horas seguintes.
Além da empresa de decorações, Tânia é dona desde 2013 da S.O.S. Sertanejo, firma que agencia shows do cantor Eduardo Araújo (ex-Jovem Guarda), contratado para eventos da Faesp e de sindicatos rurais.
Danilo Verpa - 22.fev.2017/Folhapress | ||
Contratada pela Faesp, copeira chega ao prédio de filha de presidente da entidade, na quarta (22) |
CARGOS E INDICAÇÕES
Há outros sinais de mistura com interesses privados. Meirelles preside a federação desde 1975.
Em maio do ano passado, a Faesp firmou contrato de R$ 20 mil com o Iate Clube para alugar três salões de festa, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, para um "evento corporativo" –como consta do contrato de locação– em 10 de julho. Nessa data, Meirelles celebrou suas bodas de diamante no local.
No Senar-SP, um filho de Meirelles, Tarso, trabalha como supervisor desde 1995, com salário de R$ 17 mil.
Já o CNPC (Conselho Nacional da Pecuária de Corte) é presidido por Tirso, outro filho de Meirelles. O CNPC é independente, mas recebe repasses da Faesp, como um de R$ 500 mil para o período de julho a dezembro de 2016.
Um quinto filho de Meirelles, Fábio Filho, foi indicado em 2016 para representar a Faesp no Instituto Pensar Agropecuária (IPA), que fornece dados à bancada ruralista no Congresso. Neste ano, ele assumiu o comando do IPA.
Em São Paulo, quem atua pela Faesp junto de deputados da Assembleia Legislativa é um sobrinho de Meirelles, Roberto Meirelles Junior. Pelo contrato, obtido pela Folha, ele ganha R$ 15 mil por mês, além de verbas para deslocamentos e hospedagens.
A Faesp representa empresários rurais, médios e grandes proprietários paulistas, reunindo 237 sindicatos.
Neste ano, dois diretores, José João Auad Júnior e Angelo Benko, passaram a questionar a gestão Meirelles. O advogado de Benko, Ricardo Campos, pediu à Justiça que obrigue a gestão Meirelles a abrir os balanços financeiros. Nesta quarta (1º), obteve uma liminar favorável.
OUTRO LADO
Procurada na quinta (23) e na sexta (24), por meio de sua assessoria, a Faesp não respondeu às perguntas da reportagem. Inicialmente, a entidade solicitou mais um dia para enviar as informações. O prazo foi concedido.
Nesta quarta-feira (1º), a assessoria afirmou que não conseguiu contato com a presidência da Faesp, que entrou em recesso até a próxima segunda (6), e que não tinha as informações.