terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

"Novos contratos sociais"

Odemiro Fonseca - O Globo


Protecionismos comerciais e trabalhistas irão cortar mais empregos e consumo dos jovens que mais precisam, principalmente minorias



‘Os EUA precisam de um novo contrato social”, alertou o presidente Obama no seu discurso de despedida. “Não por causa da globalização. Por causa da automação”. É brutal o que a automação fez com o emprego industrial. Nos últimos 20 anos, o valor da produção industrial dos EUA, ajustado pela inflação, cresceu 40%. Mas o emprego industrial caiu 40%. Pesquisas indicam máximo de 13% devido à globalização.

O Brasil agoniza há tempos por novos contratos sociais. Nossa tempestade perfeita agudizou nosso foco. É intenso o momento das reformas. Mas dentro de nossa democracia política, onde o poder vive em simbiose com interesses especiais, as corporações são uma enorme força reacionária. Parafraseando Obama, “não só leis têm que mudar, corações também”.

É doloroso ver 40 milhões de brasileiros (sendo 40% dos jovens) sem emprego regular. Na Europa do Sul (Portugal, Espanha, Itália e Grécia), o desemprego geral e dos jovens é pior que no Brasil. Mas na Europa do Norte, o desemprego geral é menos de 5%, e o jovem, menos de 8%. A diferença está no realismo e na simplicidade dos contratos trabalhistas, na baixa carga fiscal sobre o trabalho e no baixo litígio sindical e laboral. A proteção dos trabalhadores no papel é enorme no Brasil e sul da Europa, mas intenções não garantem resultados.

O impacto da automação é desigual. As primeiras vítimas são proletários velhos e jovens de baixa renda e educação, que precisam complementar renda familiar e estudar. Quem oferece o primeiro trabalho para tais jovens são os setores de alimentação dentro e fora de casa, varejo e serviços auxiliares. O salário é pequeno, mas a flexibilidade é grande para horários de trabalho e estudo. É trabalho urbano que não pede experiência ou estudo, com aprendizado valioso.


O potencial de emprego é de uns 60 milhões nestes setores que empregam muito e vendem pouco. Mas manter ou aumentar o custo do trabalho com legislação bem-intencionada vai atrair automação. Quem duvida, recomenda-se visitar o McDonald’s na esquina da Terceira Avenida e Rua 58, em Nova York. O cliente pede numa tela o sanduíche de sua escolha. O sanduíche chega sem nenhuma interação humana.

Protecionismos comerciais e trabalhistas irão cortar mais empregos e consumo dos jovens que mais precisam, principalmente minorias. Precisamos de nova CLT, que empregue jovens. Nossa “política industrial” está agora na mira da OMC. Nossas taxas de investimento e produtividade do trabalho são sofríveis. Para os proletários velhos, complementação de renda e previdência. Mas para os jovens, liberdade para escolher como, onde, por quanto e que horas trabalhar, liberdade para escolher seu treinamento profissional e custo baixo para buscar a oportunidade onde ela estiver. A maioria absoluta de tais jovens não irá para a universidade e, se não completar dez anos de estudo e treinamento profissional, é melhor construirmos muitas prisões. A oferta de educação para tais jovens tem crescido espetacularmente. E temos que desfazer o viés pelo trabalho industrial, tão visível na CLT, no BNDES, na Fiesp.

Aquele proletário não alienado do Marx, que apertava parafusos de dia e tocava violino para a namorada à noite, não se materializou. Quem aperta parafusos hoje é robô. E no futuro, robôs inteligentes vão atender às nossas necessidades industriais e outras. E talvez nossas ansiedades, permitindo vivermos com programas de proteção social e estilos de vida muito gratificantes. Talvez então um jovem pianista de jazz e sua namorada aspirante a atriz possam facilmente materializar seus sonhos.

Odemiro Fonseca é empresário