domingo, 13 de março de 2016

"Liderança aviltada", editorial da Folha de São Paulo

Enquanto o poder presidencial fibrila como coração à beira do colapso, o desespero para reanimá-lo ameaça fulminar a intenção de reformar a Previdência, raro acerto na extensa lista de erros do governo Dilma Rousseff (PT).

Ministros ligados ao ex-presidente Lula (PT) aconselharam a mandatária a postergar a apresentação do projeto ao Congresso, antes programada para o final de abril. Argumentam que isso asseguraria coesão da base aliada para enfrentar a batalha do impeachment na Câmara dos Deputados.

Na sexta (11), Dilma aderiu à corrente procrastinatória. Evitou comprometer-se com prazos para levar a proposta aos legisladores. Alegou dificuldades políticas para a aceitação das mudanças.

Atitudes como essa reforçam a imagem da presidente como figura pública liliputiana. Prisioneira voluntária de um labirinto de escolhas aviltadas, Dilma parece não enxergar o dano que seu apequenamento provoca no país.

A esta altura, conhecidos os números do estrago econômico de 2015 e divisado um novo calvário para a renda e o emprego de milhões de brasileiros neste ano, já deveria estar claro para a petista que somente uma mudança drástica e tempestiva da administração federal, no rumo majoritário e reformista, poderá atenuar a queda e abreviar a reversão desse quadro terrível de recessão.

Dilma Rousseff, no entanto, insiste em jogar a partida dos minoritários, apenas em busca, na Câmara, dos 171 votos suficientes para livrar o seu pescoço da guilhotina.

Talvez ainda haja tempo de a presidente liderar a única reação capaz de salvar ao mesmo tempo seu governo e sua biografia. Ela passa pela adesão imediata e definitiva à agenda de reformas, entre elas a da Previdência, que podem colocar de volta nos trilhos um país que descarrila.

Os gastos previdenciários hoje consomem 12% do que se produz no Brasil todo ano –uma enormidade para o seu estágio de desenvolvimento e para o padrão ainda relativamente jovem da população brasileira. Projeções indicam que, se nada for feito, essa cifra chegará a 20% ao completar-se o amadurecimento demográfico nacional.

É preciso, entre outras medidas, elevar paulatinamente a idade média em que as pessoas se aposentam, hoje de 55 anos. Deslocá-la para os 65 anos no prazo de uma década, por exemplo, seria compatível com os avanços na duração e na qualidade da vida no Brasil.

Dilma Rousseff poderá ser lembrada no futuro como a presidente que ao menos tentou evitar um conflito geracional pela renda de proporções ciclópicas. Ou será esquecida na poeira da história.