Brasília pirou de vez, antes da hora da malhação e queima de Judas, por todo o País neste sábado de Aleluia, 26 de março. Vejam por exemplo, para começar, o caso do novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, mais um integrante do Ministério Público recrutado às pressas para ocupar o lugar do Procurador baiano Wellington Cesar Lima e Silva, “o breve” (como está sendo chamado, de volta à terrinha). Mal chegou a esquentar a cadeira de um dos mais importantes ministérios da República no Brasil – hierárquica e historicamente falando.
Nascido no Rio de Janeiro, em 7 de maio de 1959, o carioca Eugênio José Guilherme de Aragão, chegou ao primeiro escalão do governo petista, mais parecendo, mal (ou bem?) comparando, com aquele personagem retratado com genial precisão e ironia, no poema “Gaúcho”, do magnífico versejador pernambucano Ascenso Ferreira .
Faço aqui um breve hiato, em razão da necessidade de contextualizar os fatos, obedecendo a antiga e sábia recomendação do mestre da teoria e prática do jornalismo impresso (seis vezes ganhador do Prêmio Esso), Juarez Bahia, Editor Nacional do Jornal do Brasil, no tempo em que eu chefiava a redação do diário na Bahia, e com frequência caminhava pela monumental sede do JB na Avenida Brasil, me batendo com monstros sagrados da arte de escrever e comentar notícias.Não cito nomes porque a lista é imensa e tomaria , com sobras ainda, todo o espaço deste artigo.
O fato que importa mesmo é que, na época, nas minhas constantes idas e vindas ao Uruguai - nos anos da ditadura - , escutei inumeras vezes o poema de Ascenso ser declamado pelo bravo e íncorruptível coronel Dagoberto Rodrigues ( que dirigia os Correios e Telegrafos, uma espécie de estratégico Ministério das Comunicações do g=Governo deposto de João Goulart.
A presença corajosamente digna e sábia (mas modesta, tranqüila e inabalavelmente democrática) de Dagoberto, pontificava no Café tradicional da Avenida 18 de Julio, em volta da mesa repleta de exilados. Vários deles (principalmente os nascidos nos pampas, no estado brasileiro vizinho do outro lado da fronteira) saudosos e cheios de vã valentia. Bradavam contra o regime instalado no Brasil e prometiam retornar "derrotando os ditadores” na semana seguinte.
O coronel então começava a declamar baixinho, ao seu jeito e tom sempre marcado pela simplicidade, mas envolvente e cheio de sabedoria crítica e bom humor que ele jamais perdeu, mesmo nas horas mais amargas do exílio, longe do seu Rio de Janeiro amado, onde morreria de enfarte fulminante. O coração imenso e generoso explodiu poucos dias depois dele ter retornado de seu exílio uruguaio. Na véspera de tomar posse, no cargo de diretor da Empresa Gráfica do Rio de Janeiro, nomeado pelo companheiro de exílio, Leonel Brizola, que acabara de ser eleito governador.
Diante da posse de Eugênio Aragão, da sua primeira entrevista ao jornal Folha de São Paulo, e das suas primeiras bravatas no governo em completo desmonte, desalinho, desarvorado e que mal consegue se segurar nas pernas, lembro com emoção de Dagoberto Rodrigues declamando no Café dos exilados em Montevidéu: "Riscando os cavalos/ Tinindo as esporas!/Través das cochilhas!/- Para que?-Para nada!”.
Grande Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira, poeta maior de Palmares. Imenso coronel Dagoberto Rodrigues. Os dois que agora me ajudam com seus versos e suas atitudes exemplares, a escrever na Sexta-Feira Santa - para publicação neste sábado de malhação de Judas - sobre um país que se desguiou, mas tenta nas ruas reencontrar os seus caminhos de redenção, para usar termos e imagens apropriados a estes dias de fim de Quaresma.
Um governo e um país afundados nas profundezas da corrupção, fruto podre do trágico conluiu publico e privado. Castelo de cartas, mentiras e falsidades, construído, nos último 14 anos, sobre alicerce de areia. Agora, prestes a desmoronar, enquanto seus desatrados engenheiros e cúmplices tentam segurar, na base de mais improvisos, promessa de novas mágicas mas, principalmente, de mais maquinações praticadas nas sombras (o alerta é do bravo juiz Sérgio Moro, da Lava Jato).
Ou de ameaças que não podem ser levadas a sério, do tipo das que o novo ministro da Justiça (um dos defensores históricos do que está aí e de seus principais artífices). Igualmente não se segura de pé o novo discurso "da mandatária Dilma Rousseff, inaugurado na frustrada cerimônia de posse do ex-presidente Lula, no pretendido comando da Casa Civil. Ato, cada dia mais evidente, de fuga desesperada e desastrada para dentro do Palácio do Planalto, onde a crise e seus temores se instalaram de vez. A Casa Civil, sem Lula e sem Wagner (este transformado em ministro de terceira categoria) virou um monstro de muitas cabeças, que agora assombra ainda mais a sede do governo petista e seus ocupantes.
No desespero da hora, em seu discurso sob nova orientação (sabe-se lá de quem, mas que parece não ser do marqueteiro Duda Mendonça, como se chegou a suspeitar a princípio pelas ligações com Wagner) a presidente em risco apelou feio. Além do novo bordão petista "não vai ter golpe”, a mandatária esqueceu do padrinho Lula, preferindo lembrar da antiga admiração que sempre teve pelo governador Leonel Brizola". Anunciou até a restauração da história "Cadeia da Legalidade”, através da qual o bravo e acreditado líder político do Rio Grande do Sul galvanizou e mobilizou o País em defesa da posse do vice-presidente João Goulart, quando da renúncia de Janio Quadros.
É tarde para a atual mandatária. Movimentos nacionais como o de Leonel Brizola, exigem líderes não só corajosos de verdade. Mas comandante político de princípios éticos e, principalmente, de grande credibilidade. Tudo o que parece faltar a Dilma nesta hora de desvario e desastre cada vez mais próximo.
Se vivo estivesse, Dagoberto Rodrigues começaria a declamar os versos famosos do poeta pernambucano, diante das bravatas atuais da mandatária e seu padrinho, aparentemente em pânico: - “Para que? – Pra nada!”.