quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Agência de classificação Fitch tira selo de bom pagador do Brasil de Dilma ´trambique`


Alex Almeida - 5.out.2008/Folhapress
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Índices de empresas brasileiras em painel na Bovespa, em São Paulo (SP); enquanto o PIB, caiu 1,7% no terceiro trimestre deste ano, na comparação aos três meses imediatamente anteriores, os investimentos tiveram queda de 4%. Leia mais


Folha de São Paulo

A agência de classificação de risco Fitch retirou nesta quarta-feira (16) o selo de bom pagador do Brasil. Agora, o país é considerado grau especulativo por duas agências —além da Fitch, a Standard & Poor's já tinha cortado a nota brasileira em setembro.

A nota do país foi cortada de BBB- para BB+. A perspectiva permanece negativa, o que significa que a Fitch pode voltar a rebaixar o Brasil nos próximos meses.

Em comunicado, a Fitch cita a recessão mais profunda do que o previsto e a dificuldade que o quadro fiscal e o aumento das incertezas políticas trazem à capacidade do governo de estabilizar a dívida.

"A perspectiva negativa reflete incerteza contínua e riscos relacionados aos desenvolvimentos econômicos, fiscais e políticos. A deterioração do cenário doméstico está aumentando os desafios para as autoridades tomarem ações políticas de correção oportunas para elevar a confiança e melhorar as perspectivas para o crescimento, consolidação fiscal e estabilização da dívida", afirma o comunicado.

A decisão ocorre um dia após o governo enviar ao Congresso uma proposta de redução da meta fiscal de 0,7% para 0,5% do PIB em 2016, com a possibilidade de abater gastos com investimentos desse percentual. Na prática, isso permitirá que o superavit primário (receitas menos despesas) seja equivalente a zero no ano que vem.

O rebaixamento por duas agências de classificação de risco significa retirada de recursos investidos no Brasil, já que parte dos grandes fundos de investimento exige o selo de pelo menos duas agências para manter suas aplicações.

A Fitch já havia cortado a nota de crédito do Brasil em outubro, citando o maior endividamento do governo, além do aumento dos desafios para a consolidação fiscal e a piora da perspectiva de crescimento econômico.

O anúncio fez o dólar intensificar sua valorização em relação ao real nesta quarta-feira. Às 12h49, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha avanço de 1,47%, para R$ 3,951. O dólar comercial, usado no comércio exterior, subia 1,93%, para R$ 3,950. Na máxima, ambos atingiram R$ 3,967.

Em resposta ao corte, o Ministério da Fazenda divulgou comunicado ressaltando a "confiança na capacidade da economia brasileira de retomar um ciclo de crescimento".

"Apesar dos indicadores de curto prazo e da incerteza atual, a economia brasileira tem fundamentos positivos e sólidos", indica a nota. "Confiante nos fundamentos da economia, o governo brasileiro e o Ministério da Fazenda estão engajados em atacar os desequilíbrios fiscais existentes, buscando um orçamento 2016 robusto que proporcione sustentabilidade à dívida pública, confiança ao mercado e tranquilidade às famílias".

O rebaixamento ocorre uma semana depois de a agência Moody's colocar a nota do país em revisão para rebaixamento. A Moody's rebaixou o país em agosto, colocando-o no último nível do grau de investimento -atestado de que é um bom pagador de suas dívidas.

Em setembro, a agência S&P já havia colocado a nota do Brasil em grau especulativo, questionando o comprometimento e coesão do governo para arrumar as contas públicas.

A S&P foi a primeira agência de classificação de risco a elevar o Brasil ao chamado grau de investimento, em abril de 2008, no segundo mandato do presidente Lula. Depois, Fitch (maio de 2008) e Moody´s (setembro de 2009) também deram a mesma chancela ao Brasil.


O selo de bom pagador, que é um reconhecimento de que o país é um lugar seguro para os investidores, costuma ser exigido por fundos de investimento e de pensão bilionários para aplicar em títulos de dívida de governos. Normalmente, pedem que a aplicação seja considerada grau de investimento por, pelo menos, duas das grandes agências.

Além disso, quanto melhor a classificação, menor o custo da dívida para o país.


O grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro -ou seja, com baixo risco de calote.

As três agências risco de maior visibilidade no mundo são a Standard & Poor's, a Moody's e a Fitch Ratings.

E EU COM ISSO? A NOTA E SEU BOLSO

1 O que é a nota de risco?

Uma avaliação da capacidade de países ou empresas para pagar suas dívidas

2 Quem faz a avaliação?

As chamadas agências de rating. As três principais são a S&P, a Moody's e a Fitch

3 Quais os critérios de avaliação?

O principal, no caso de um país, é o estado das contas públicas, ou seja, se o governo conseguirá manter seus gastos menores que as receitas para permitir o pagamento dos empréstimos

4 Qual a situação do Brasil?

O país deve fechar o ano com rombo nas contas públicas pela segunda vez consecutiva. A dívida pública brasileira, como porcentagem do PIB, é crescente

5 Como estão as notas de risco brasileiras?

A agência S&P já havia tirado do Brasil em setembro o grau de investimento (selo de bom pagador), colocando o país no grupo de países com grau especulativo (mais risco de calote). A Moody's colocou a nota do país em revisão para possível rebaixamento

6 Por que a Moody's vai revisar a nota?

A agência afirmou que as condições econômicas e a governabilidade pioraram rapidamente, o que reduz a capacidade de o governo poupar para pagar sua dívida

7 Isso quer dizer que o país perderá o grau de investimento?

Para manter a nota, seria preciso haver no curto prazo evidências de que o PIB brasileiro possa crescer cerca de 2% em 2016 e o país consiga poupar 2% do PIB para pagar suas dívidas. As duas premissas são muito improváveis

8 Qual o problema de perder o grau de investimento?

  • Quanto mais baixa a nota de um país ou empresa, mais altos são os juros exigidos pelos credores para conceder crédito
  • Como consequência do aumento dos juros e da saída de investidores, a recessão se agrava, a dívida tende a subir e o dólar fica ainda mais caro, pressionando a inflação