quarta-feira, 1 de julho de 2015

Dilma, Lula e o assalto da realidade

Com Blog do Caio Blinder - Veja


Dilma e Obama em Washington...
Dilma e Obama em Washington…
O Brasil, em que as palavras frequentes esta semana são do noticiário policial como delação e extorsão, me inspirou para cravar o título da coluna desta quarta-feira. A viagem da presidente Dilma Rousseff aos EUA é um flagrante (opa, outra palavra policial) do assalto da realidade da qual ela foi vítima.
Para ficar preso nas conclusões insuspeitas, este é um governo agora desesperado para atrair investidores estrangeiros depois dos crimes econômicos que praticou e das mentiras disparadas na campanha eleitoral de 2014. Dilma agora se curva às elites neoliberais que achincalhava no ano passado. Acabaram as bravatas sobre as lições que o Brasil emergente pode dar ao decadentes impérios.
A visita de Dilma a Washington não selou acordos espetaculares, mas revigora o relacionamento com o tradicional parceiro americano e sinaliza o empenho brasileiro para liberalizar sua política comercial e de investimentos. Existe uma ironia que Dilma, tão indignada com a espionagem americana que a levou a cancelar a visita de Estado em 2013, agora seja consolada pelas palavras charmosas de Barack Obama. Imagine, o presidente americano disse confiar “completamente” em Dilma. Os americanos também estão interessados em revigorar as relações, embora com menos ansiedade do que os brasileiros.
Existe esta sofreguidão pragmática do governo brasileiro, não apenas para atrair investidores, especialmente em infraestrutura, mas para convencê-los que o país é maior e mais sólido do que a República do Pixuleco. Nas conversas com investidores em Nova York e Washington, havia a blitz retórica de que o ajuste fiscal é para valer, que uma nova Petrobras vai jorrar do fundo do mar de lama e que os escândalos não devem impedir o país de manter o seu grau de investimento.
***
Dia enrolado para ler com atenção os comentários. Então colher de chá para o título que Mr. Blinder deu para a coluna.

e Lula com Renan em Brasília
…e Lula com Renan em Brasília
Falando em grau de investimento, meus gurus da empresa de consultoria de risco Eurasia dão o devido valor para a visita de Dilma. O essencial não está no quantitativo, mas na mudança de visão. Os agudos problemas domésticos forçam o governo a adotar uma política externa (em política e em economia) menos “ancorada” nos princípios da era Lula, como a cooperação Sul-Sul e o distanciamento dos EUA em favor de regimes esquerdistas e/ou deliquentes. Claro que existe uma ironia em tudo isso. Afinal, o governo Obama normalizou as relações com Cuba e busca um acordo nuclear com o Irã.
O pessoal da Eurasia vai longe, avaliando que mesmo o setor privado brasileiro, um tradicional defensor do protecionismo, se tornou crescentemente favorável ao livre comércio. E aqui está outra ironia do lado americano. Obama agora colide com os setores protecionistas do seu Partido Democrata para batalhar por acordos de livre comércio no Pacífico e na Europa.
Um assalto da realidade sempre é saudável.  Pena que no Brasil continue sendo um caso de polícia, em tantos sentidos.