Isabel Braga - O Globo
Presidente da Câmara disse que decisão é pessoal, mas vai defender que PMDB faça o mesmo

Alegando ser alvo de perseguição, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou o rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff em coletiva de imprensa nesta sexta-feira. Aos jornalistas, ele disse estar convicto da participação de "um bando de aloprados do Planalto" na ação "persecutória" do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para conseguir elementos que permitam a denúncia contra ele no processo da Lava-Jato. Por isso, justificou Cunha, como político e deputado do PMDB, anunciou seu rompimento formal com o governo de Dilma Rousseff. Segundo Cunha, o governo também autorizou, no último dia 23 de junho, uma devassa fiscal em suas contas. Veja como foi a entrevista coletiva ponto a ponto.
— Não vou aceitar que me arrastem para a lama. Os tesoureiros do PT estão presos, não vou aceitar estar junto dessa lama. Por essa razão, me considero rompido com o governo, mas como presidente da Câmara não vou conduzir palanque, vou pautar as matérias normalmente. Não sou incendiário da economia do país. O impeachment, sempre defendi e mantenho, se dá na forma da Constituição Federal — disse Cunha.
O presidente da Câmara disse que já comunicou sua decisão ao vice-presidente da República, Michel Temer, e também ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e que os dois respeitam sua decisão. Cunha afirmou ainda que seu rompimento é com o governo, mas não com Temer, e cobrou que o vice-presidente deixe imediatamente a coordenação política do governo. O peemedebista também defendeu que o seu partido rompa com o PT.
— Eu vou tentar que meu partido vá para a oposição — declarou.
No caso da devasse fiscal em suas nas contas, Cunha explicou que o governo abriu procedimento contra ele, no último dia 23 de junho, na Delegacia de Maiores Contribuintes do Brasil em Belo Horizonte (MG).
— O tipo de devasse fiscal nas contas dos últimos cinco anos não é normal. É constrangimento a um chefe de poder, não dá para aceitar. A devassa fiscal eu já tinha comunicado ao governo — disse Cunha.
MORO
Eduardo Cunha criticou o fato de o juiz Sérgio Moro ter ouvido o consultor Júlio Camargo que neste último depoimento acusou-o de pedir US$ 5 milhões em propina. Segundo Cunha, Moro não poderia ter conduzido o processo pois ele, como deputado, tem foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF).
— O juiz violou o procedimento no qual tenho foro privilegiado. Meu advogados entrarão com uma reclamação para que o processo venha para o STF. O juiz acha que é o dono do país. Já que estou sendo acusado, que o processo venha para o STF — disse Cunha, acrescentando que o fato de as acusações teriam sido feitas em depoimentos colhidos por Moro podem torná-las nulas.
ABERTURA DE INQUÉRITO CONTRA OUTROS PETISTAS
Segundo Cunha, a atuação do Ministério Público e do procurador tem sido seletiva e nenhum dos petistas mais importantes foram denunciados pelo procurador, apesar de delatores já terem citados os nomes deles e inclusive da presidente Dilma Rousseff.
— A atuação do MP tem sido seletiva. Nas cadas do PT não houve busca e apreensão. Por que ele não abriu contra o Mercadante (mnistro Aloizio), contra o Delcídio (senador Delcídio Amaral ), a presidente Dilma? No PT, todos os envolvidos estão incólumes. Não estou atribuindo culpa ao Mercadante, à presidente Dilma, não dou razão ao delator, acho até que são inocentes, mas o que quero mostrar é que o procedimento é diferente em relação a eles e a mim — disse Cunha.
Para Cunha, a "orquestração" contra ele tem a participação do governo e Janot, que quer ser conduzido, age "à serviço do governo". O presidente da Câmara disse que Janot age com "ânimo persecutório" contra ele, tentando desarquivar e compartilhar de informações de ações contra Cunha na Justiça.
— É uma orquestração na véspera do dia em que eu farei o pronunciamento à nação (sobre o semestre da Câmara). É uma operação política do PT, do governo e do Ministério Público que protege os do PT.